Petrobrás: não era mesmo por 0,20 centavos, por Armando R. Coelho Neto


Petrobrás: não era mesmo por 0,20 centavos
por Armando R. Coelho Neto

O clima é de duplicata vencendo. Vale tudo para honrá-la, até mesmo um golpe de Estado. O tio Sam aguarda ansioso todo o investimento feito em seus procuradores, hoje vistos como incompetentes, após quatro derrotas eleitorais. Apesar de todo o dinheiro e de ter os maiores veículos de comunicação em mãos, com todas as artimanhas jurídicas... nada, até agora.
Não sei bem se é assim, mas é como se fosse e talvez até nem seja. Não faço parte da dita “grande mídia” e por essa razão não tenho imunidade para acusar sem provas. Portanto, tudo não passa de especulação minha.
Em clima de duplicata vencendo, repita-se, surge mais uma lenda, a de que um “acordão” entre o Palácio do Planalto e o PSDB resultou no fim da exclusividade da Petrobras no pré-sal.
Fábulas à parte, vamos ao fato concreto. Por 40 votos a favor e 26 contrários, o Senado Federal aprovou, no dia 24/02/2016, o PLS 131/2015, de autoria do senador José Serra (PSDB-SP), que desobriga a Petrobras de ser a operadora única e ter participação mínima de 30% na exploração da camada do pré-sal.
Do lado do Serra, cumpriu-se mais uma escrita dele e de seu partido, agregando ao currículo mais uma estatueta da série “grandes vendedores do Brasil”. Vendem tudo e não se sabe sob a perspectiva nacionalista dele e de seus aliados, por quanto tempo ainda a Amazônia continuará sendo dos brasileiros. Se é que ainda o é.
Voltando no tempo, com a liberdade da tal licença poética, deparo-me com as cenas de horror das denominadas “Jornadas de Junho” (2013), quando, entre as dúvidas surgidas a mais contundente era sobre quem estaria financiando tão “espontâneos” protestos. De tão artificial a manifestação tornou-se absurdamente natural, ao ponto de conseguir agregar reivindicações dispares, inquietações de todos os matizes. Uns gritavam contra o rebaixamento de Plutão, outros queriam a volta do seriado Bonanza e veio aborto, homossexualismo, liberação da maconha, até desaguar no fora PT, fora Dilma, intervenção militar, não necessariamente nessa ordem.
Na dúvida sobre quem estaria por trás dos “espontâneos” protestos, dois dias antes da abertura da Copa do Mundo (2014), ninguém mais que o candidato derrotado Aécio Neves (PSDB), ingressou com uma medida no Supremo Tribunal Federal pedindo o direito de que os protestos pudessem acontecer dentro dos estádios. Como não conseguiu, a “elite branca”, impedida de entrar com panelas no Itaquerão, teve que se contentar com palavras de baixo calão e lavar a alma com uma sonora vaia à Presidência da República.
Pois bem. Em clima de duplicata vencendo, o mote dos protestos era “Não é por 0,20 centavos”.
Foi quando lá pras tantas surge uma velhinha atrevida na multidão que exibiu a sua plaquinha:
- “Não é por 0,20 centavos! É por 20 milhões de barris de petróleo”.
Ninguém ou poucos se deram conta dos gritos roucos ou da tabuletazinha da inocente anciã.
Como conversa puxa conversa, eclode o “Petrobrás Gate” e o empresário Ricardo Semler escreveu na Folha de S. Paulo a célebre frase: “Nunca se roubou tão pouco”. Vinda de um missionário tucano, a fala causou perplexidade entre correligionários. Mas, no fundo, ele estava indiretamente sintonizado com a tal velhinha. Teria ele ligado o desconfiômetro?
Ao clima de duplicata vencendo somou-se a tal “sincronicidade” (Carl Gustav Jung), contexto no qual internautas resgataram a memória de Paulo Francis, polêmico jornalista, que na era Fernando Henrique Cardoso, tentou abrir (sem provas) a sarjeta da Petrobrás. Não deu em nada, a cúpula da empresa processou o jornalista nos Estados Unidos, e Francis foi condenado ao pagamento de uma multa impagável - fato que o teria levado à angústia, depressão e morte.
Pois bem, leitor. Em clima de duplicata e Jung, em que pese a eficiência, a Polícia Federal está no nebuloso campo das investigações da Petrobrás e ao que tudo indica de forma ainda rasa (talvez até sem querer), sem tempo de arrepender-se não haver dado tanta importância às denúncias feitas por Paulo Francis (1999) ou a Hermes Magnus (2008), então sócio do falecido empresário José Janene.
Hoje, eficiente e zelosa como nunca (sem ironias), a PF parece desconectada da placa da velhinha do protesto de 2013 e deve estar meio que ressabiada por não conseguir reverter o passado ou ampliar o foco. O que não impede que qualquer academia de polícia do mundo queira ter um modelito em seus arquivos.
Lendas à parte, no dia 24 de fevereiro, acuada, a presidenta Dilma Rousseff cedeu e a Petrobrás já não é “tão nossa assim”. Agora apanha até de seus aliados. Por que? Quem sabe José Serra, Aécio Neves e outros possam explicar melhor essa história.
A Presidenta sabe onde dói e de qualquer modo, alguém já disse ser muito fácil criticar o ângulo de uma foto quando se desconhece o abismo existente atrás do fotógrafo.
Isto posto, uma análise conjuntural dos fatos só nos endereça a conclusão de que os protestos de 2013 não foram mesmo por 0,20 centavos, mas sim por 20 milhões de barris de petróleo e a duplicata parece estar vencendo.
Armando Rodrigues Coelho Neto - Delegado de Polícia Federal aposentado e jornalista, ex-representante da Interpol em São Paulo