sábado, 11 de junho de 2016

PETROBRAS - "Entregar o pré-sal é mais do que lesa-pátria"

Por Leonardo Attuch, Tereza Cruvinel e Paulo Moreira Leite
Na quinta e última parte de sua entrevista exclusiva ao 247, a presidente eleita Dilma Rousseff também tratou de temas como a abertura do pré-sal, que ela qualificou como "burrice" e "crime de lesa-pátria", e dos Jogos Olímpicos de 2016, que, segundo ela, serão um sucesso, apesar da desordem política que se instalou no Brasil.
Ela também falou de sua relação com o ex-presidente Lula e do convite que fez para que ele assumisse a Casa Civil, um dia depois de manifestações contra seu governo. Confira abaixo:
247 – A senhora considera um acerto ter convidado o ex-presidente Lula para a Casa Civil um dia depois dos protestos de 13 de março?
Dilma Rousseff – Essa é uma decisão da qual eu não me arrependo nenhum milímetro. Erro foi não deixarem ele assumir o cargo para o nosso governo. Hoje, esse governo interino tem vários ministros investigados e ninguém fala nada. Achar que o convite ao Lula contribuiu para o meu afastamento é um erro de avaliação. Assim como é um erro achar que esse golpe foi tramado pelos Estados Unidos, como muitos me questionam.
247 – Não há mesmo o dedo dos Estados Unidos no impeachment?
Dilma – Não é necessário o dedo dos Estados Unidos. A sociedade brasileira foi capaz de cometer essa tolice, que foi esse golpe. Agora, um ponto verdadeiro é que esse golpe afeta a nossa soberania. Se eles gostaram disso ou não, aí é outra coisa.
247 – Vamos falar sobre o pré-sal. No seu discurso de posse, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, disse que a companhia, a partir de agora, é favorável à abertura do pré-sal. Como a senhora avalia essa nova posição?
Dilma – Ele fala para os interesses que representa. Os interesses que ele representa não são os interesses nacionais. Quem fala que a Petrobras não tem interesse no pré-sal ou qualifica o que está falando ou está entregando uma riqueza petrolífera gigantesca. Diziam antes que seríamos incapazes de extrair o petróleo e já estamos em 1 milhão de barris em menos de oito anos. Agora, dizer isso no primeiro dia é uma irresponsabilidade e um desrespeito com a Petrobras. Não é correto.
247 – É crime de lesa-pátria?
Dilma – É mais do que lesa-pátria. Isso já entra na categoria de burrice nacional. Nós sabemos onde o óleo está. Nós sabemos como extraí-lo e sabemos qual é a sua qualidade. Que sentido faz abrir mão dessa riqueza? 
247 – Mas eles não são burros.
Dilma – Não falei em burrice individual, mas em burrice nacional. Pode ser muito inteligente para quem defende interesses que não são os interesses nacionais.
247 – Eles vão tentar mudar a lei do pré-sal em julho. Vão conseguir?
Dilma – Para eles, será extremamente perigoso tentar isso. Existem dois modelos: o de concessão e o de partilha. A concessão se justifica quando há um risco de encontrar. Nesse caso, é justo que quem assume o risco fique com a parte do leão. A partilha se justifica no caso do pré-sal porque nós sabemos onde o petróleo está. Não o risco de encontrar. Isso não significa que nós não queiramos fazer parcerias. Em Libra, por exemplo, a Petrobras é parceria da Shell, da Total e de duas empresas chinesas, a CNOOC e a CNPC. Podemos fazer parcerias, mas não abrir mão do pré-sal. A troco de quê vamos entregar inteirinho para uma empresa? Ah, vão dizer que a Petrobras é endividada. Estão contando uma grande lorota. Um projeto de pré-sal é extremamente atrativo para financiamento de qualquer banco nacional e internacional. E a Petrobras tem que ter preferência.
247 – Mas aí o Parente vai dizer que não interesse.
Dilma – É aí que mora o perigo. Por isso é que tem que ser mantido o limite mínimo de 30% na Petrobras.
247 – Vamos falar de Jogos Olímpicos. Dias atrás, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirmou que se sente frustrado porque não saberemos quem será o presidente na abertura. O Brasil pode estar jogando fora seu grande evento com essa confusão política?
Dilma – Olha, eu vou te dizer uma coisa. Essa Rio 2016 é fruto, sobretudo, da determinação do Lula, que procurou cada um dos integrantes do Comitê Olímpico, e também da política externa extremamente acomodatícia e generosa do Brasil nos últimos anos. Portanto, se uma pessoa merece ser homenageada nessa abertura é o Lula. Além disso, como ministra e depois como presidenta, eu assumi e cumpri literalmente todos os compromissos com a construção da melhor infraestrutura possível no Rio de Janeiro. Ela abrange o Parque Olímpico, em Deodoro, e uma melhora significativa de todo o Rio, com obras como a do VLT. Além disso, adquirimos um grande know-how em segurança. Fizemos o Pan, os Jogos Militares, a Copa e agora é a vez da Rio 2016.
247 – A senhora vai à abertura?
Dilma – Com certeza, eu estarei presente. E será a mais bonita abertura de todos os tempos. O COI contratou um dos melhores artistas desse país para grandes eventos, que foi o Abel. 
247 – Percebe-se que a senhora se emociona ao falar dos Jogos Olímpicos.
Dilma – Claro. É o meu trabalho. Eu coloquei a minha vida nisso. Quando você põe seu trabalho, dói. Eu posso ainda não ter sido julgada. Quem deveria estar lá somos eu, a presidente que executou, e o Lula, o presidente que ganhou. O usurpador pode fazer o que quiser para estar lá, mas será sempre um usurpador desses Jogos Olímpicos. O governo dele, só de homens ricos e brancos, não representa o Brasil. Apesar deles, a Olimpíada irá nos orgulhar.
Leia aqui a quarta parte da entrevista com a presidente Dilma Rousseff, em que ela fala da necessidade de repactuação pelo voto para resolver a crise política.
Leia aqui a terceira parte da entrevista com a presidente Dilma Rousseff, em que ela aborda temas como o Mais Médicos.
Na segunda parte de sua entrevista (leia aqui), a presidente Dilma Rousseff promete rever os desmandos do governo Temer, quando retornar.
Na primeira parte de sua entrevista ao 247 (leia aqui), a presidente Dilma Rousseff fala das tentações autoritárias de Michel Temer e de seu desejo de calar a divergência.

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