Lula: 'Quanto mais me provocam, mais corro o risco de ser candidato'
Em ato na Avenida Paulista,
ex-presidente afirma que Temer não age como presidente interino e que o
propósito deste governo é promover o desmonte do país.
por Redação RBA
ricardo stuckert/instituto lula/fotos públicas
'Mais
perverso é o conluio de alguns setores da Justiça e da imprensa, que
querem me condenar por manchetes de jornal', disse Lula
O ex-presidente estava praticamente sem voz. Mas esclareceu que não está doente, e chegou às lágrimas quando mencionou o ataque a sua integridade e de sua família: "Mais perverso é o conluio de alguns setores da Justiça e da imprensa, que querem me condenar por manchetes de jornal, mas eu aprendi a andar de cabeça erguida e não perdoo a atitude de vazamento ilícito das conversas por telefone, como foi feito comigo, não admito", disse, acrescentando um recado aos seus adversários: "A única coisa que peço é que tenham por mim o respeito que tenho por eles".
Para Lula, Michel Temer e sua equipe têm como objetivo privatizar as empresas públicas e fragilizar a capacidade do Estado de intervir na condução do desenvolvimento. "Eles querem o desmonte deste país, querem vender a Petrobras, a Eletrobras". Segundo o ex-presidente, a decisão do Senado de admitir o processo de impeachment de Dilma não deu a Michel Temer o direito de agir dessa forma. "Porque ele não age como interino".
Lula teve a fala interrompida por aplausos quando mencionou o ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP), afirmando que o Brasil não pode ter complexo de vira-lata. "Não é possível falar grosso com a Bolívia e fino com os Estados Unidos."
Depois de fazer uma retrospectiva do fim da ditadura civil-militar no país, o ex-presidente elogiou a atuação dos estudantes que desde o ano passado ocuparam escolas, em um primeiro momento contra o fechamento de unidades da rede estadual de São Paulo pretendido pelo governo de Geraldo Alckmin, e neste ano contra a corrupção na merenda. “Estudantes extraordinários, jovens de 15 ou 15 anos estão ocupando escolas e defendendo o direito de estudar, defendendo o direito de ter qualidade na educação”.
Lula também falou da mobilização das mulheres: “Estão indo para as ruas, lutar contra a violência contra a mulher, contra a cultura do estupro que está estabelecida no mundo inteiro e lutar para que o governo reconheça que não pode haver democracia se não houver um ministério que cuide dos problemas das mulheres neste país”.
O ex-presidente citou ainda a mobilização no setor de cultura, com a ocupação de unidades da Funarte no país desde que teve início o governo interino de Michel Temer, em 12 de maio. “Estão indo para as ruas, os artistas, porque não é possível imaginar que estamos na década de 1950 e você pode tirar o ministério do Esporte, da Educação, da Cultura. No que eles (o governo interino) indicaram, não entendem de educação, não entendem de cultura, não entendem de esporte, e não entendem de democracia”.
“Não é possível imaginar alguém que não tenha sensibilidade de entender a questão da parte negra da nossa sociedade, que foi escravizada durante 300 anos, e faz parte da miscigenação que criou esse povo extraordinário, e eles pegam como vítima o Catalão (José Catalão, que servia o café da presidência e foi demitido por Temer), que foi mandado embora como um peão do Lula e da Dilma. Não é possível não levar em conta que mais da metade desta sociedade é representada por afrodescendentes e nós temos orgulho de pertencer a esse povo.”
Ao criticar a redução de ministérios, Lula disse que “não é possível não reconhecer a violência na periferia, contra a mulher, contra os pobres, espalhada no país e acabar com o ministério de Direitos Humanos. Se a solução fosse excluir ministério era melhor tirar o da Fazenda, Planejamento e tantos outros ministérios e deixar o ministério dos pobres, deixar o ministério que cuida da sociedade, que cuida de gente, de criança, de velho. Não existe maior demonstração do golpe dentro do golpe, porque foi o que aconteceu depois que a Dilma foi afastada”.
“Eu fico imaginando que a atitude do Temer, que deu um golpe na decisão do Senado, porque a decisão de aceitar a admissibilidade e afastar a Dilma enquanto o processo fosse julgado no seu mérito, e deu a interinidade ao Temer, mas ele não agiu como presidente interino. Ele assumiu como se fosse, e com a mesma liberdade, autonomia e autoridade com que Fidel Castro contemplou em Havana, depois da revolução de 1959. O Fidel tinha autoridade, ele tinha feito a revolução, mas o Temer não, e chegou lá através de um golpe dos fascistas, dos conservadores.”
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