Sem pesquisas, fica a dúvida: como está a popularidade de Temer e Dilma?
As últimas pesquisas de opinião sobre a crise política brasileira remontam ao mês de abril passado, época em que ainda se discutia o processo de impeachment da presidenta na Câmara dos Deputados. Desde então, Dilma Rousseff foi afastada e o presidente interino Michel Temer
começou seu Governo, que completará um mês no próximo domingo, mas
nenhum novo dado surgiu. A crise política, contudo, continua com
desdobramentos frenéticos. Nesta terça-feira, em só mais um episódio
envolvendo integrantes do PMDB, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão de quatro caciques do PMDB – Romero Jucá, José Sarney, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. A pergunta que fica no ar é: com tantas novidades, em que pé anda a popularidade de Temer? E de Dilma?
A reportagem é de André de Oliveira, publicada por El País, 07-06-2016.
A falta de pesquisas de opinião tradicionais tem sido alvo de críticas e já gerou iniciativas curiosas, como a do site Catraca Livre,
que lançou uma série de enquetes, sem rigor científico, para tentar
responder questões com que a sociedade e analistas políticos têm se
debatido. As principais são: qual é a avaliação do recém-iniciado Governo Temer? Qual é o porcentual da população que apoia a volta de Dilma Rousseff à presidência? Os dados não são triviais, já que o julgamento do impeachment
está em curso no Senado e há votos de senadores considerados voláteis
sob intensa disputa. A poucos meses das eleições municipais, até a
estratificação regional dos números é relevante - a maioria do Nordeste é contrária à destituição? E o Sudeste? O apagão de levantamentos pode começar a se desfazer nesta quarta, quando a Confederação Nacional do Transporte (CNT), entidade que realiza pesquisa em parceria com a MDA Pesquisas,
revelará, às 11h, uma pesquisa feita com cerca de 2.000 pessoas sobre o
atual cenário político e econômico brasileiro. Contudo, não foi
revelado se o presidente interino e a presidenta afastada serão alvo da
pesquisa.
Os últimos dados publicados pelos dois dos principais institutos de pesquisa do Brasil deixam muitas questões em aberto. Às vias da votação na Câmara, o Datafolha,
por exemplo, mostrou que o apoio ao impeachment tinha caído de março
para abril, indo de 68% para 61%. E já depois da decisão dos deputados
federais na controversa sessão da Câmara, o Ibope mostrou que apenas 8% da população aprovava a solução atual: com Michel Temer como presidente interino.
Questionado sobre a divulgação de uma nova pesquisa que abordasse o apoio à volta de Dilma Rousseff e a avaliação de Temer, o Ibope,
por meio de sua assessoria de imprensa, disse não ter ainda pesquisa
sobre o assunto e que os porta-vozes do instituto só respondem sobre
dados divulgados. Já o Datafolha comentou que um novo
estudo deve ser divulgado em breve, mas que ainda não há data definida.
“É importante dizer que em raras ocasiões o Datafolha fez pesquisas sobre a popularidade de um Governo antes que ele completasse 100 dias. No caso do Itamar Franco,
que é o precedente em relação ao impeachment, ele assumiu em outubro de
1992 e a pesquisa sobre sua avaliação só foi divulgada em dezembro”,
comenta Alessandro Janoni, diretor de pesquisa do instituto.
O fato de Temer já ter lidado com uma série de notícias pouco favoráveis
em menos de um mês de Governo, aliado aos dados das últimas pesquisas
que mostravam pouca confiança nele, são, segundo diferentes analistas,
indícios de que, quando divulgados, os novos dados revelarão um cenário
bem ruim para o presidente interino. Afastamento de dois ministros, manifestações quase diárias de apoio a Dilma Rousseff e o fato de que a imprensa internacional vem classificando o processo de impeachment como viciado são só algumas das questões que têm pululado desde que Temer assumiu – sem falar no já mencionado pedido de prisão dos quatro caciques do PMDB.
Para Janoni,
a situação pode mesmo apontar para esse lado, mas só o fato de a
popularidade do interino não ser alta não é uma garantia. “Tudo depende
de como a sociedade lerá as notícias mais recentes. Só 18% das pessoas
tinham uma expectativa positiva de Itamar e ele fechou seu ciclo com 41%
de popularidade. Se tomarmos isso como base, Temer ainda poderia ter
espaço para crescer, já que apenas 16% da população tem uma expectativa
positiva em relação a ele, segundo a última pesquisa”, pondera.
O diretor do Datafolha também ressalta que Itamar Franco levou tempo para fechar sua composição de Governo. “Fernando Henrique Cardoso,
por exemplo, só virou ministro da Fazenda em maio de 1993”, diz ele, ou
sete meses depois da posse. Contudo, os dois cenários são bem
diferentes. O ex-presidente Fernando Collor, ao contrário de Dilma, não gozava de quase nenhum apoio popular. Para tentar melhorar sua imagem, Temer
escolheu para sua primeira viagem oficial uma visita ao Nordeste
brasileiro, principal reduto eleitoral petista. Ele segue para Pernambuco e Alagoas na semana que vem.
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