Mais um dia de popstar para Sergio Moro
Podemos dizer, sem medo de errar, que Sérgio Moro é o juiz mais midiático da história do Brasil. Joaquim Barbosa teve seus momentos, mas Moro, O Justiceiro, o supera de longe.
Só hoje há três notícias envolvendo o herói coxinha em destaque nos portais da velha imprensa.
A primeira: Moro mandou soltar Paulo Ferreira, ex-tesoureiro do PT, que estava preso desde junho do ano passado.
Obviamente era mais uma prisão cautelar, ou seja, sem que o cidadão sequer tenha sido julgado. Oficialmente a prisão foi determinada para que Ferreira não atrapalhasse as investigações.
O fato de ter gerado mais manchetes bombásticas contra o PT em meio ao processo do impeachment decerto é só uma coincidência.
Na verdade a prisão de Paulo Ferreira foi revogada por Moro em 16/12/2016. Sob uma singela condição: o pagamento de uma fiança de R$ 1 milhão.
Posteriormente a fiança teve seu valor reduzido para R$ 200 mil, mas Ferreira só conseguiu juntar R$ 165 mil até agora, além de um automóvel Citroën C4. Moro autorizou a soltura do ex-tesoureiro do PT sob a condição de que deposite o restante da fiança em 45 dias.
Ou seja, Moro manda prender Paulo Ferreira para que este não atrapalhe as investigações; quando a coleta de provas é encerrada o juiz manda soltá-lo, já que não há mais riscos à investigação, mas impõe o pagamento de uma fiança estratosférica como condição para a libertação.
Ainda não há julgamento e, por óbvio, não há condenação, mas se Ferreira não pagar, continuará preso. O justiceiro é na verdade um sádico.
Outra notícia é a da condenação de João Santana a mais de 8 anos de prisão. Foram condenados também sua esposa, Mônica Moura, outro ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e mais 3 pessoas.
Leiam este trecho da sentença em que Moro está decidindo sobre o tamanho das penas dos condenados:
Consequências também devem ser valoradas negativamente, pois a corrupção também gerou impacto no processo político democrático, contaminando-o com recursos criminosos, o que reputo especialmente reprovável. Talvez seja essa, mais do que o enriquecimento ilícito dos agentes públicos, o elemento mais reprovável do esquema criminoso da Petrobrás, a contaminação da esfera política pela influência do crime, com prejuízos ao processo político democrático. A corrupção com pagamento de propina de milhões de dólares e tendo por consequência a afetação do processo político democrático merece reprovação especial.
O juiz responsável pela Lava Jato, uma operação ilegal, truculenta e midiática que foi o combustível para o sucesso do golpe – que é, por sua vez, a interferência mais grave possível em uma democracia – reprovando os prejuízos causados pelos acusados ao “processo político democrático” é surrealismo demais. Cinismo pouco é bobagem.
A última notícia do dia sobre o popstar Moro é um “momento Gilmar Mendes”, digamos assim.
Sérgio Moro, em tese um juiz de primeiro grau que deve, por dever de ofício , manter a discrição e a sobriedade, resolveu soltar uma nota elogiando o ministro Edson Fachin, que foi sorteado como novo relator da Lava Jato no STF.
O rei de Curitiba está nitidamente embriagado pelos holofotes.
Então ficamos assim: Moro não está nem aí para direitos fundamentais; dança conforme a música da Globo e demais integrantes da mídia familiar; e agora se mete a comentarista, seguindo os passos de Gilmar Mendes.
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