segunda-feira, 29 de março de 2021

"Queremos investigar os militares".

 


Queremos investigar os militares

Precisamos das palavras corretas para definir o momento pelo qual o Brasil passa. O governo militar de Jair Bolsonaro é responsável pelo maior massacre sanitário da nossa história republicana. O Ministério da Saúde – gerido até ontem por um general da ativa – já acumula sobre os ombros uma montanha de mais de 300 mil corpos brasileiros. 

À parte as tragédias fundadoras deste país, é a maior catástrofe que já vivemos, muito à frente, em mortes, de traumas históricos como a Guerra do Paraguai (50 mil soldados brasileiros mortos) e a Gripe Espanhola (cerca de 35 mil brasileiros mortos). Bolsonaro é o comandante deste naufrágio, não resta dúvidas. Mas ele não está sozinho: há muitos cúmplices nessa história e é urgente que a sociedade brasileira não permita que passem incólumes.

Figuras como o deputado federal Osmar Terra, ex-ministro da Cidadania de Bolsonaro, que um ano atrás especulou que a pandemia de covid-19 mataria menos que a H1N1, a “gripe suína” de 2009. Segundo ele, o coronavírus mataria menos de 2 pessoas por dia, e por isso não se deveria “parar o país” ou “destruir a economia”. 

É cúmplice inegável o terceiro dos quatro ministros da Saúde de Bolsonaro, Eduardo Pazuello. Desde o início seguindo a cartilha do presidente, Pazuello defendeu o uso de medicamentos sem eficácia comprovada, divulgou um aplicativo que indicava esses medicamentos para qualquer grupo de sintomas, o TrateCov. O general da ativa, que só ocupou o posto com autorização do Comando Militar, colocou o Exército em um labirinto. Bolsonaro procura hoje desesperadamente uma saída para manter o general com foro privilegiado, para que não não seja responsabilizado judicialmente pelas centenas de milhares de vidas perdidas por sua negligência e inépcia. 

É cúmplice cada um daqueles que se submetem semanalmente ao vergonhoso papel de papagaio de pirata nas inacreditáveis lives do presidente. Bolsonaro utiliza aquele espaço para atiçar sua base e vomitar mentiras sobre a vacinação, o "kit covid" e outras falácias que botam em risco a vida de milhões de brasileiros. Recentemente foi o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Duarte Guimarães, que durante a live do dia 18, quando o presidente ridicularizou a falta de ar dos doentes de covid em uma imitação sórdida, simplesmente assistiu à cena, impassível. Mais tarde, seguiu concordando com as indicações de “tratamento inicial” de Bolsonaro. Mas já estrelaram com orgulho o papel de escada de palhaço muitos outros nomes: Tarcísio Gomes de Freitas, ministro da Infraestrutura; o ministro do Turismo e ex-diretor-presidente da Embratur, Gilson Machado, que esteve por lá muitas vezes, sempre rindo, assim como Paulo Guedes, o mais mentiroso Ministro da Economia que este país já teve. 

Esses são apenas alguns dos muitos cúmplices de Jair Bolsonaro na mais mortífera crise brasileira liderada por ele, arquitetada por seu governo militar. Diversos especialistas e analistas já mostraram que não estamos vivendo uma situação acidental. É preciso que comecemos a nos organizar para caçar e punir os responsáveis. Não se trata mais de apenas defender o impeachment de Bolsonaro: precisamos exigir que ele e seus parceiros paguem pelo que fizeram, criminalmente.

Intercept está com todos os esforços voltados para isso. A cada semana publicamos novas denúncias, lidamos com mais ataques vindos deles, investigamos seus negócios e tentamos de todas as formas contribuir com a mobilização da sociedade. 

Fazer isso é trabalhoso, arriscado e caro. Estamos no limite da nossa capacidade para operar de maneira segura e garantindo aos nossos repórteres, produtores, checadores e editores boas condições de trabalho. O jornalismo não se faz sozinho. Normalmente ele é feito com o apoio de empresários ou patrocínio de corporações que, claro, têm seus interesses e não abrem mão deles. O Intercept não funciona dessa forma. Nós nos aliamos àqueles que compartilham os mesmos interesses da nossa redação: vocês, nosso público. 

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