VOCÊ VAI SER TORTURADA COMO HOMEM"
Essa é Vera Silvia Magalhães. Ela integrou o MR-8. Vera era uma jovem adulta quando foi presa. Baleada na cabeça ao tentar fugir, foi retirada pela polícia do hospital onde estava. Foi levada para o quartel da Polícia do Exército, na Tijuca, como tantos outros presos políticos da ditadura. Lá chegou em uma Sexta-Feira Santa. Ouviu da boca de um de seus verdugos: "Você vai ser torturada como homem, como Jesus Cristo". E foi. Levou choques elétricos, foi brutalmente espancada, sofreu queimaduras e muita tortura psicológica. Foi colocada na chamada "geladeira". Nus, os presos eram trancados sozinhos em uma sala com um sistema de refrigeração que tornava o ambiente humanamente inabitável. Vera passou por isso. Enfrentou uma simulação de execução: os presos, com os olhos vendados, ouviam as ordens para o seu fuzilamento serem dadas. No final, os tiros não eram disparados e os torturadores riam da situação. Era terror psicológico. Vera foi dopada pelo psiquiatra Amílcar Lobo. A combinação de remédios produzia um estado de confusão mental e perturbação. A sessão de perguntas começava novamente.
Vera sobreviveu às torturas. Saiu da prisão com sequelas físicas que a acompanhariam pelo resto da vida, tamanha foi a violência contra ela. Na foto abaixo, ela era escorada por seu companheiro de organização e também preso político Cid Benjamin. Quando de sua libertação, por ocasião do sequestro do embaixador alemão, mal conseguia ficar em pé. Perdeu 25 quilos. Até a sua morte, em 2007, tinha pesadelos e surtos psicóticos. Nunca se recuperou nem fisicamente nem emocionalmente.
O episódio que abriu caminho para isso, que institucionalizou a tortura como política de Estado, começou com uma quartelada na madrugada do dia 31 de março de 1964. O golpe se consumou no dia 1o de abril. Foram 21 anos de perseguições, prisões, torturas, mortes, desaparecimentos e exílios. Até hoje familiares procuram seus entes, mortos e desaparecidos.
É por essas tantas histórias que não podemos deixar passar em branco o fato de o Governo Federal, que já levou à morte mais de 300 mil pessoas, editar uma ordem do dia em comemoração ao aniversário do golpe. O ministro da Defesa deveria ser preso por sua declaração infame de exaltação do golpe e da ditadura. Na verdade, só estamos vivenciando isso porque no dia 17 de abril de 2016, um deputado e ex-capitão do Exército exaltou em rede nacional um torturador notável por enfiar ratos na vagina de mulheres e não saiu do Congresso algemado. Ali, abrimos à porta para o mal que hoje dilacera o país.
O silêncio e o esquecimento são amigos da barbárie. A história de Vera Silvia precisa ser contada. As histórias daqueles e daquelas que não se renderam precisam ser lembradas. Tenho ódio dos que estão no poder. Ódio. Não tenho problema em dizer isso. E é com raiva que precisamos dizer, em alto e bom som:
DITADURA NUNCA MAIS! TORTURA NUNCA MAIS!
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