quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Brasil de Fato: Uberização e a "liberdade" de trabalhar 12 horas por dia.

 

 
Brasil de Fato
 
Uberização e a “liberdade” de trabalhar 12 horas por dia
 
Quarta-feira, 08 de dezembro de 2021
 
 
Já faz algum tempo que flexibilização virou a palavra queridinha do mundo do trabalho. A promessa é de horários menos rígidos, ambiente de trabalho descolado, home office e coisas do tipo. Tudo muito legal, se junto não viesse a redução de direitos trabalhistas. Há pouco mais de uma década, a cilada aumentou com a chegada de aplicativos como a Uber. Quem não quer escolher os próprios horários, não ter chefe, ficar mais tempo com a família?
Só que, 12 anos depois, as notícias agora são de motoristas cancelando corrida o tempo todo e largando o app. O que aconteceu nesse meio tempo?
Bom, acontece que o processo de uberização altera a forma, mas não ameaça o modelo de acumulação capitalista. Pelo contrário, a flexibilização sem limites aprofunda a submissão do trabalhador e amplia as possibilidades de lucro dos capitalistas.
Quem define o percentual que o trabalhador ganha e quais corridas ele pode fazer é o algoritmo. Então, na prática, aquela história de não ter chefe não é bem verdade. A diferença é que o chefe não tem rosto nem nome – mas tem um poder gigante.
Se na chegada os ganhos pareciam altos, depois de um tempo a situação foi mudando. A liberdade de não ter chefe e trabalhar quando quiser virou ter que trabalhar quase o tempo todo para conseguir sobreviver. Ou seja, o trabalhador tem a "liberdade" de trabalhar 12 horas por dia. Quer dizer, com o preço da gasolina nas alturas, muitos chegam a fazer jornadas de até 16 horas para pagar as contas.
Essa disputa está na Justiça. Ao menos quatro Tribunais Regionais do Trabalho no Brasil já deram ganho de causa a motoristas de aplicativo que alegaram vínculo de emprego com a Uber.
No início de novembro, o Ministério Público do Trabalho em São Paulo ajuizou uma ação pedindo que a Uber registre os motoristas em carteira imediatamente, alegando “fraude trabalhista”. Mas, quando os casos chegam à instância superior, a empresa tem levado a melhor. Até o momento, turmas do Tribunal Superior do Trabalho já decidiram cinco vezes pela inexistência de vínculo de emprego. Entenda aqui por que essa disputa continua em aberto na Justiça.
assista ao vídeo para entender por que esse processo de uberização é tão avassalador e o que está em jogo nesse debate:
 
 
Não é só a Uber
A relação de trabalho é sempre desigual (e é por isso que é tão importante existir a Justiça do Trabalho): o trabalhador nunca tem o mesmo poder de negociação que o dono da empresa, que vai sempre tentar fazer de tudo para aumentar seu lucro. E aí não importa se as empresas são flexíveis ou não. Quer um exemplo? O Santander foi condenado por manter funcionários trabalhando até as 22h sem pagar hora extra em São Paulo.
Os empregados ficaram até mais tarde porque o banco estava tocando uma campanha para ampliar a carteira de jovens clientes (ou seja, para aumentar seu lucro). A ação ocorre dentro dos campi universitários após as 18h. Leia mais clicando aqui.
 

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