A relação de Patrick Peyton com a ditadura militar

Por jns


O agente da CIA que vestiu a batina para promover o golpe militar no Brasil


O apoio da igreja católica aos militares em 1964 foi decisivo para a concretização do golpe de estado que levaria o país a instalar uma ditadura de vinte anos.
 
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Padre Peyton, o Servo do Diabo
 
O financiamento veio de mais de trezentas empresas multinacionais e o irlandês Patrick Peyton, um agente da CIA, foi o organizador da famosa Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade.
Se a Guerra Fria obrigou as pessoas e entidades a escolher a quem iriam apoiar, a Igreja Católica, presumivelmente, neutra, ficou do lado das designações dos Estados Unidos.
A Igreja Católica, por sua ambiguidade durante a Segunda Guerra Mundial - apoiou e abençoou os exércitos nazistas - foi expulsa do o leste europeu, após a chegada dos comunistas soviéticos, que libertaram os povos empobrecidos pela guerra dos nazistas e do domínio secular da igreja.
Temendo que o mesmo sucedesse na América Latina, a igreja católica combateu a ameaça comunista, incitando os seus fiéis a temer e repudiar e, nas missas, os padres acusavam os comunistas de hereges e ateus inimigos da fé.
Neste cenário, no final de 1963, sob as bênçãos do presidente Kennedy, chegava ao Brasil o padre Patrick Peyton, um irlandês naturalizado estadunidense, conhecido como o "Padre das  Estrelas", por gostar de aparecer ao lado das celebridades de Hollywood.
 
Pope John Paul II and Father Patrick Peyton
O papa João Paulo II e o padre Patrick Peyton
 
A associação entre a igreja católica e o serviço secreto americano, surgiu através da ligação do padre com J. Peter Grace, multimilionário devoto do catolicismo e bisneto do fundador da WR Grace and Company, uma empresa multinacional com interesses em mineração, açúcar e transportes na América do Sul, com quem Peyton tinha feito contato em 1946, durante uma viagem transatlântica. 
Grace estava envolvido em operações secretas dos EUA e os dois se aproximaram de Allen Dulles, diplomata, banqueiro, além de ter se tornado o primeiro civil e o mais antigo diretor da CIA.
Mais tarde, Dulles encontrou-se com Grace no escritório do vice-presidente Richard Nixon, na Casa Branca, que expressou o seu entusiasmo com as ações planejadas para a América Latina. 
Peyton, preparado pela Agência Central de Inteligência, recebeu financiamento americano para atuar na América Latina e promover a sua Cruzada pelo Rosário em Família.
Os fundos da CIA foram gastos no Chile,  na Venezuela, na Colômbia e no Brasil, onde Peyton promovia a suas cruzadas preparatórias para a instalação da decoradora militar, que contou com a decisiva colaboração de agentes religiosos.

O seu superior provincial, Richard H. Sullivan, soube da existência do financiamento do serviço secreto americano através de Theodore Hesburgh, o presidente do Conselho de Administração da Universidade de Notre Dame, onde Peyton estudou, em outubro de 1964.
Utilizando a publicidade produzida no exterior, o rádio, o cinema, a televisão e, mais tarde, com a ajuda de celebridades e artistas, o Peyton tornou-se um dos pioneiros do evangelismo na mídia de massa.
No início de 1964, uma celebração do padre Peyton foi o primeiro programa de televisão em rede a cobrir todo o país, com o suporte técnico feito em Washington.
Recitando a sua ladainha que consistia em alertar aos brasileiros quanto aos perigos de um governo que não fosse como os dos EUA e contra a ameaça comunista à família e à religião, a pregação do agente Patrick Peyton atingiu em cheio milhões de brasileiros nos seus concorridos encontros.
Com a ajuda de um profissional de publicidade não católico, Peyton popularizou o slogan: "A família que reza unida, permanece unida".
 
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Padre Peyton foi um fenômeno de massas nos anos 50 e 60 do século XX
 
Nos meandros do golpe, agentes religiosos colaboraram decisivamente com os militares e, após a sua deflagração, a igreja católica aplaudiu, fervorosamente os golpistas.
De acordo com os líderes golpistas de 1964, dom Paulo Evaristo Arns chegou a ir ao encontro das tropas do general Olimpio Mourão Filho, deflagrador do golpe, quando elas marchavam de Juiz de Fora rumo ao Rio de Janeiro.
Em 31 de março, dom Paulo encontrou-se com as tropas golpistas em Pedro do Rio, Três Rios, oferecendo aos mineiros a assistência religiosa, durante o encontro que deixou o clérigo tranquilo, com a garantia de que não entraria no poder nem a anarquia e nem o comunismo.
Para garantir que o aparato militar não sofresse reveses articulados pela esquerda, muitos clérigos atuaram como delatores e as participações contundentes de ativistas anticomunistas e da igreja são personificadas pelas atuações de Antônio de Castro Mayer, o bispo de Campos, e de Geraldo de Proença Sigaud, o arcebispo de Diamantina.
 
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Na marcha, que recebeu os militares golpistas no Rio de Janeiro, em 2 de abril de 1964, as mulheres que representavam a tradicional família brasileira, seguindo o lema “Família que reza unida, permanece unida”, estenderam os seus rosários, assinalando, com este gesto, o papel que exercera a igreja católica na consolidação do novo regime ditatorial que se instalava no Brasil.
Os fatos descritos são, amplamente, conhecidos, mas nunca deve ser deslembrada a formação da espúria aliança consumada entre a CIA, a Igreja Católica e as marionetes militares brasileiras para a defesa dos interesses americanos no nosso país.