Uma tentativa de entender o caso Petrobras sem a manipulação dos números
A TV Globo, o Estadão, a Veja, a Folha, além de vários outros veículos de imprensa brasileiros, deram um grande destaque a essa denúncia.
Resolvi analisar cuidadosamente a grande quantidade de informações publicadas na internet sobre o caso e descobri muita informação interessante e relevante que poucos estão sabendo. Vou tentar explicar de maneira simples o caso da refinaria de Pasadena e fazer um esboço de um cálculo do quanto a Petrobras realmente teve de prejuízo na compra dessa refinaria.
A compra da refinaria em 2005 pela Astra Oil
Em 2005, a empresa belga Astra Oil comprou a refinaria “Pasadena Refining System” pela quantia de 42 milhões de dólares. Após essa compra, investiu mais 84 milhões de dólares na empresa. No total, portanto, o investimento foi de 126 milhões de dólares.
A venda de 50% para a Petrobras
Segundo a versão do governo, em 2006, a Petrobras comprou da Astra Oil 50% dessa refinaria pela quantia de 190 milhões de dólares. Ainda de acordo com o governo, a Petrobras pagou também 170 milhões de dólares para comprar 50% de todo o estoque de petróleo que a refinaria possuía, totalizando um desembolso de 360 milhões de dólares.
Alguns jornalistas muito apressados correram para anunciar que a Petrobras tinha comprado por 360 milhões de dólares a metade de uma refinaria que supostamente valeria 21 milhões de dólares no ano anterior.
Percebo que ainda hoje alguns na imprensa (a TV Globo por exemplo) estão omitindo do público a informação de que foi feito um investimento na refinaria de 84 milhões de dólares por parte da Astra.
Isso me parece proposital, para que pensem que há algo muito podre nessa história toda, para que, independentemente dos fatos, quem assistir ou ler suas reportagens chegue à conclusão de que há um grande esquema de corrupção nesse caso.
Nessa versão da história, em que se omite o investimento de 84 milhões de dólares da Astra, a Petrobras teria comprado a metade da refinaria por um valor que seria 1600% maior do que supostamente valeria, quando na verdade comprou por 128% a mais do que o valor investido anteriormente.
Segundo o ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrieli, o pagamento de 190 milhões de dólares por metade da refinaria foi uma ótima decisão de negócio na época, pois esse valor correspondia a metade do valor de mercado de uma refinaria como aquela.
Para mim, parece ser um pouco caro esse pagamento de 128% a mais pela compra de metade da refinaria. Mas, dado que a Astra comprou a refinaria por 42 milhões de dólares e investiu mais 84 milhões de dólares, obviamente a empresa passaria a valer bem mais que os 126 milhões de dólares investidos.
Se compro uma casa por 100 mil e invisto 200 mil nela, a casa passa a valer mais que 300 mil. Creio que o mesmo princípio deva valer para uma refinaria de Petróleo.
A Petrobras foi obrigada a comprar os outros 50% da empresa
O contrato de compra da refinaria possuía duas cláusulas prejudiciais à Petrobras. Uma delas dizia que a Astra Oil teria direito a 6,9% dos lucros anuais independente das condições do mercado. A outra cláusula dizia que em caso de divergência, uma das partes deveria comprar a parte da outra.
Após sucessivos desentendimentos entre a Petrobras e a Astra, de 2008 a 2012, ocorre uma batalha judicial entre as duas empresas.
A Petrobras é obrigada a comprar a outra metade da refinaria. Tem que desembolsar 170 milhões de dólares pelo estoque de petróleo da refinaria pertencente à Astra e mais 650 milhões de dólares divididos entre a compra, os impostos, os custos processuais e multas determinadas pela justiça americana.
O total, de 2005 a 2012, chega a 1,18 bilhão de dólares.
Repare que, do total gasto, 340 milhões de dólares foram pagos por estoques de petróleo, que segundo o governo já foram processados e vendidos com lucro — o que exclui esse valor de qualquer conta de prejuízo da Petrobras.
O total realmente pago pela refinaria nos dois momentos de compra (2006 e 2012) foi de 840 milhões de dólares, um valor realmente muito alto.
De quanto foi o prejuízo da Petrobras com essa compra?
Para calcular o prejuízo que a Petrobras teve na compra dessa refinaria bastaria fazer a seguinte conta:
Total investido pela Petrobras menos: 1) Valor obtido com a venda dos estoques de petróleo comprados; 2) Lucro líquido recebido pela Petrobras da refinaria entre 2006 e 2014.
Só é possível calcular o prejuízo, tendo em mãos os valores citados acima. Sem isso, estaremos apenas especulando. Os governistas ficarão jogando o valor para baixo e os oposicionistas para cima.
O quanto de lucro gera a refinaria hoje?
Segundo o que foi informado pela Petrobras, a refinaria de Pasadena hoje processa algo em torno de 100 mil barris de petróleo por dia, ou seja, 3 milhões de dólares por mês ou 36 milhões de dólares por ano. Não sei o quanto é possível lucrar com o refino de 36 milhões de dólares de barris de petróleo, mas acredito que a quantia não é tão pequena.
O que se pode concluir de tudo isso?
Provavelmente houve prejuízos com a compra da refinaria e a reação do governo diante das acusações dá a entender claramente que isso é verdade.
Por outro lado, os prejuízos não chegam nem próximo do que estão divulgando nas redes sociais e na grande mídia. Falam que a Petrobras pagou 1,18 bilhão de dólares por uma empresa que valia 42 milhões de dólares. Na verdade acabou sendo obrigada a desembolsar 840 milhões de dólares por uma refinaria que custou ao antigo dono 126 milhões de dólares.
No cálculo dos que espalham os boatos, há um prejuízo de 1,13 bilhão de dólares. No cálculo mais realista, na pior das hipóteses, o valor seria de 714 milhões de dólares. Mas o valor real é menor que esse, após descontarmos dele os lucros da empresa com a venda dos estoques de Petróleo comprados e os lucros da refinaria de Pasadena de 2006 até hoje.
Até mesmo o valor final dessa conta não representa o prejuízo real da estatal, pois a refinaria de Pasadena continua dando lucro e enquanto isso acontecer, o valor investido que ainda não foi recuperado não pode ser considerado prejuízo, a menos que a empresa pare de funcionar.
Talvez em breve cheguemos ao valor real do prejuízo (ou investimento ainda não recuperado), que poderá ser bastante divulgado ou ignorado pela mídia, dependendo do quanto esse prejuízo for prejudicial à candidatura da Dilma Roussef.
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