Para ex-presidente FHC, Jango se reelegeria em 1965
Fernando Henrique Cardoso fez a previsão de que o ex-presidente João Goulart, o Jango, se reelegeria em 1965 (quando haveria eleição presidencial se não tivesse havido o rompimento institucional) ao participar no Sesc Consolação, em São Paulo, de seminário sobre os 50 anos do golpe civil-militar de 1964, promovido pelo CEBRAP, centro que ele fundou em 1975
O ex-presidente da República tucano adiantou não saber se foram realizadas pesquisas de opinião na época, que confirmassem sua previsão. Foram e nós a colocamos aqui, ao final desta nota. A participação do ex-presidente no seminário serviu para ele evocar lembranças pessoais e análise política daquele período.
Brasil dividido
FHC lembrou, por exemplo, que naqueles dias de 1964, a sociedade brasileira estava dividida e incertezas marcaram os dias que antecederam o golpe a 1º de abril. Observou que no dia 13 de março, quando o presidente Jango anunciou seu programa de reformas de base no comício da Central do Brasil, ele passou pela Zona Sul carioca e viu velas acesas em quase todas as janelas. “Sinal das apreensões da classe média”, completou, temerosa quanto ao comunismo e o perigo vermelho tão disseminados então pelos golpistas e pela mídia.
No 13 de março, recordou, ele passou pelo comício – mas não participou -, impressionou-se com a “enorme” multidão reunida em apoio ao presidente Jango e no trem encontrou-se com personalidades da esquerda. A confusão era tanta no país que muitos dos seus interlocutores naquela viagem acreditavam que o golpe seria dado pelo presidente, e não pelos militares. Já em São Paulo, descobriu que vários professores de esquerda da USP (onde ele também lecionava) articulavam um manifesto contra o governo.
FHC reiterou o que disse e a Folha de S.Paulo publicou 2ª pp: nem os militares tinham certeza do sucesso do seu golpe. A posição do general Amaury Kruel (compadre de Jango), comandante do II Exército, era desconhecida e o então chefe do Estado Maior das Forças Armadas (EMFA), Castello Branco, era vista como legalista. O marechal Castelo foi o 1º presidente da ditadura, governando de abril/64 a março de 67.
Proliferavam as avaliações equivocadas
O Partido Comunista Brasiloeiro (PCB) julgava que os industriais se opunham ao capitalismo americano; seu secretário-geral, Luís Carlos Prestes, dissera semanas antes que eles já tinham o governo, faltava o governo; o sociólogo Hélio Jaguaribe, do PSDB. julgava que o regime tinha como objetivo a desindustrialização; e o economista Celso Furtado (ministro nos governos Jango e Sarney), que o regime só duraria dois anos. De acordo com as reflexões de FHC expostas ontem, demorou-se a entender o que tinha acontecido.
Há poucos dias o blog do Luís Nassif publicou pesquisas IBOPE realizadas até no mês em que ocorreu o golpe. Nesta semana, também a Carta Capital fala sobre elas, junto com uma entrevista do historiador Luiz Antônio Dias. Estas pesquisas foram doadas pelo Instituto à UNICAMP. O professor tem feitos estudos e publicado trabalhos sobre elas.
Números e índices publicados por Nassif
Transcrevemos, abaixo, o trecho em que o Nassif publicou números e percentuais da pesquisa. como diz ele “os números são impressionantes”:
· Em junho de 1963, Jango era aprovado por 66% da população de São Paulo, desempenho superior ao do governador Adhemar de Barros (59%) e do prefeito Prestes Maia (38%).
· Pesquisa de março de 1964 revela que, caso fosse candidato no ano seguinte, Goulart teria mais da metade das intenções de voto na maioria das capitais pesquisadas. Apenas em Fortaleza e Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek tinha percentuais maiores
· Havia amplo apoio à reforma agrária, com um índice superior a 70% em algumas capitais.
· Pesquisa na semana anterior ao golpe, realizada em São Paulo a pedido da Fecomercio, apontava que 72% da população aprovava o governo Jango.
· Entre os mais pobres a popularidade alcançava 86%.
· 55% dos paulistanos consideravam as medidas anunciadas por Goulart no Comício da Central do Brasil, em 13 de março, como de real interesse para o povo.
· Entre as classes A e B, a rejeição a Goulart era um pouco maior em 1964. Ao menos 27% avaliavam o governo como ruim ou péssimo na capital paulista.”
Fonte: Blog do Zé Dirceu
Fernando Henrique Cardoso fez a previsão de que o ex-presidente João Goulart, o Jango, se reelegeria em 1965 (quando haveria eleição presidencial se não tivesse havido o rompimento institucional) ao participar no Sesc Consolação, em São Paulo, de seminário sobre os 50 anos do golpe civil-militar de 1964, promovido pelo CEBRAP, centro que ele fundou em 1975
O ex-presidente da República tucano adiantou não saber se foram realizadas pesquisas de opinião na época, que confirmassem sua previsão. Foram e nós a colocamos aqui, ao final desta nota. A participação do ex-presidente no seminário serviu para ele evocar lembranças pessoais e análise política daquele período.
Brasil dividido
FHC lembrou, por exemplo, que naqueles dias de 1964, a sociedade brasileira estava dividida e incertezas marcaram os dias que antecederam o golpe a 1º de abril. Observou que no dia 13 de março, quando o presidente Jango anunciou seu programa de reformas de base no comício da Central do Brasil, ele passou pela Zona Sul carioca e viu velas acesas em quase todas as janelas. “Sinal das apreensões da classe média”, completou, temerosa quanto ao comunismo e o perigo vermelho tão disseminados então pelos golpistas e pela mídia.
No 13 de março, recordou, ele passou pelo comício – mas não participou -, impressionou-se com a “enorme” multidão reunida em apoio ao presidente Jango e no trem encontrou-se com personalidades da esquerda. A confusão era tanta no país que muitos dos seus interlocutores naquela viagem acreditavam que o golpe seria dado pelo presidente, e não pelos militares. Já em São Paulo, descobriu que vários professores de esquerda da USP (onde ele também lecionava) articulavam um manifesto contra o governo.
FHC reiterou o que disse e a Folha de S.Paulo publicou 2ª pp: nem os militares tinham certeza do sucesso do seu golpe. A posição do general Amaury Kruel (compadre de Jango), comandante do II Exército, era desconhecida e o então chefe do Estado Maior das Forças Armadas (EMFA), Castello Branco, era vista como legalista. O marechal Castelo foi o 1º presidente da ditadura, governando de abril/64 a março de 67.
Proliferavam as avaliações equivocadas
O Partido Comunista Brasiloeiro (PCB) julgava que os industriais se opunham ao capitalismo americano; seu secretário-geral, Luís Carlos Prestes, dissera semanas antes que eles já tinham o governo, faltava o governo; o sociólogo Hélio Jaguaribe, do PSDB. julgava que o regime tinha como objetivo a desindustrialização; e o economista Celso Furtado (ministro nos governos Jango e Sarney), que o regime só duraria dois anos. De acordo com as reflexões de FHC expostas ontem, demorou-se a entender o que tinha acontecido.
Há poucos dias o blog do Luís Nassif publicou pesquisas IBOPE realizadas até no mês em que ocorreu o golpe. Nesta semana, também a Carta Capital fala sobre elas, junto com uma entrevista do historiador Luiz Antônio Dias. Estas pesquisas foram doadas pelo Instituto à UNICAMP. O professor tem feitos estudos e publicado trabalhos sobre elas.
Números e índices publicados por Nassif
Transcrevemos, abaixo, o trecho em que o Nassif publicou números e percentuais da pesquisa. como diz ele “os números são impressionantes”:
· Em junho de 1963, Jango era aprovado por 66% da população de São Paulo, desempenho superior ao do governador Adhemar de Barros (59%) e do prefeito Prestes Maia (38%).
· Pesquisa de março de 1964 revela que, caso fosse candidato no ano seguinte, Goulart teria mais da metade das intenções de voto na maioria das capitais pesquisadas. Apenas em Fortaleza e Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek tinha percentuais maiores
· Havia amplo apoio à reforma agrária, com um índice superior a 70% em algumas capitais.
· Pesquisa na semana anterior ao golpe, realizada em São Paulo a pedido da Fecomercio, apontava que 72% da população aprovava o governo Jango.
· Entre os mais pobres a popularidade alcançava 86%.
· 55% dos paulistanos consideravam as medidas anunciadas por Goulart no Comício da Central do Brasil, em 13 de março, como de real interesse para o povo.
· Entre as classes A e B, a rejeição a Goulart era um pouco maior em 1964. Ao menos 27% avaliavam o governo como ruim ou péssimo na capital paulista.”
Fonte: Blog do Zé Dirceu
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