sábado, 29 de novembro de 2014

"MEU PEQUENO EVANGELHO".


Mauricio de Sousa lança ‘Meu pequeno evangelho’, livro da Turma da Mônica sobre espiritismo


Espírita, primo do pai de Cascão ensina aos personagens a doutrina de Allan Kardec
POR O GLOBO
RIO - A Turma da Mônica agora vai difundir os ensinamentos do espiritismo, doutrina codificada no século XIX pelo francês Allan Kardec. Mauricio de Sousa está lançando "Meu pequeno evangelho" (Editora Boa Nova), livro em que Cebolinha, Cascão, Magali, Anjinho, Penadinho e companhia aprendem os ensinamentos de Jesus contido no "Evangelho segundo o espiritismo", principal obra do kardecismo.
Nas 64 páginas da história ilustrada por Mauricio e idealizada pelo designer peruano Luis Hu Rivas e pelo administrador baiano Alã Mitchell, ambos espíritas, a Turma da Mônica recebe a visita de André, um primo de Seu Antenor, pai do Cascão, que é seguidor da religião.
Em meio à curiosidade das crianças, André apresenta conceitos do evangelho que todos podem usar no dia a dia, independentemente da religião que praticam. Sãomensagens de amor, caridade e humildade, contadas de forma divertida com os personagens.
Ensinamentos sobre felicidade, humildade, pureza, paz, misericórdia, amor, perdão etc. são passados um a um, sempre baseados em situações vividas pelos personagens e que são contadas a André.
O lançamento oficial, com a presença de Mauricio de Sousa, será 13 de dezembro, na livraria Cultura, em São Paulo.

ECONOMIA - Macroeconomia e estratégia.


Macroeconomia e estratégia

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Xi Jinping e Barack Obama, presidentes da China e EUA
Xi Jinping e Barack Obama, presidentes da China e EUA
Pragmatismo chinês sugere: há espaço para governos dispostos a definir políticas segundo suas próprias estratégias, sem submeter-se ao humor dos mercados internacionais
Por José Luis Fiori
Durante o século XX, a esquerda socialista que optou pela reforma progressiva e democrática do capitalismo nunca teve ideias próprias, ou originais, sobre política econômica. Mais do que isto, sempre que governou ou participou de governos de coalizão, depois da I Guerra Mundial, apoiou direta ou indiretamente, a política conservadora e a ortodoxia monetarista, para enfrentar as crises econômicas que se sucederam depois do conflito. Como no caso de Rudolf Hilferding, que foi ministro da Fazenda da Alemanha, em 1928, e promoveu a política monetarista rigorosa que acabou piorando a recessão, aumentou o desemprego e a própria crise, culminando com a ascensão do nazismo e de sua “economia de guerra”. E o mesmo aconteceu com o partido laborista inglês, em 1929, e com a Frente Popular francesa, em 1936, que também adotaram a cartilha ortodoxa, para enfrentar a “crise dos 30”, mas fracassam nos dois casos. A grande exceção, neste período, foi a socialdemocracia sueca, que enfrentou a mesma crise com uma política de acordo social e promoção ativa do crescimento e do pleno emprego. A despeito que seu sucesso seja inseparável do dinamismo regional produzido pela “economia de guerra” nazista. Depois da II Guerra Mundial, a esquerda democrática, socialista e europeia só aderiu à teoria e às políticas de corte keynesiano no final da década de 50. E mesmo assim, nas crises monetárias da Inglaterra e da Alemanha, de 1966 e 1972, os governos de Harold Wilson e Helmut Schimidt, respectivamente, voltaram-se para as receitas da ortodoxia monetarista, que depois se transformaram na bíblia macroeconômica do socialismo neoliberal dos anos 80/90.
Fora da Europa, e na América Latina em particular, depois da II Guerra Mundial., seus governos desenvolvimentistas foram quase sempre conservadores e patrocinaram, em geral, políticas econômicas ecléticas, mantendo um pé na ortodoxia do “tesouro”, e o outro na heterodoxia do “planejamento” ou da “assessoria econômica” da presidência, como no Brasil de Getúlio Vargas e da maioria dos seus governos militares. Mas foi só a partir da segunda metade dos anos 80, que a discussão sobre política econômica adquiriu verdadeira centralidade nos debates acadêmicos e políticos da esquerda latino-americana. No vácuo ideológico criado pela crise socialista dos anos 90, cresceu a importância dos debates macroeconômicos, desencadeando-se às vezes verdadeiras guerras religiosas dentro da esquerda em torno de divergências quase infinitesimais, aos olhos dos leigos. Neste período, o keynesianismo se transformou na língua oficial da maioria dos economistas de esquerda, que também passaram a acreditar na existência de políticas econômicas certas ou erradas, dependendo dos seus fundamentos teóricos, verdadeiros ou falsos. Apesar de a conjuntura e a história apontarem numa direção oposta, como se pode ver pelo acompanhamento das políticas econômicas das principais economias capitalistas neste momento.
Senão vejamos, mesmo que seja a “voo de pássaro”: desde a crise de 2008, os países da União Europeia adotaram políticas econômicas cada vez mais ortodoxas e rigorosas, mas seus efeitos do ponto de vista do crescimento e do emprego têm sido catastróficos; ao mesmo tempo a Inglaterra, seus antigos domínios e o os países escandinavos têm alcançado bons resultados imediatos com as mesmas políticas ortodoxas. Do outro lado deste debate, os EUA vêm tendo sucesso, neste mesmo período, com uma política monetária e fiscal absolutamente heterodoxas; a mesma política heterodoxa, entretanto que vem tendo efeitos desastrosos no Japão, do primeiro-ministro Shinzo Abe. E o mesmo está acontecendo em países de menor dimensão econômica — como Bolívia, Uruguai, Chile e Peru –, onde as políticas ortodoxas produziram resultados positivos durante alguns anos e hoje estão apresentando resultados negativos. Ou seja, do ponto de vista conjuntural, tudo indica que as políticas econômicas dos países variam no espaço e no tempo, e seu sucesso ou fracasso depende de fatores “externos” à própria política econômica, e não da verdade ou falsidade de suas premissas teóricas.


Mas o que mais contradiz este “debate epistemológico” dos economistas é o sucesso extraordinário do ecletismo chinês, que muda suas regras e instituições segundo seus objetivos estratégicos, sem produzir nenhum tipo de susto nos investidores internacionais. Para entender este fenômeno, entretanto, é preciso recorrer a um estudo mais amplo e comparado da história das grandes potências econômicas capitalistas (1). E neste caso, a conclusão do estudo parece apontar numa direção que também vai contra a convicção dos economistas: todos os “grandes ganhadores” seguiram estratégias expansivas e “mercantilistas” durante o seu período de take off, até alcançar seus principais concorrentes. Nesta trajetória ascensional, estes países adotaram várias políticas fiscais e monetárias, ortodoxas ou heterodoxas, dependendo das circunstâncias e do juízo dos seus governantes sobre os desafios aos seus projetos de expansão do seu poder e da sua riqueza. E a verdade é que em nenhum destes casos, a instabilidade ou variação das políticas econômicas de curto prazo afetou a “credibilidade” fiscal ou monetária da economia destes países, durante o tempo em que eles conseguiram vencer e seguiram se expandindo, como no caso atual da China. Ou seja, no longo prazo, a importância da variação das políticas econômicas conjunturais se dissolve, transformando-se numa variável quase irrelevante, para a história de sucesso das grandes potencias capitalistas.

1 J.L.Fiori, História, Estratégia e Desenvolvimento. Para uma Geopolítica do Capitalismo, Editora Boitempo, 2014,

POLÍTICA - A nova esquerda européia.

Europa começa a acreditar em nova esquerda


Pablo Iglesias,
Pablo Iglesias (do Podemos, à esquerda) e Alexis Tsipras (do Syriza) encontram-se em Madri
Colunista do “Financial Times” admite: Podemos e Syriza têm melhor proposta para crise financeira. Sondagens demonstram que dois partidos podem governar
No Esquerda.net
Wolfgang Münchau, um dos mais importantes colunistas do Financial Times, escreveu na edição de 23/11 do jornal que é a esquerda radical que tem razão em relação à dívida europeia. Para quem partilha a opinião, que ele considera consensual, de que a Europa precisa de mais investimento público e de reestruturar sua dívida, a única opção que se lhe apresenta é apoiar o Die Linke na Alemanha, o Syriza na Grécia e o Podemos em Espanha.
“Você pode não se considerar um apoiador da esquerda radical. Mas se vive na eurozona e apoia estas políticas, essa seria a única escolha”, escreveu Munchau.
Elogio ao Podemos
Irónico, o colunista afirma que os partidos social-democratas podem defender esta política quando estão na oposição, mas “logo que chegam ao governo sentem a necessidade de se tornar respeitáveis”.
Dos “partidos radicais que emergiram recentemente na Europa”, Münchau destaca o Podemos: “Pelo que li até agora, pode ser aquele que mais se aproxima, de todos os da eurozona, de apresentar uma abordagem consistente da gestão econômica pós-crise.”
O colunista cita Nacho Álvarez e a sua defesa da redução da dívida, combinando renegociação das taxas de juros, ampliação de prazos, redução do valor (haircut). Em relação ao euro, Álvarez não defende sair da moeda, mas afirma que não insistirá na permanência a qualquer custo. Para Münchau, esta parece uma “posição equilibrada”. Mas na Espanha, observa, “o establishment teme que esta agenda irá converter o país numa versão europeia da Venezuela”.
Nada há de controverso na afirmação de que a dívida é insustentável”
Pelo contrário, afirma o colunista do conservador diário econômico: “Nada há de controverso na afirmação de que a dívida é insustentável e tem de ser reestruturada. Ou de que se o euro for trazer décadas de sofrimento, é perfeitamente legítimo questionar as políticas e instituições da eurozona”.
Para Münchau, “é uma grande tragédia o fato de serem os partidos da extrema-esquerda os únicos a apoiar políticas como a reestruturação da dívida. A subida do Podemos mostra a procura de uma política alternativa. Se os partidos estabelecidos não mudarem de posição, deixarão um grande espaço para o apoio ao Podemos e ao Syriza”.
Sondagens dão vitória a Syriza e Podemos
No dia seguinte à publicação desta opinião do colunista do FT, as sondagens vieram confirmá-lo. Na Grécia, o Siryza aparece em 1º lugar, com 38,5%, com 11,5 pontos à frente da Nova Democracia. A manter-se este resultado, e de acordo com as leis eleitorais da Grécia, o partido liderado por Alexis Tsipras teria maioria absoluta garantida no Parlamento. Na Espanha, o Podemos surge em 1º lugar, com 28,3%, seguido do PP com 26,3% e do PSOE com 20,1%.

DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA - A soberania na corda bamba - filme completo

DoisP - Bancada Ruralista - Alceu Castilho






A bancada ruralista perdeu a vergonha





Alceu Castilho, autor do livro que denuncia “Partido da Terra”, explica como sistema político brasileiro — totalmente vulnerável ao dinheiro — deu ao setor mais atrasado do país poder inédito sobre sociedade


Após analisar a declaração de bens entregues à Justiça Eleitoral por 3 mil políticos eleitos entre 2008 e 2010, e escrever o livro O Partido da Terra, o jornalista e escritor Alceu Castilho afirma: mais que uma bancada, temos um sistema político ruralista. “Chama atenção que muitos tenham a cara de pau de declarar como suas terras griladas, ou seja, da União – não sei quantos mil hectares de terra do Incra, por exemplo. Isso mostra a imensa desfaçatez em burlar as leis do país.”
Se nem em declarações oficiais eles têm discrição, imagine onde têm o domínio – observa Alceu. “Nos rincões do país, onde o Estado não chega, a polícia não chega, a lei é a da pistolagem, o cartório é tomado pelo poder ruralista, o juiz e os desembargadores são também proprietários de terra… ali eles dominam de modo patriarcal, patrimonialista, clientelista e coronelista.”
O poder ruralista, associado às sinistras mazelas do campo brasileiro – grilagem, desmatamento, trabalho escravo e infantil – vem conseguindo lavar sua imagem, com a ajuda de um marketing sofisticado e da velha mídia: “Os mesmos jornais que questionavam a grilagem de terras no extremo oeste do estado de SP — onde nos anos 1950 florestas foram desmatadas e a terra, grilada –, hoje defendem essas famílias”, afirma o jornalista.
Nas eleições de 2014, o JBS Friboi, maior frigorífico do mundo, fez doações para 11 partidos, que elegeram 378 deputados federais e 24 dos 27 senadores – não só da bancada ruralista, mas em geral — inclusive a maior parte dos deputados eleitos do PT. Resultado: hoje com 189 deputados federais e 18 senadores, a bancada ruralista terá mais de 200 parlamentares na próxima legislatura. É sobre esse poder crescente, a ser enfrentado, que o jornalista fala nesta entrevista.

MÍDIA - O que significa sua regulação?

O que significa regular a mídia?


Publicado na bbc.
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Muito falada mas pouco discutida, a regulação da mídia deve deve voltar a ganhar força a partir desta sexta-feira, pois está prevista para ser debatido em uma reunião do PT com início previsto para esta sexta-feira.
A BBC Brasil explica aqui os principais pontos da discussão.
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Por que o tema está sendo debatido agora?
A regulação da mídia é uma bandeira histórica do PT. Durante a campanha à Presidência, o partido pressionou para que a presidente Dilma Rousseff encampasse a discussão em um eventual segundo mandato.
Após sua reeleição, a petista deu algumas declarações defendendo a regulação econômica da mídia. Ela negou repetidamente a intenção de regular conteúdo.
Em entrevista a jornais brasileiros no mês passado, ela disse que “Regulação econômica diz respeito a processos de monopólio e oligopólio.” A presidente deve iniciar uma consulta pública sobre o tema no segundo semestre do ano que vem.
O enviado especial da ONU para liberdade de expressão, David Kaye, destacou, em entrevista à BBC Brasil, a necessidade de evitar monopólios na mídia – com mais competição, segundo ele, é maior a possibilidade de repórteres investigarem histórias que podem não ser favoráveis ao Estado.
“Só é preciso ter mais cuidado para que esta lei não dê ao governo uma forma de controlar o conteúdo”, afirma.
A mídia precisa ser regulada?
Os grupos que defendem a regulação da mídia dizem que o projeto aumentaria a democratização do setor.
O FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação), entidade que reúne diversos grupos que defendem mudanças na regulação, afirma, por exemplo, que cinco grandes emissoras de TV (Globo, SBT, Record, Band e Rede TV!) dominam o mercado brasileiro.
A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), diz, no entanto, que há no país 521 emissoras de TV – a conta inclui TVs regionais que retransmitem, em grande parte, conteúdo das grandes emissoras.
“A democracia se aprofunda em ambientes onde há mais diálogo, onde a diversidade de ideias, as diferenças regionais, têm espaço equilibrado na mídia em geral. O que nós queremos, em resumo, é mais democracia. E o caminho é a criação de um marco regulatório moderno”, disse à BBC Brasil o presidente do PT, Rui Falcão.
Defensores da regulação da mídia destacam que alguns artigos da Constituição que falam do setor não foram regulamentados pelo Congresso.
Eles proíbem monopólios e oligopólios, estabelecem que a programação deve atender a critérios regionais e determinam regras para publicidade.
O presidente da Abert, Daniel Slaviero, afirma que, apesar da demora para regulamentação destes artigos, a mídia já é regulada.
“Quando fala-se em regulação parece que a mídia não é regulada. Isso é um erro, porque temos mais de 650 normas -portarias, decretos ou leis- que regulamentam o setor de comunicação social, não só rádio e TV como impresso.”
Quem seria atingido pela regulação?
No Brasil, emissoras de rádios e TV são concessões públicas – é como se o governo “emprestasse” às empresas o espaço para transmissão, que é um bem público. Por isso, assim como outros setores em que há concessões, são passíveis de regulação.
Jornais, revistas e sites noticiosos não seriam atingidos por esta discussão.
Durante a campanha eleitoral, o PT aumentou o tom de suas críticas à imprensa, principalmente à revista Veja.
O presidente do partido diz que, nesta área, a sigla defende o projeto de lei que dá ao eventual ofendido o “direito de divulgação de resposta gratuita e proporcional à matéria ofensiva, com o mesmo destaque, publicidade, periodicidade e dimensão.”
O governo já apresentou o projeto para regulação?
Há, provavelmente, mais dúvidas do que certezas sobre como seria a regulação da mídia no Brasil. Isso ocorre porque ainda não há um projeto definido.
A presidente Dilma afirma que o debate terá que ser feito com a sociedade. Até agora, ela já afirmou que o foco seria a proibição de monopólios e oligopólios, mas não especificou os critérios.
A posição da presidente contrasta, em parte, com a de seu partido. O PT tem posições mais à esquerda e apoia os movimentos sociais que lutam pela democratização da mídia.
“Não temos como ter posição firmada sobre isso enquanto não conhecermos o projeto concreto. Mas, de antemão, qualquer coisa que interfira no conteúdo tem repulsa e rechaço não só por parte dos veículos e profissionais como da sociedade como um todo, que considera liberdade de imprensa um dos pilares da democracia”, diz o presidente da Abert.
Então qual o projeto que existe?
O FNDC formulou um projeto de lei de iniciativa popular e está, há cerca de um ano, colhendo assinaturas para que a proposta chegue ao Congresso. São necessárias 1,3 milhão de assinaturas – o mecanismo é semelhante ao que criou a Lei da Ficha Limpa.
Entre os principais pontos da proposta estão:
1. Impedir a formação de monopólio e a propriedade cruzada dos meios de comunicação (um mesmo grupo não poderá, por exemplo, controlar diretamente mais do que cinco emissoras, e não receberá outorga se já explorar outro serviço de comunicação eletrônica no mesmo local, se for empresa jornalística ou publicar jornal diário)
2. Veto à propriedade de emissoras de rádio e TV por políticos
3. Proibição do aluguel de espaços da grade de programação (para grupos religiosos ou venda de produtos, por exemplo)
4. Criação do Conselho Nacional de Comunicação e do Fundo Nacional de Comunicação Pública.
O presidente da Abert classifica o projeto como atrasado, porque ele não tem regras, por exemplo, para a internet.
Slaviero afirma também que é um erro confundir rede de programação com propriedades – segundo eles, diferentes emissoras não pertencem ao mesmos donos, mas transmitem em parte conteúdos semelhantes para apresentar novelas e conteúdos nacionais.
Ele diz que a mídia já é plural. Segundo ele, por exemplo, São Paulo tem 21 canais abertos – “só fica atrás de Nova York”.
O representante das emissoras também classifica como “impeto autoritário” a criação de conselhos de comunicação.
Esta proposta inclui regulação de conteúdo?
O projeto aponta diretrizes para a programação de emissoras, sem fazer referência a conteúdo.
A proposta determina, por exemplo, que emissoras afiliadas a uma rede de televisão deverão dedicar pelo menos 30% da grade com produção regional. Já as nacionais precisam destinar 70% da programação a conteúdo nacional, e pelo menos duas horas por dia a jornalismo.
Também há regras relacionadas a crianças e adolescentes, como a proibição de publicidade dirigida a crianças com menos de 12 anos.
Propostas semelhantes a esta provocaram polêmica em 2010, ao serem apresentadas pelo então ministro da Comunicação, Franklin Martins. O projeto, que previa a regulação de conteúdo, foi engavetado pela presidente Dilma.
Mas ainda hoje a proposta de “controle social da mídia” é apontada por críticos como um exemplo de que o PT teria a intenção de censurar a mídia.
Regular a mídia significa restringir a liberdade de imprensa?
O presidente da Abert, Daniel Slaviero, diz que ainda não é possível discutir o significado da regulação econômica, porque o governo não apresentou a proposta. Mas ele é contrário à regulação de conteúdo prevista, por exemplo, no projeto de lei de iniciativa popular.
“Quando se fala em regulação da mídia no sentido de acompanhar, fiscalizar, o conteúdo das emissoras, controle social da mídia, é óbvio que isso tem um viés de interferência no conteúdo, e conteúdo não pode sofrer intervenção. A mídia pode ser responzabilizada pelos eventuais excessos: tem Código Civil, Penal, etc. Mas acho que qualquer iniciativa que, mesmo de forma indireta, interfira no funcionamento é uma interferência indevida.”
Ele usa como exemplo a determinação de um percentual mínimo de tempo dedicado à programação infantil, por exemplo. “Depois determinam para público infanto-juvenil, para jovens-adultos…”, o que retiraria, assim, a liberdade da emissora de determinar sua própria programação.
O presidente do PT, Rui Falcão, afirma que o partido nunca defendeu e não defende a censura.
“Quando a ideia de um conselho – mecanismo usado inclusive em vários países desenvolvidos – foi apresentada pelo governo, ela foi imediatamente demonizada pela mídia monopolizada e sequer foi debatida. Minha posição é de que o tema precisa ser discutido democraticamente, porque o Brasil não pode continuar refém de grupos de interesses.”

POLÍTICA - A piada bolivariana.


ECONOMIA - "É justo alguém votar em Dilma porque recebe o Bolsa Família."


“É justo alguém votar em Dilma porque recebe o Bolsa Família”: Thomas Piketty fala ao DCM

Ele
Ele
 
Thomas Piketty fala inglês com um sotaque francês carregado. Bem humorado, o tom de leveza contrasta com os assuntos que aborda hoje e que estão bagunçando o mundo da macroeconomia, das finanças públicas, da política e das ciências sociais.
O economista lançou em agosto de 2013 “O Capital no Século XXI”, que começou a fazer barulho nos Estados Unidos em abril deste ano e agora chega ao Brasil.
O livro aborda o aumento da concentração de renda em muitos países, o que agrava a situação das desigualdades sociais. Piketty quer alertar, com sua análise, sobre a possibilidade de formação de oligopólios econômicos que existiam há 200 anos em nossos tempos, fortalecidos por uma falta de taxação de grandes fortunas.
O DCM conversou com Piketty um dia depois de sua palestra na FEA-USP. Falamos sobre impostos para os mais ricos, a simpatia do economista por governos de esquerda, as falhas do estado de bem-estar social, as impressões sobre a economia e a política brasileira e também sobre o governo Dilma.
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Você disse que Karl Marx é maior do que Jesus Cristo. Acha mesmo isso ou era brincadeira?
Eu disse isso (risos)? Acho que foi de brincadeira, para responder às perguntas. Temos inúmeros economistas inspiradores, incluindo Marx. Mas eu prefiro, sinceramente, não fazer um ranking deles.
Você disse que a última reforma tributária no Brasil foi em 1960. Nós, brasileiros, estamos muito lentos para cuidar de nossos impostos contra a desigualdade social?
Disse que a última grande alteração no Imposto de Renda brasileiro foi em 1960, mas ocorreram algumas mudanças tributárias desde então. Mas é verdade que vocês precisam de uma reforma ampla nos impostos pelo menos há 15 anos. Adaptações tributárias com taxas progressivas e proporcionais podem ser boas para a realidade de hoje, de um novo século.
Nos anos de Lula e Dilma, não foram realizadas mudanças neste sentido. Eu acho que isso prossegue como uma mudança importante e necessária ao Brasil. O sistema tributário brasileiro não é nada progressista, possui muita taxação indireta que poderia se converter em impostos diretos adequados às rendas. Vocês também têm uma taxação muito pequena na tributação sobre heranças e propriedades. Para fazer isso, uma reforma nos impostos é uma necessidade.
Qual é a sua opinião da economia sob os governos do PT?
Eu acho que o Partido dos Trabalhadores fez um ótimo governo do ponto de vista social, mas poderia fazer mais. E sinceramente não entendo o pessimismo econômico de algumas pessoas com mais um governo de Dilma. Criticam os eleitores mais pobres por terem votado após receber benefícios estatais. Eu acho justo votar em Dilma Rousseff por receber o Bolsa Família e não vejo, sinceramente, nenhum problema nisso, assim como outras pessoas preferem outros candidatos. Mas parece algo das pessoas aqui de São Paulo, enquanto outras regiões, como o norte e o nordeste, pensam de maneira diferente.
O que um segundo mandato de Dilma Rousseff pode fazer de diferente?
Pode fazer uma reforma tributária com impostos progressivos, taxando os mais ricos. O governo também pode buscar uma transparência maior do ponto de vista da renda e da distribuição de riqueza. É uma boa maneira de responder à onda de críticas sobre corrupção e falta de informações. Tenho uma simpatia pelo PT, mas ele pode trabalhar de uma maneira melhor.
Existe um preconceito sobre os impostos para os mais ricos? Os integrantes do chamado 1% do extrato social utilizam a grande mídia para impor sua opinião internacionalmente?
Sim, isso existe e é um problema. Quando você tem uma porção de desigualdades, eles [os ricos] utilizam sua influência através da mídia, principalmente através dos veículos financiados de forma privada, que são guiados pelo dinheiro, e isso se tornou grande sobretudo nos Estados Unidos. No entanto, mesmo com isso, acredito que as forças democráticas se tornaram mais fortes e é um fato que, dentro da história da desigualdade, a taxação descrita pelo meu livro provocará um embate de movimentos de massa pacíficos para o futuro.
Você tem mais simpatia por governos à esquerda?
Depende. Depende de qual tipo de esquerda e de qual tipo de direita.
Me dê um exemplo da França, sua terra natal.
Na França nós temos uma direita que está se tornando extrema, e está ganhando espaço. Disso eu não gosto. O ex-presidente [Nicolas] Sarkozy está muito próximo de [Marine] Le Pen e eles estão querendo prejudicar os direitos de trabalhadores. Por outro lado, uma esquerda stalinista não é interessante. Para mim não é uma guerra entre dois lados, porque isso muda a cada país e a cada período de tempo.
Considerando a situação europeia, qual sua opinião sobre o capitalismo da Escandinávia, com forte presença do governo e forte investimento em educação? Isso pode inspirar o Brasil ou nós precisamos de um modelo econômico próprio?
Acho que não é possível apenas pegar a Escandinávia e levar a um país tão diferente quanto o Brasil. Há coisas a aprender com as nações nórdicas, como Finlândia, Suécia e outras da mesma região. Se você compara países europeus diferentes, os mais desenvolvidos e competitivos possuem altas taxas de impostos. Suécia e Dinamarca possuem 50% da renda de seus PIBs com coleta de impostos. Enquanto isso, os países mais pobres da Europa, como Bulgária e Romênia têm apenas 20% do PIB comprometido com tributos.
Quando as pessoas me falam que deveríamos ter impostos menores para nos tornarmos mais ricos, penso que a Bulgária e a Romênia deveriam ser mais ricas do que a Suécia. Os impostos podem ser bons se você investí-los bem, no uso de serviços públicos eficientes e em infraestrutura.
Há muito o que aprender com essa experiência dos escandinavos, especialmente se você tem um governo eficiente. Um Estado maior é bom se ele for efetivo. A França poderia aprender muito com isso, porque ainda somos muito desorganizados em nossos gastos públicos. No entanto, a Dinamarca e a Suécia possuem um modelo difícil de se adaptar em um capitalismo financeiro global, pois se tratam de países menores. Se você quer combater uma crise econômica mundial, não é suficiente utilizar apenas o modelo escandinavo.
Governos federativos grandes como os Estados Unidos e o Brasil, com milhões de pessoas, possuem um sistema financeiro e bancário mais complexo, difícil de ser regulado como é na Dinamarca. Isso funciona para 10 milhões de população, mas para 200 milhões de brasileiros o trabalho é mais difícil.
Estamos tentando fazer isso na Zona do Euro, mas não obtivemos resultados satisfatórios até o momento. Para conquistar o progresso, precisamos criar mais organizações democráticas e representativas transnacionalmente e de forma política. Como temos barreiras físicas e linguísticas, existe um grande desafio à frente. Estamos tentando criar novos modelos. E acho que todo mundo deveria estar criando novos modelos.
Você acredita que economistas da esquerda ganharam força com a crise mundial de 2008?
Eu acho que é mais complicado do que isso. Em alguns aspectos, a crise gerou questionamentos sobre a regulação do mercado financeiro, que é um argumento de esquerda. Mas, em outros, o papel do governo foi posto em dúvida pela direita na Europa com o aumento das dívidas públicas. Foi de fato uma crise muito diferente de 1929, com efeitos diferentes. Acredito que a reação dos governos em 2008 foi mais rápida, porque no passado eles eram menores.
O Brasil, que tem uma força estatal maior, se saiu bem, comparado com anos anteriores da chamada “Grande Depressão”. Mesmo assim, é mais complicado regular o mercado hoje e isso não significa necessariamente aumentar o tamanho do governo. É mais efetivo mudar o sistema de taxação, reduzir os impostos para algumas pessoas e aumentar para outras que possam pagá-los. A transparência governamental é fundamental no processo, sem necessariamente aumentar a arrecadação. Por todos esses motivos, hoje a situação é mais complexa.
É por essa situação complicada que existe uma grande crítica ao estado de bem-estar social europeu?
Sim, e num certo aspecto eu acho justo criticar o tamanho do governo nos países europeus. Quando você tem cerca de 15% até 20% da receita do PIB, você precisa se perguntar sobre como utilizar esses recursos de uma maneira mais eficiente. Como eu posso reformar os impostos para torná-lo simples e transparente? Isso é totalmente legitimo e pode ser usado para melhorar o bem-estar social sem desmontá-lo.
O governo precisa se tornar funcional, sobretudo para servir bem à sociedade. E a esquerda não precisa ser tão defensiva neste aspecto, porque reformar o Estado não significa diminuí-lo. A esquerda europeia tende a achar que as críticas querem acabar com o governo. Algumas pessoas de fato querem se desfazer do Estado, mas a reforma dos impostos pode ser adaptativa.

COMO É QUE UM CARA DESSES CONSEGUE SER PROCURADOR?

Os boimates bolivarianos do Ministério Público

  Autor: Miguel do Rosário
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Democracia é expor todas as instituições à crítica livre e transparente da sociedade.
Inclusive o Ministério Público, uma instituição fundamental ao combate à corrupção, mas que também deve ser vigiada.
Quem vigia os vigilantes?
O procurador exibicionista que expôs o MPF ao ridículo
SEX, 28/11/2014 – 23:41
ATUALIZADO EM 28/11/2014 – 23:49
Luis Nassif, em
seu blog.
Não há nada que comprometa o esforço geral de uma corporação, do que o exibicionismo de um de seus membros – especialmente quando dispõe de prerrogativas de poder de Estado.
É o caso do Procurador da República em Goiás Ailton Benedito de Souza.
Ontem expôs o MPF ao ridículo, ao agir contra decisão do governo venezuelano de convocar 26 jovens do Brasil para compor uma tal Brigadas Populares de Comunicação.
Imediatamente o procurador Ailton intimou o Itamaraty, em um prazo de dez dias, a levantar a identidade dos jovens sequestrados e investigar uma possível rede de tráfico humano.
Era uma mera notícia de Internet, mencionando a comunidade Brasil, um bairro popular da cidade venezuelana de Cumaná que, com exceção do nome, não tem a menor relação com o país Brasil.
A barriga repercutiu no mundo todo, sendo ironizada em vários idiomas.
Uma barriga desse tamanho basta. Mas a atitude do Procurador em se basear em qualquer factoide para propor ações já virou compulsão.
Tornou-se membro do Instituto Millenium, valendo-se das prerrogativas do cargo para desmoralizar o Ministério Público.
Em maio passado tentou suspender toda a publicidade da Copa do Mundo (http://migre.me/nabDB) por estar “absurdamente divorciada da realidade”.
Montou um catatau de 50 páginas argumentando que “de fato, os brasileiros ficaram bastante esperançosos e que as obras da Copa, que consumiram bilhões de recursos públicos, proporcionassem um legado auspicioso, a ser usufruído nos anos vindouros pela sociedade, que, afinal paga a conta”.. No entanto, “vários empreendimentos projetados para o transporte público e o trânsito foram cancelados ou substituídos por outros de menor impacto, que, primeiro, não serão concluídos a tempo; e, segundo, visam, exclusivamente, mitigar os efeitos da desorganização, da falta de planejamento, da incompetência em executar o que se planejou, relativamente à infraestrutura e aos serviços voltados à realização da Copa, a fim de evitar que o pior”.
Consultasse o próprio MPF, esse despreparado saberia do enorme trabalho que juntou praticamente todos os poderes – do Executivo aos estados, da Polícia ao Ministério Público – na organização do evento. Baseou-se em meras notícias não confiáveis da mídia para sair atirando.
Em novembro de 2011, processou professores por desacato, depois de terem ido ao MPF-GO denunciar supostos desvios de verba do Fundeb (Fundo de Desenvolvimento do Ensino Básico) pela prefeitura de Goiânia.
Quando foi lançado o programa Mais Médicos, viu mais uma oportunidade de aparecer. Com base em notas de jornal, instaurou um inquérito civil-público para apurar “possíveis ações e omissões das administrações públicas – em todas as esferas – a respeito do programa Mais Médicos” (http://migre.me/nabUf).
Baseava-se exclusivamente em reportagens mal apuradas, sem a preocupação em aprofundar as investigações. Indagado sobre a razão do inquérito, alegou que:
“Primeiro: a notícia de que municípios estariam substituindo profissionais próprios por médicos do “Mais Médicos”. Segundo: a notícia de que profissionais originários de Cuba estariam sofrendo algum tipo de violação aos seus direitos, principalmente o direito de se locomover no território nacional. Terceiro: a situação de abandono do programa por médicos que se inscreveram no programa e ingressaram na atividade”( http://migre.me/nac3x).
Se amanhã um jornal noticiar que há indícios de propina no escavamento das crateras da Lua, não se tenha dúvida e que o bravo procurador atuará firmemente em defesa da moralidade intimando os lunáticos.
O procurador tem um blog, o “Bendito Argumento”, onde elabora textos assim:
“Portanto, todos nós, queiramos ou não, participamos ou omitamos, ajamos ou quedamos, ativos ou passivos, independentemente de nossos sonhos e pesadelos, virtudes e vícios, desejos e repulsas, crenças e incredulidades, saberes e ignorâncias, bravura e covardia, riquezas e misérias etc., somos seres políticos. E, como tais, responsáveis perante nós mesmos, as famílias, a sociedade, o mundo no qual vivemos”.
(…) Se eu fosse cruel, torceria pela vitória daqueles que almejam transformar a democracia do Brasil numa cópia dos regimes ditatoriais bolivarianos, para que eles fossem devorados pelo Saturno dos seus sonhos”.
Em seus textos, Ailton denuncia a “propaganda eleitoral subliminar”, “sobretudo a que se utiliza da máquina pública”.
Define a tal propaganda eleitoral subliminar como aquela que “consubstancia mensagem que não ultrapassa o limiar da consciência, que não é suficientemente intenso para penetrar na consciência, mas que, pela repetição ou por outras técnicas, pode atingir o subconsciente, afetando as emoções, desejos, opiniões; subconsciente. Nessa perspectiva, a propaganda política também se serve das técnicas subliminares para chegar à inconsciência dos cidadãos, sobretudo os eleitores, especialmente durante os processos eleitorais. Todavia, não é incomum que tais processos perdurem todo o período que medeia entre a posse dos eleitos num pleito e o próximo. Noutras palavras, políticos estão sempre em campanha, muitas das vezes sem que o cidadão-eleitor tenha consciência”.
Em um dos artigos, deblaterou contra a afirmação de Dilma Rousseff, de que poderia utilizar as Forças Armadas nas manifestações contra a Copa:
“Por que, em lugar usar que “o Exército pode agir contra manifestações anti-Copa”, não se determinar aos órgãos competentes, responsáveis pela segurança pública, que façam uso da apropriado da Lei de Segurança Nacional para punir os que atentam contra a democracia, o Estado de Direito, os direitos fundamentais dos brasileiros, seja antes, durante ou depois da Copa? Pois que, sendo necessário, que se invoquem as Forças Armadas para defender a sociedade, a democracia, o Estado de Direito, não a #CopaDasCopas” (http://migre.me/nacLy)”.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

ECONOMIA - Marx, Jesus.

“Marx é possivelmente mais importante que Jesus”: como foi a palestra de Piketty em SP

Piketty em sua palestra na USP
 
Estive ontem na Faculdade de Economia e Administração da USP, a FEA, para assistir a palestra do economista francês Thomas Piketty promovendo seu livro “O Capital do Século XXI”.
O escritor comparou Karl Marx com Jesus Cristo ao responder uma pergunta e explicou como seu livro não é sobre crescimento da desigualdade de renda, mas sim sobre concentração de capital e como isso atrapalha o crescimento econômico.
Embora os cursos de economia e administração sejam conhecidos por terem alunos e professores mais conservadores ou de direita, a plateia estava bem diversificada. Um dos presentes, sentado atrás de mim, estava usando uma camiseta vermelha com o símbolo da foice e do martelo.
Piketty explicou que seu livro trata de concentração de renda e não necessariamente do crescimento da desigualdade, sua consequência direta. “E não tenho problemas com as pessoas discordarem das minhas conclusões neste estudo, que inclui países latino-americanos. Em muitos casos, as ciências sociais podem apontar para conclusões particulares e há nações com casos muito peculiares, como é o próprio Brasil”, disse.
Tentou falar em inglês, embora seu sotaque de um francês carregado o tornasse complicado de entender.
O livro de Thomas Piketty é separado em quatro grandes partes, com seus temas: “1. Renda e Capital”, “2. A dinâmica da relação capital e renda”, “3. A estrutura da desigualdade”, “4. Regulando o capital no século XXI”.
A apresentação abordou mais a segunda e a terceira partes, que chamaram atenção tanto da mídia liberal quanto dos seguidores do marxismo econômico. Piketty avisou que os gráficos estão presentes na internet.
“No período pós-Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e o Japão passaram por uma redução de desigualdade social entre 1930 e 1940. Entretanto, esse índice voltou a subir e o mundo está acompanhando esse fluxo de concentração, em maior ou menor escala”, mostrou Piketty através de tabelas. “Isso é um fenômeno cíclico. Se você melhora a distribuição do capital, isso diminui a desigualdade. Assumimos que isso é uma constante, mas por enquanto ninguém tem motivos para pensar de maneira diferente”.
“A Europa passou por uma situação diferente. A guerra provocou uma falta de investimentos na iniciativa privada, causando um impacto no pensamento europeu. Desta forma, geração de riqueza e fortalecimento do PIB através de ações estatais foram importantes para o desenvolvimento de um Estado de Bem-Estar Social. Todo mundo passou a ter acesso a moradia e estrutura financeira no Reino Unido, na França e na Alemanha, criando uma distribuição mais igualitária do capital”, pontuou, comprando ao caso dos EUA, em que a economia é baseada na concorrência supostamente meritocrática.
Thomas Piketty fez várias críticas sobre a situação econômica do Brasil.
“Há poucas informações fiscais realmente confiáveis na econômica brasileira. Isso é um problema para saber a real situação da distribuição de riqueza. O Brasil precisa de mais transparência para produzir informações que identifiquem quais grupos estão se beneficiando do crescimento nacional”, disse.
Curiosamente, Piketty está utilizando hoje tanto os dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) do IBGE, que apontou uma redução de 50% para 45% da riqueza concentrada entre os brasileiros mais ricos entre 2007 e 2012, quanto dados da UnB dos pesquisadores Fabio Avila Castro, Marcelo Medeiros e Pedro H. G. F. Souzas, todos do Ipea.
Na segunda pesquisa, a riqueza dos 5% dos mais ricos no Brasil cresceu de 40% para 44% entre 2006 e 2012, de acordo com suas declarações de Imposto de Renda. Esse último levantamento foi divulgado em agosto deste ano e é inspirado nas pesquisas do próprio Thomas Piketty.
“Esse aumento da desigualdade social decorrente da concentração de renda deve mudar a forma como lidamos com demanda em tempos de globalização. As melhores universidades americanas, por exemplo, mantêm seus quadros, mas a situação de quem não tem acesso a uma educação de qualidade é preocupante”, criticou o economista. “O acesso à educação é um dos métodos para reduzir a economia desigual e ter um desenvolvimento mais saudável da riqueza”.
Após a palestra, foram chamados os economistas Paulo Guedes, colunista da revista Época e do jornal O Globo, fundador Instituto Millenium e do Banco Pactual, além de André Lara Rezende, ex-presidente do BNDES na gestão de Fernando Henrique Cardoso.
Rezende questionou se não existe mais mobilidade econômica e social com as mudanças nos rankings de bilionários de revistas como a Forbes, considerando que há até brasileiros enriquecendo e ganhando destaque. Piketty elegantemente discordou: “Uma mobilização similar existia no final século 19, quando surgiu uma empresa francesa de destaque como a L’Óreal e ainda existiam grandes oligopólios familiares”.
Paulo Guedes elogiou o livro, que critica até Karl Marx na questão do acúmulo infinito de capital. “Normalmente tratam Marx como Jesus Cristo, por isso sua obra é muito feliz na análise”, afirmou o economista brasileiro formado pela Universidade de Chicago. No entanto, ele questionou o foco da crítica apenas na concentração de renda e duvidou que um aumento de impostos para os mais ricos ajudaria a mudar a situação, considerando um quadro inflacionário alto e uma depreciação monetária na globalização.
“Marx é possivelmente mais importante que Jesus”, brincou Piketty. Em seguida, fez uma crítica direta ao raciocínio de Guedes: “Certamente é mais fácil imprimir dólares, mas é muito mais difícil e necessário redefinir os impostos. Eu prefiro taxas progressivas de impostos para controlar a riqueza. Muitos impostos como no Brasil não resolvem, e nem zerar as taxas deixando que o mercado se regule”.
Infiltração bolivariana na plateia
Infiltração bolivariana na plateia
 
“Comecei a abordar a questão da concentração de renda e a necessidade de mais igualdade a partir de Declaração dos Direitos Humanos e do Cidadão da Revolução Francesa de 1789. A desigualdade não é um problema em si, mas passa a prejudicar o crescimento econômico quando beneficia apenas alguns grupos ao invés do bem social”, frisou o francês.
Afirmou que sua análise passa longe de teses apocalípticas sobre a economia, mas aponta para problemas que podem se acirrar com a má distribuição de capital. “Este não é um livro pessimista, como alguns podem pensar. Eu acredito na globalização e em como todos podem se beneficiar dela. O problema é que falta transparência e a corrupção com desigualdade tornaram-se um pesadelo para países pós-revoluções. O Brasil tem esse problema, mas posso garantir que não é pior do que a China”, explicou.
Paulo Guedes questionou Piketty sobre como o PT fez o Brasil crescer nos últimos anos e agora levou a economia até um estágio de estagflação. Indagou novamente se um imposto sobre os mais ricos resolveria o atual problema. “Tive um debate interessante com Bill Gates sobre isso e ele me disse que não quer pagar mais impostos. Sugeriu uma taxação sobre o consumo”, respondeu.
“Eu entendo esse comentário, mas isso beneficiaria apenas ele, que investe em filantropia e não é consumista, embora ainda seja um dos maiores bilionários do mundo. Um pobre que consome muito ainda seria prejudicado por essa medida. Por isso, eu acredito muito mais em taxas proporcionais à renda, e não a outros parâmetros”.
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MÍDIA - "Não somos rascistas"

E o diretor de jornalismo da Globo diz que não somos racistas …

Merchandising do livro numa novela da Globo
Merchandising do livro numa novela da Globo
Não existe racismo no Brasil.
É, pelo menos, o título de um livro de Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo.
Nos últimos tempos, sempre que surgiram notícias que escancaram o racismo no Brasil, o livro de Kamel me vinha a cabeça.
Não exatamente o livro, mas a tese, a frase peremptória do título.
Não existe racismo no Brasil.
Vejo uma estatística: sete em cada dez mortos violentas são de negros.
A Anistia Internacional Brasil acaba de lançar uma campanha: “Jovem Negro Vivo”. “É quase um extermínio em massa”, diz o diretor da Anistia. Segundo a Anistia, 25 000 jovens negros são assassinados por ano no Brasil.
Sob indiferença generalizada, o que é pior.
A Anistia nota uma diferença. Nos Estados Unidos, quando a polícia mata um negro em circunstâncias suspeitas, irrompe uma revolta imediatamente.
No Brasil, não.
Quem não se lembra de Claudia, arrastada num carro de polícia? E de tantos outros?
Mas Kamel conseguiu escrever um livro cujo título é Não Somos Racistas.
Fui lê-lo.
Encontrei no Scribd, um site de livros digitais.
Em nenhum momento ele consegue ser convincente em seu ponto. O máximo a que chega é que é socialmente vergonhoso, no Brasil, ser racista. Bem, como se vê pela postagem abaixo, ou pelo número de torcedores do Grêmio que chamaram o goleiro Aranha de macaco, há quem discorde.
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E ainda que fosse “vergonhoso”.
Quando a polícia vai fuzilar você, porque você é negro e está numa favela, você tem alguma chance de escapar se disser a seu carrasco que é uma vergonha o que ele está prestes a fazer?
O livro de Kamel ilumina pouco o tema do racismo. Em compensação, projeta muitas luzes sobre o próprio Kamel.
Já começa nos agradecimentos. Os patrões são entusiasmadamente elogiados. Os três. Por promoverem um “jornalismo plural”.
Não se trata apenas de bajulação. Mas de um aplauso que simplesmente não faz sentido. A não ser que pluralidade, na mente de Kamel, seja Merval, Jabor, Míriam Leitão, Sardenberg, Noblat, Waack, para ficar em alguns.  Sem contar ele próprio, é claro.
É uma pluralidade absolutamente singular: todos pensam igual. Igual aos patrões, naturalmente.
O livro também é revelador na raiva que Kamel tem de Lula, e no amor por FHC.
A FHC são dados todos os créditos por ter feito do Brasil um país maravilhoso, aspas. Lula, em compensação, se limitou a copiar – canhestramente – FHC.
Lula, para Kamel, fez mal tudo aquilo que FHC fez bem.
Há também uma coisa que conta muito sobre Kamel – e a cultura livresca das Organizações Globo. A obsessão por ver seu nome na capa de um livro.
Não Somos Racistas é uma compilação preguiçosa de artigos. Merval fez o mesmo com os textos que escreveu sobre o Mensalão, e terminou na Academia Brasileira de Letras.
Não sei se este é o destino sonhado por Kamel.
Tudo aquilo somado, da negação do racismo se chega a uma outra tese: a de que as cotas para negros são um erro – mais um – de Lula.
Acho, particularmente, uma besteira torrencial, mas enxergo isso sob outro ângulo. Os irmãos Marinhos são contrários às cotas. Logo, Kamel também é – e muito.
Em meus dias de Conselho Editorial da Globo, notei nas reuniões o seguinte: Kamel e Merval, os mais falantes do grupo, como que disputavam para ver quem era mais a favor das ideias da família Marinho.
O livro de Kamel não se sustenta, na teoria que defende, nem no próprio Roberto Marinho. Se não fôssemos racistas, Roberto Marinho não passaria pó de arroz para embranquecer a pele morena, conforme conta Pedro Bial na biografia que escreveu sobre o dono da Globo.

ECONOMIA - FHC também fez gambiarra.

    

FHC também fez gambiarra para tentar cumprir meta fiscal



Do Blog do Camarotti, no G1:


No meio do tiroteio para aprovar a mudança na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o governo resgatou um precedente da época de Fernando Henrique Cardoso em que o superávit primário não foi cumprido.
Atualmente, governistas e oposicionistas travam um embate em torno do projeto que altera a LDO. O texto autoriza o governo a não cumprir a meta do superávit primário (economia para pagamento de juros da dívida pública). A oposição é contra.
Um atento leitor do Blog lembra que, no governo do PSDB, a Lei 9.995, de julho de 2000 (a LDO para 2001) foi aprovada já sob a vigência da Lei de Responsabilidade Fiscal e definiu a meta fiscal para o ano de 2001.
Editada em maio de 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal atribuiu à LDO a incumbência de disciplinar novos temas específicos, em particular, o equilíbrio entre receitas e despesas e metas fiscais anuais para um período de três anos.
Em 2001, o valor previsto do resultado primário dos orçamentos fiscal e da seguridade social era de 2,60% do Produto Interno Bruto (PIB), o equivalente a R$ 32,3 bilhões.
Posteriormente, uma nova lei (número 10.210, de 23 de março de 2001), alterou a meta de resultado primário para R$ 28,1 bilhões, o equivalente a 2,25% do PIB.
Com isso, a meta do resultado primário para 2001 foi reduzida em cerca de R$ 4 bilhões, ou 0,31% do PIB.
Ainda assim, em 2001, o resultado primário obtido pelo Governo Central foi de R$ 21,9 bilhões, o correspondente a 1,70% do PIB. Assim, mesmo com o ajuste promovido pelo governo na época, não se conseguiu cumprir a meta estabelecida.

ECONOMIA - Brasi tem boa saúde fiscal


Brasil tem boa saúde fiscal, por Diogo Costa


Por Diogo Costa
EM TEMPOS PRÓ OU ANTICÍCLICOS, UMA BOA SAÚDE FISCAL - Há uma paranoia injustificável em relação ao tema do superávit primário.
Em primeiro lugar, nos últimos 20 anos, entre 1994 e 2013, em apenas duas oportunidades o Brasil apresentou déficit primário. Foi nos anos de 1996 e 1997, no primeiro governo de FHC-PSDB.
Nos outros 18 anos o Brasil sempre teve superávit primário (somos um dos países mais saudáveis da face da Terra).
Com exceção do primeiro governo do PSDB - 1995 a 1998 - quando o superávit ficou em patamares irrisórios (e a dívida pública explodiu), nota-se que este percentual sempre foi bastante elevado.
Os maiores superávits primários dos últimos 20 anos aconteceram no último ano do governo de Itamar Franco, em 1994, e no primeiro mandato de Lula(2003 a 2006, com um recorde de 4,84% do PIB em 2005).
A curva do superávit primário no governo Dilma Rousseff é descendente e acompanha os movimentos da intensa crise econômica internacional, que iniciou com o Crash em 15 de setembro de 2008 (política anticíclica se faz diminuindo os superávits, vide o governo Lula em 2009 e 2010).
Pouca gente sabe, mas até 2008 os governos do Partido dos Trabalhadoresacumularam grandes superávits fiscais e comerciais, numa política tipicamente pró-cíclica.
Depois do Crash, como não poderia deixar de ser, a política econômica anticíclica teve que contar com superávits fiscais menores para ser implementada.
Ou fazíamos isto ou o desemprego estaria hoje na casa dos dois dígitos e o Brasil teria mergulhado numa crise social sem precedentes.
O novo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy (Secretário do Tesouro Nacional no primeiro mandato de Lula), sinalizou que a meta para 2015 será de um superávit primário do setor público consolidado na casa de 1,2% do PIB.
Não é nenhum absurdo e seria, com exceção de 2014, o menor superávit dos últimos 17 anos.
Ou seja, não haverá arrocho algum e o tal do "ajuste", se é que é mesmo necessário, será feito de forma gradual para preservar os avanços sociais dos últimos 12 anos.
Por fim, apenas lembro que os EUA e a União Europeia trabalham com imensos déficits primários desde 2009. E uns e outros ainda dizem que é o Brasil que "não faz o dever de casa..."
Segue logo abaixo a série história dos superávits.
1) Superávit primário do setor público consolidado como proporção do PIB (1994/2013):
1994: 5,21%
1995: 0,27%
1996: -0,09%
1997: -0,95%
1998: 0,01%
1999: 3,19%
2000: 3,46%
2001: 3,64%
2002: 3,89%
2003: 4,25%
2004: 4,59%
2005: 4,84%
2006: 4,32%
2007: 3,98%
2008: 4,07%
2009: 2,06%
2010: 2,78%
2011: 3,11%
2012: 2,38%
2013: 1,90%
2014: ?
2015: proposta de 1,2% do PIB. 

O TALIBÃ no divã.


                                    

BBC: O Talibã no Divã

'Eles choravam, eu os confortava'; veja relato do psiquiatra que tratava talebãs

Tahir QadiryDa BBC News em Mazar-e-Sharif, Afeganistão
  •  

Arquivo/Getty
No final da década de 1990, o Talebã controlava o Afeganistão. Mas os anos de guerra que levaram o grupo militante islâmico ao poder deixaram vários de seus combatentes sofrendo de graves problemas psicológicos.
Ao perceber a extensão do problema, um psiquiatra afegão aceitou tratar ex-combatentes do grupo, mesmo não concordando com a ideologia do Talebã.
"Lembro do primeiro grupo do Talebã que veio me ver", contou Nader Alemi à BBC. "Eles costumavam vir em grupos, não como indivíduos. Quando eu tratava um, ele espalhava a notícia".
"Combatentes apareciam com um pedaço de papel com o meu nome. Eles diziam que eu tinha curado o amigo e queriam ser curados também. A maioria nunca tinha ido a um médico antes."
Alemi é conhecido no Afeganistão e trabalha no norte do país, em Mazar-e-Sharif. As forças do Talebã capturaram a cidade em agosto de 1998 e assumiram o controle de grande parte dos arredores.
Ele era o único psiquiatra do norte do Afeganistão que também falava o idioma corrente entre os talebãs, o pashto.
"(O) Idioma era muito importante, por eu falar o idioma deles, eles se sentiam confortáveis para se abrir", disse.
Audiência com o governador
Alemi relata o episódio de quando foi convocado pelo governador de província e membro do Talebã Akthar Osmani. O mulá Akhtar era o segundo em comando do grupo, atrás apenas do mulá Omar, que também era líder espiritual do Talebã.
A razão que me davam para tentar explicar a confusão em suas mentes era a incerteza de suas vidas.
"Ele estava ouvindo vozes e sofrendo alucinações, os guardas-costas me disseram que ouviam quando ele delirava à noite", disse Alemi.
"Este homem esteve na linha de frente sabe-se lá por quanto tempo, e vai saber quantas pessoas ele viu morrer. Todas aquelas explosões e gritos podem ainda estar ecoando na cabeça dele, mesmo no conforto de seu gabinete."
Leia mais: Morte de líder do Talebã no Paquistão pode comprometer negociações de paz
Alemi queria fazer consultas regulares com o mulá Akhtar. Mas o paciente tinha que sair em missões do Talebã a cada três meses, e comparecia apenas a poucas consultas. Em 2006, Akhtar foi morto em um ataque aéreo.
O psiquiatra também tratou outros membros importantes do Talebã.
"Ficamos meio que amigos. (Um deles) Me pediu para ir vê-lo em seu quartel-general - ele estava sofrendo de depressão e dores crônicas, receitei remédios para aliviar os sintomas", afirmou.
"Não lembro os números exatos dos que vieram me consultar, mas devem ser milhares. Tratei deles por quase três anos, antes de Mazar ser recapturada em novembro de 2001."
Sem tempo
A grande maioria de seus pacientes nunca tinha a um médico antes, e Alemi constatou que isso não era devido a algum tipo de proibição imposta pelos seus comandantes.
"Para ser honesto, eles estavam tão envolvidos com a missão e rotina diáia que não tinham tempo para medicação. Surpreendentemente, todos eles acreditavam em meus tratamentos."
"A razão que me davam para tentar explicar a confusão em suas mentes era a incerteza de suas vidas. Eles não tinham controle sobre o que estava acontecendo com eles. Tudo estava nas mãos de seus comandantes. Eles ficavam deprimidos pois nunca sabiam o que aconteceria de um minuto para outro", afirmou.
"A maioria deles não via a família havia meses ou anos, eles não tinham visto os filhos que já estavam crescidos."
O psiquiatra descobriu que muitos combatentes queriam morrer e detestavam suas vidas. "Eles me diziam que (queriam) cometer suicídio, mas não podiam, por causa dos valores islâmicos."
BBCAlemi conta que, apesar de não concordar com a ideologia, tratava os talebãs como seres humanos
"Eu costumava tratar os talebãs como seres humanos, o mesmo que faço com meus outros pacientes... mesmo sabendo que eles causaram todos os problemas de nossa sociedade. Às vezes, eles choravam e eu os confortava", disse.
Saúde mental afegã
Em 2010, o Ministério da Saúde do Afeganistão informou que dois terços da população sofria de alguma doença mental e que as principais razões seriam violência, pobreza, violência doméstica, desemprego e vício em drogas.
Em 2006, a Organização Mundial de Saúde (OMS) relatou que menos de 1% do treinamento médico estava voltado para saúde mental.
Em meio a este quadro, fica mais fácil entender o tamanho do desafio enfrentado por Alemi.
Ele relata as dificuldades de dar continuidade ao tratamento de combatentes, que estavam sempre saindo para novas missões.
O preço de uma consulta era o equivalente a US$ 1 (cerca de R$ 2,53) e ele também passou a tratar de esposas e filhas de combatente.
"Elas também sofriam de depressão, pois não viam os maridos, pais, por um longo tempo e não sabiam o como seria o futuro."
Até a famosa polícia religiosa, a Amr Bil Ma'ruf, deixava Alemi trabalhar. O psiquiatra lembra como um dia os policiais estavam gritando em um alto-falante, falando para as pessoas saírem do trabalho e ir para a mesquita rezar, mas ele ainda estava em meio às consultas com pacientes.
"Um dos meus funcionários gritou de dentro do prédio: 'o doutor está ocupado vendo pacientes'", disse Alemi. Os policiais do Amr Bil Ma'ruf gritaram de volta: "Tudo bem, deixe ele trabalhar".
Escola clandestina
Ao mesmo tempo em que atendia os talebãs, a esposa de Alemi, Parvin, mantinha uma escola clandestina que dava aulas a cerca de cem meninas. Sob o governo do Talebã as meninas não podiam estudar.
BBCO hospital particular onde Alemi atende, em Mazar-e-Sharif
"Tudo o que eu queria era educar as meninas. Agora, algumas são médicas, engenheiras e professoras. (...) Elas dizem que teriam ficado analfabetas se eu não as tivesse ensinado", disse Parvin.
Entre as alunas estavam as filhas do psiquiatra. Hoje, uma é médica e duas são professoras.
"Mantínhamos a escola em segredo. Pedíamos a nossas alunas que não contassem a ninguém. Era uma decisão perigosa, mas tenho orgulho que ter assumido o risco", acrescentou.
O casal temia ser pego, mas Alemi afirma que talvez o Talebã o visse de forma mais benevolente.
"Como eu não tinha nenhuma ambição ou interesse político, tenho certeza de que, mesmo se eles descobrissem nossa escola clandestina, ficariam calmos, pois sabiam que tudo o que eu queria era ajudar os outros."
Mais de 15 anos depois, Alemi ainda trata de afegãos traumatizados pelo conflito. As filas em seu hospital avançam pelos corredores, homens e mulheres em grupos separados. Eles sofrem de depressão e pesadelos.
Os problemas continuam os mesmos: incerteza, privações e não saber o que o futuro pode trazer.