O manifesto e a malandragem de O Globo
Por Altamiro Borges
Na segunda-feira (24), um grupo de intelectuais, lutadores sociais e ativistas digitais – de várias origens e partidos políticos – lançou o manifesto “Em defesa do programa vitorioso nas urnas”. O objetivo era criticar a violenta ofensiva da direita derrotada nas eleições, que tenta enquadrar a presidenta Dilma Rousseff e, ao mesmo tempo, cobrar do novo governo uma postura mais ousada para avançar nas mudanças no Brasil. O texto teve ampla repercussão nas redes sociais, ecoou no Palácio do Planalto e foi objeto das intrigas e das futricas da mídia oposicionista. Nesta quinta-feira (27), o jornal O Globo reconheceu publicamente o impacto do documento e dedicou um editorial – intitulado malandramente de “Cegueira ideológica no manifesto petista” – para desqualificá-lo.
Os barões da mídia – que fizeram campanha aberta e criminosa contra a reeleição de Dilma Rousseff, conforme comprovado pelo site “Manchetômetro” e que agora esperneiam para impor o programa dos derrotados ao novo governo – não aceitam a legítima pressão de outros setores da sociedade. Para eles, a luta de classes deveria ser extinta, de preferência nos porões da ditadura ou por um decreto tucano. O jornal da famiglia Marinho, que faz pressão para impor seus ministros e seu programa neoliberal de austeridade fiscal, aperto monetário, privatização, arrocho salarial e desemprego, sentiu o impacto do manifesto e, por isso, tenta ridicularizá-lo. Trata seus signatários como esquerdistas que não enxergam a realidade e que vivem num “mundo visto pela lógica das ideologias”.
Para o jornal O Globo, que defende os interesses dos banqueiros e dos latifundiários, o documento peca por criticar as escolhas do rentista Joaquim Levy e da ruralista Kátia Abreu para o ministério de Dilma. A tentativa de demonizá-los, afirma o diário, confirmaria a visão maniqueísta de setores da esquerda, que “parecem acometidos de um purismo tardio e fora de época”. Para o jornal, a confirmação destes nomes seria a prova cabal da força do “deus-mercado”. “Esses militantes poderão se sentir traídos por Dilma. Mas terá de ser reconhecido que a presidente reeleita demonstrou admitir algo, de forma implícita, por sobre suas convicções ideológicas: que o Estado brasileiro ruma para a insolvência, devido ao fracasso da sua política do ‘novo marco macroeconômico’”.
“O manifesto falseia ao afirmar que possíveis nomeações de ministros ‘sinalizam uma regressão da agenda vitoriosa nas urnas’. Faltou atenção aos redatores: se em nenhum momento a candidata Dilma disse dos palanques o que faria em termos de política econômica, também não foi enfática na defesa da manutenção dos rumos. Alardear que está a favor da manutenção de empregos e dos pobres é o mesmo que defender em praça pública a luz elétrica e a água encanada. Ninguém discorda. O problema é fazer com que não faltem nem luz nem água. E esta é responsabilidade direta da presidente, e não do PT e de seus militantes”, concluiu o editorial, que não esconde o seu titânico empenho em impor a agenda dos derrotados à presidente reeleita.
Em síntese: O Globo reconheceu a força do manifesto, que reproduzo abaixo – só para irritar os editorialistas a soldo da famiglia Marinho:
*****
Em defesa do programa vitorioso na urna
A campanha presidencial confrontou dois projetos para o país no segundo turno. À direita, alinhou-se o conjunto de forças favorável à inserção subordinada do país na rede global das grandes corporações, à expansão dos latifúndios sobre a pequena propriedade, florestas e áreas indígenas e à resolução de nosso problema fiscal não com crescimento econômico e impostos sobre os ricos, mas com o mergulho na recessão para facilitar o corte de salários, gastos sociais e direitos adquiridos.
A proposta vitoriosa unificou partidos e movimentos sociais favoráveis à participação popular nas decisões políticas, à soberania nacional e ao desenvolvimento econômico com redistribuição de renda e inclusão social.
A presidenta Dilma Rousseff ganhou mais uma chance nas urnas não porque cortejou as forças do rentismo e do atraso e sim porque movimentos sociais, sindicatos e milhares de militantes voluntários foram capazes de mostrar, corretamente, a ameaça de regressão com a vitória da oposição de direita.
A oposição não deu tréguas depois das eleições, buscando realizar um terceiro turno em que seu programa saísse vitorioso. Nosso papel histórico continua sendo o de derrotar esse programa, mas não queremos apenas eleger nossos representantes políticos por medo da alternativa.
No terceiro turno que está em jogo, a presidenta eleita parece levar mais em conta as forças cujo representante derrotou do que dialogar com as forças que a elegeram.
Os rumores de indicação de Joaquim Levy e Kátia Abreu para o Ministério sinalizam uma regressão da agenda vitoriosa nas urnas. Ambos são conhecidos pela solução conservadora e excludente do problema fiscal e pela defesa sistemática dos latifundiários contra o meio ambiente e os direitos de trabalhadores e comunidades indígenas.
As propostas de governo foram anunciadas claramente na campanha presidencial e apontaram para a ampliação dos direitos dos trabalhadores e não para a regressão social. A sociedade civil não pode ser surpreendida depois das eleições e tem o direito de participar ativamente na definição dos rumos do governo que elegeu.
Na segunda-feira (24), um grupo de intelectuais, lutadores sociais e ativistas digitais – de várias origens e partidos políticos – lançou o manifesto “Em defesa do programa vitorioso nas urnas”. O objetivo era criticar a violenta ofensiva da direita derrotada nas eleições, que tenta enquadrar a presidenta Dilma Rousseff e, ao mesmo tempo, cobrar do novo governo uma postura mais ousada para avançar nas mudanças no Brasil. O texto teve ampla repercussão nas redes sociais, ecoou no Palácio do Planalto e foi objeto das intrigas e das futricas da mídia oposicionista. Nesta quinta-feira (27), o jornal O Globo reconheceu publicamente o impacto do documento e dedicou um editorial – intitulado malandramente de “Cegueira ideológica no manifesto petista” – para desqualificá-lo.
Os barões da mídia – que fizeram campanha aberta e criminosa contra a reeleição de Dilma Rousseff, conforme comprovado pelo site “Manchetômetro” e que agora esperneiam para impor o programa dos derrotados ao novo governo – não aceitam a legítima pressão de outros setores da sociedade. Para eles, a luta de classes deveria ser extinta, de preferência nos porões da ditadura ou por um decreto tucano. O jornal da famiglia Marinho, que faz pressão para impor seus ministros e seu programa neoliberal de austeridade fiscal, aperto monetário, privatização, arrocho salarial e desemprego, sentiu o impacto do manifesto e, por isso, tenta ridicularizá-lo. Trata seus signatários como esquerdistas que não enxergam a realidade e que vivem num “mundo visto pela lógica das ideologias”.
Para o jornal O Globo, que defende os interesses dos banqueiros e dos latifundiários, o documento peca por criticar as escolhas do rentista Joaquim Levy e da ruralista Kátia Abreu para o ministério de Dilma. A tentativa de demonizá-los, afirma o diário, confirmaria a visão maniqueísta de setores da esquerda, que “parecem acometidos de um purismo tardio e fora de época”. Para o jornal, a confirmação destes nomes seria a prova cabal da força do “deus-mercado”. “Esses militantes poderão se sentir traídos por Dilma. Mas terá de ser reconhecido que a presidente reeleita demonstrou admitir algo, de forma implícita, por sobre suas convicções ideológicas: que o Estado brasileiro ruma para a insolvência, devido ao fracasso da sua política do ‘novo marco macroeconômico’”.
“O manifesto falseia ao afirmar que possíveis nomeações de ministros ‘sinalizam uma regressão da agenda vitoriosa nas urnas’. Faltou atenção aos redatores: se em nenhum momento a candidata Dilma disse dos palanques o que faria em termos de política econômica, também não foi enfática na defesa da manutenção dos rumos. Alardear que está a favor da manutenção de empregos e dos pobres é o mesmo que defender em praça pública a luz elétrica e a água encanada. Ninguém discorda. O problema é fazer com que não faltem nem luz nem água. E esta é responsabilidade direta da presidente, e não do PT e de seus militantes”, concluiu o editorial, que não esconde o seu titânico empenho em impor a agenda dos derrotados à presidente reeleita.
Em síntese: O Globo reconheceu a força do manifesto, que reproduzo abaixo – só para irritar os editorialistas a soldo da famiglia Marinho:
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Em defesa do programa vitorioso na urna
A campanha presidencial confrontou dois projetos para o país no segundo turno. À direita, alinhou-se o conjunto de forças favorável à inserção subordinada do país na rede global das grandes corporações, à expansão dos latifúndios sobre a pequena propriedade, florestas e áreas indígenas e à resolução de nosso problema fiscal não com crescimento econômico e impostos sobre os ricos, mas com o mergulho na recessão para facilitar o corte de salários, gastos sociais e direitos adquiridos.
A proposta vitoriosa unificou partidos e movimentos sociais favoráveis à participação popular nas decisões políticas, à soberania nacional e ao desenvolvimento econômico com redistribuição de renda e inclusão social.
A presidenta Dilma Rousseff ganhou mais uma chance nas urnas não porque cortejou as forças do rentismo e do atraso e sim porque movimentos sociais, sindicatos e milhares de militantes voluntários foram capazes de mostrar, corretamente, a ameaça de regressão com a vitória da oposição de direita.
A oposição não deu tréguas depois das eleições, buscando realizar um terceiro turno em que seu programa saísse vitorioso. Nosso papel histórico continua sendo o de derrotar esse programa, mas não queremos apenas eleger nossos representantes políticos por medo da alternativa.
No terceiro turno que está em jogo, a presidenta eleita parece levar mais em conta as forças cujo representante derrotou do que dialogar com as forças que a elegeram.
Os rumores de indicação de Joaquim Levy e Kátia Abreu para o Ministério sinalizam uma regressão da agenda vitoriosa nas urnas. Ambos são conhecidos pela solução conservadora e excludente do problema fiscal e pela defesa sistemática dos latifundiários contra o meio ambiente e os direitos de trabalhadores e comunidades indígenas.
As propostas de governo foram anunciadas claramente na campanha presidencial e apontaram para a ampliação dos direitos dos trabalhadores e não para a regressão social. A sociedade civil não pode ser surpreendida depois das eleições e tem o direito de participar ativamente na definição dos rumos do governo que elegeu.
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