Os sofismas dos cabeças de planilha ou em time que está perdendo não se mexe

 

Desde os anos 90, o mito da "lição de casa" e outros bordões de mercado foram abundantemente utilizados pelos cabeças de planilha como álibi para a falta de resultados ou para os desastres acarretados por algumas políticas imprudentes.
Impunham-se medidas draconianas, que afetavam gastos com educação, saúde, resultavam em recessão pesada, taxas de juros exorbitantes, acenando com o pote de ouro no fim do arco íris. Terminava o ano sem sinal de melhoria.
Aí sacavam-se dois álibis recorrentes:

1. O mito da entrada jogada fora.

Se desistir agora, vai se jogar fora todo o sacrifício até agora feito. Em vez da piora servir para uma análise e correção de rumos, usava-se a imagem da entrada paga que poderia ser desperdiçada, para dar sobrevida ao desastre. Foi esse tipo de argumento que permitiu elevar a dívida pública de 20% a 60% do PIB no período FHC. Ou seja, em time que está perdendo não se mexe.

2. O mito do sacrifício insuficiente.

Pegue o quadro atual. A economia está despencando para uma queda de 3% do PIB este ano. Não há o menor sinal de retomada. O Congresso discute o orçamento para 2016. Um aprofundamento dos cortes fiscais com a política monetária em vigor aprofundaria mais a queda. Mas, segundo porta-vozes do mercado, a recessão é fruto da timidez do Congresso em bancar os cortes fiscais.
São os mesmos argumentos utilizados para prorrogar a política monetária desastrosa de Pedro Malan a Antônio Pallocci.
A cada dia que passa confirma-se a morte anunciada da política econômica de Levy-Tombini.
Política fiscal pró-cíclica, com a economia desabando, somada a uma política monetária radicalmente restritiva levaram a um aprofundamento tal  da recessão que a queda de receitas supera em muito os ganhos fiscais com cortes orçamentários.
A projeção de duas linhas - a de queda do PIB e da receita e o aumento exponencial da dívida pública, com a taxa Selic - o resultado é trágico. O segundo governo Dilma foi acometido da síndrome da chamada "bala de prata", a ideia da jogada definitiva, o golpe fatal capaz cortar o nó górdio político, atitude própria de quem domina pouco as intrincadas relações econômicas, políticas e sociais que compõem a vida política de um país.
A ideia de ambos era um golpe súbito e mortal sobre o déficit público e a inflação. Em pouco tempo, com o equilíbrio fiscal e de preços os empresários voltariam a investir, pois preços entrariam no lugar e a economia retomaria o crescimento. Erraram rotundamente em dois pontos fundamentais: os efeitos da recessão sobre as receitas públicas e a demora para os preços refluírem para a meta.
Agora se tem o seguinte dilema. Se jogam a toalha, é o atestado final do fracasso do plano. Em vez de aceitar a realidade, se teimam em prolongar a agonia, colocam o país sob um risco extraordinário.