E eis que surge o coveiro do impeachment. Por Paulo Nogueira
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Numa entrevista ao jornalista Paulo Moreira Leite, Picciani disse: “O impeachment não vai caminhar por falta de fatos e de votos.”
Poderia ser este o epitáfio da abjeta tentativa de remover Dilma do cargo e, na prática, cassar 54 milhões de votos.
Picciani foi vital na boa semana de Dilma ao ajudar em vetos essenciais a projetos destinados a inviabilizar o governo – e a República — pelos gastos irresponsáveis.
Claro que ele terá a sua cota de retribuição em cargos, mas política é assim mesmo.
Dilma, que jamais foi propriamente política, demorou mais de um mandato para perceber isso, algo em que seu antecessor era e é um mestre.
Mas percebeu, e a tempo de salvar seu mandato.
A importância maior de Picciani é expor a fraqueza de Cunha, ele que até há pouco tempo agia como dono do Congresso e, de certa forma, do Brasil.
Quis muito, tomado pela ganância, e deve acabar com uma tornozeleira eletrônica, tais e tantas as evidências de corrupção desenfreada que se acumulam contra ele.
Cunha ascendeu ao ajudar a eleger um número expressivo de deputados, graça ao dinheiro copioso que arrecadou via achaques, como mostram os depoimentos de delatores.
Esse dinheiro, do qual o primeiro beneficiário foi ele próprio, irrigou várias campanhas, e sabem todos como os recursos dão vantagem a quem os tem em disputas eleitorais caras como as brasileiras.
Mas não existe nada mais morto do que um chefe em vias de ser preso, e esta é a realidade, já faz algum tempo, de Eduardo Cunha.
Hoje, ele é pouco mais que uma perna à espera de uma tornozeleira.
Na política, como em tudo, você tem períodos cíclicos de destruição criativa. Algo se desfaz e outra coisa emerge.
Cunha é o que se desfez, e Picciani é o que emergiu.
Com essa troca de força no PMDB, o impeachment deixa de ser uma possibilidade. (Não que tenha sido, efetivamente, em algum momento: o que havia era mais barulho que substância.)
Caminha assim para seus últimos anos, sem o trauma de um golpe, o casamento de conveniência entre PT e PMDB.
Será uma benção para a sociedade, tais os atrasos representados pelo PMDB.
Em 2018, o PMDB terá seu candidato próprio, que não será Cunha e, até por razões etárias, nem Temer.
Picciani talvez sonhe com essa candidatura.
Mas é cedo para especulações.
O que há de relevante é que Picciani enterrou o impeachment, e é bom que isso tenha ocorrido.
O Brasil provou que não é a Republiqueta de Banana que os golpistas imaginavam que fosse.
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