Ciro Gomes: “Impeachment pode ser catarse, mas no dia seguinte problemas serão os mesmos”
“O impeachment pode ser a catarse de quem está zangado, mas no dia seguinte os problemas serão os mesmos.” A afirmação é do ex-ministro Ciro Gomes, que recentemente se filiou ao PDT. Lançado, na última semana, como pré-candidato à presidência nas eleições de 2018, ele disse, em entrevista à Folha de S. Paulo, que a oposição não aceitou o resultado das urnas e patrocina, no Brasil, uma “escalada do golpe”.
Segundo Gomes, não há base concreta para o impeachment de Dilma Rousseff. “Não gostar do governo não é causa para impeachment. Isso é um mecanismo raro, a ser usado em caso de crime de responsabilidade imputável direta e dolosamente ao presidente. Ninguém tem nada disso contra a Dilma”, declarou. Em sua avaliação, um eventual processo de impedimento da petista traria consequências catastróficas para o país. “Seria muito caro o preço de uma interrupção do mandato. É só olhar a Venezuela. Quem produziu aquele quadro lá foi esse tipo de antagonismo odiento. O país vai viver momentos tensos e graves, vizinhos à violência, por causa desses loucos.”
O ex-ministro acredita que, caso o impeachment da presidenta seja iminente, setores da sociedade se mobilizarão. “Estarei na primeira fila. Muitos brasileiros vão se perfilar. Não é para defender a Dilma, é para defender a regra. Veja o que já aconteceu quando um mandato foi interrompido por renúncia, suicídio ou impedimento”, argumentou. “Uma parte das pessoas está nisso de boa fé porque não sabe que quem assume é o vice, Michel Temer, que é do PMDB e amigo íntimo do Eduardo Cunha. Mas tem pessoas de muita má-fé.”
Gomes não hesitou em apontar quem seriam os “indivíduos de má-fé” que exortam o sentimento golpista entre a classe política. “O Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso. O PSDB está fazendo isso por pura vingança. Em 1999, quando houve a desvalorização violenta do real e a popularidade do presidente foi ao chão, o PT começou com o Fora FHC”, lembrou. “O comportamento do Fernando Henrique é constrangedor. Como dizia Brizola, ele está costeando o alambrado do golpe. Qual é a proposta do PSDB? Ficar contra o fator previdenciário e a CPMF, que eles criaram? Contra o ajuste fiscal, que eles introduziram como valor supremo?”, questiona.
Ciro Gomes também opinou sobre os erros do governo Dilma. “O maior problema do governo não é o escândalo, é a mentira. A zanga do povo não é propriamente com a corrupção, que é chocante, mas com o sentimento de ter sido enganada. A gente votou em um conjunto de valores e está recebendo o oposto”, destacou. “O governo tem que se reorganizar politicamente e fazer uma gestão econômica coerente com o discurso que lhe deu a vitória. Ainda há tempo. O problema é que ela não tem projeto nem equipe.”
O pedetista ainda criticou o vice-preseidente Michel Temer, que, de acordo com ele, integra a campanha golpista. “Nunca vi um vice-presidente se mexer tanto. O Temer foi dar palestra para um movimento que está no golpe contra a Dilma e fez uma frase que não admite dupla interpretação. Onde está escrito na Constituição que uma presidente com 7% de aprovação não se aguenta no cargo?”, contestou. “Vá ver se o José Alencar [vice de Lula], na crise do mensalão, saiu fazendo palestra e dizendo que era preciso achar alguém para unir o país. Eu costumo não ser idiota.”
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