Gilmar promove em Lisboa pajelança pró-impeachment
É dura a vida de quem corre atrás de notícias para ganhar a vida nestes tempos tempestuosos. Você cerca uma, e já vem outra mais gorda, entrando no galinheiro a ponta-pés, derrubando as anteriores.
Os principais atores político-jurídicos ou jurídico-políticos, todos eles midiáticos, nem fazem mais questão de disfarçar, deixaram de lado qualquer recato. É o vale tudo, o tudo ou nada, o matar ou morrer, e que se danem os escrúpulos. Entre tantas outras novidades explosivas da terça-feira, o fato que mais chamou mais me chamou a atenção é o que comento abaixo.
A pretexto de promover um seminário em parceria com a Universidade de Lisboa, o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) convidou alguns dos mais proeminentes líderes do movimento pró-impeachment para uma grande pajelança no exterior. Entre eles, o vice-presidente Michel Temer, o presidente do PSDB, Aécio Neves, o senador tucano José Serra e o presidente do Tribunal de Contas da União, Aroldo Cedraz. Ficaram de fora da lista outros notáveis como FHC, Eduardo Cunha e Paulinho da Fôrça.
Detalhe: o sócio-fundador do IDP é o notório ministro Gilmar Mendes, líder da oposição no STF, que convidou também para o evento por ele comandado o ministro Dias Toffoli, seu parceiro de tribunal.
O evento em Lisboa foi marcado para começar no próximo dia 29, terça-feira, mesmo dia da data marcada para o anunciado desembarque do PMDB da base aliada do governo. Como não tem mesmo nada de importante acontecendo no Brasil, o seminário se prolongará até o dia 31. No dia 30, no plenário do STF, está previsto o julgamento no mérito da liminar concedida por Gilmar Mendes proibindo o ex-presidente Lula de assumir a Casa Civil. No dia seguinte, a programação prevê palestras dos brasileiros.
Para eles, é como se o governo Dilma já tivesse data para acabar em breve. As negociações para a formação de um possível governo Temer seguem em ritmo acelerado e à luz do dia. Antes de seguir para o STF no dia da liminar, Gilmar Mendes foi fotografado num almoço com José Serra num badalado restaurante de Brasília.
No final de semana, José Serra deu longa entrevista ao Estadão anunciando as linhas centrais do novo governo e quem deve integrá-lo. Derrotado duas vezes em eleições presidenciais, Serra já se apresentava como futuro primeiro-ministro, mas acabou desmentido e desautorizado por Temer, causando a primeira crise no gabinete que ainda não existe.
Michel Temer, que se recusou a encontrar Lula nos últimos dias, recebeu na terça-feira, em seu bunker montado em São Paulo, o principal líder da oposição, Aécio Neves. Menos afoito do que Serra, Aécio falou na saída da reunião: "Não fugiremos à nossa responsabilidade. Estaremos prontos para ajudar a construir uma agenda emergencial." Mais mineiro, impossível. Em Lisboa, todos eles terão mais tempo para conversar sobre o pós-Dilma sob os auspícios de Gilmar Mendes.
Num duro discurso pronunciado pouco antes, no Palácio do Planalto, em que recebeu o apoio de juristas, advogados, promotores e defensores públicos contra o impeachment, Dilma acusou os adversários de golpistas, voltou a dizer que não vai renunciar de jeito nenhum, e lançou um repto: "Não importa se a arma do golpe é um fuzil, uma vingança ou a vontade política de alguns de chegar mais rápido ao poder (...) Sei que há uma ruptura institucional sendo forjada nos baixos porões da baixa política, que precisa ser combatida".
À noite, Gilmar sofreria sua primeira derrota na atual queda de braço com seus colegas na batalha do STF: o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato, que não foi convidado para ir a Lisboa, determinou que o juiz Sergio Moro encaminhe todas as investigações envolvendo o ex-presidente Lula de volta para o STF. Em sua liminar da semana passada, Gilmar tinha mandado tudo para Curitiba.
Como eu também não fui convidado para esta caravana acadêmica que vai a Lisboa, só me resta desejar a todos boa viagem
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