O processo de privatização interna da Petrobras e a corrupção
Fonte:
Correio da Cidadania
Autor: José Menezes Gomes
O
processo de privatização interna da Petrobrás teve um grande impulso no
governo FHC, quando em 1997, logo após a quebra do monopólio, com Joel
Rennó na presidência (1), se realizou um acordo de exclusividade à
Odebrecht em futuras parcerias (2). Este processo teve continuidade nos
governos Lula da Silva e Dilma Rousseff, tendo como consequência o
aprofundamento do processo de terceirização de funções antes exercidas
pela estatal.
A
quebra do monopólio, definida pela lei 9.478 de 1997, visava criar um
ambiente propício aos investimentos privados em exploração e produção.
Tal processo foi acompanhado por iniciativa de dentro do governo de
preparar o terreno para o surgimento de empresas privadas que passassem a
ocupar o espaço até então exclusivo da estatal.
Nesta
direção a Petrobrás foi liberada de procedimentos rigorosos de
contratação com flexibilização de regras para supostamente poder
concorrer com as grandes do setor. Em seguida FHC, mudou o estatuto da
empresa em 1999, permitindo a venda de parte das suas ações diretamente
na bolsa de Nova Iorque, nos chamados ADRs, o que facilitou a aquisição
das ações por estrangeiros. Além disso, a Petrobras passou a contratar
empresas terceiras para desempenhar funções antes exercidas por ela.
Esta
estatal passou a ampliar sua presença em segmentos como o transporte e
refino de petróleo e a petroquímica com a compra, em março de 2007,
junto com o Grupo Ultra e a Braskem, da Refinaria Ipiranga por US$ 4
bilhões. Pelo acordo, o grupo Ultra ficou com a rede de distribuição de
combustíveis da Ipiranga nas regiões Sul e Sudeste, enquanto a Petrobrás
ficou com a parte do grupo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste
(3).
Deste
valor total da operação, a Petrobrás desembolsou US$ 1,3 bilhão, a
Braskem US$1,1 bilhão e o grupo Ultra emitiria 52,8 milhões de ações,
num valor equivalente a cerca de US$ 1,6 bilhão. Nesta direção a estatal
tem sido um sustentáculo para o processo de fusão e aquisição que
fortaleceu os grupos privados. A Ipiranga era o segundo maior
distribuidor de combustível brasileiro, atrás apenas da BR
Distribuidora, braço de distribuição da Petrobras, com atuação também no
setor petroquímico, refino, exploração de petróleo e gás.
A
expansão da Braskem, também, é resultado do processo de privatização
ocorrido durante o governo FHC com crescente volume de recursos
subsidiados do BNDES, reunindo a antiga Copene e um conjunto de empresas
operacionais da Odebrecht e do Grupo Mariani, entre as quais a OPP
Química, a Trikem, a Nitrocarbono, a Proppet e a Polialden.
Em
2008, a Braskem anunciou a integração das participações da Petroquisa
no capital da Copesul, Ipiranga Petroquímica, Ipiranga Química e da
Petroquímica Paulínia. Com base nessa decisão, a Odebrecht, como
acionista controlador da Braskem, celebrou com a Petrobras um novo
acordo de acionistas que reforçou ainda mais a aliança estratégica entre
as empresas. A justificativa deste acordo é que desta forma se teria a
consolidação do setor petroquímico brasileiro.
Estas
parcerias serviram para progressivamente fortalecer seus concorrentes
surgidos, especialmente depois de 1997, quando os fundos de pensão
ligados ao PT e à CUT, aliados com as grandes empreiteiras e financiados
pelo dinheiro subsidiado do BNDES, deram início à transferência de
monopólios das estatais para a formação de monopólios privados. Com isso
as empreiteiras passaram a deter grande parte das empresas ex-estatais
de setores estratégicos, como química, petróleo, telefonia, comunicação,
energia etc.
A
Petrobrás agiu sempre no sentido de fortalecer as parcerias com as
empresas privadas, que nunca tinham atuado no setor e progressivamente
passaram a se apropriar da tecnologia que antes era dominada pela
Petrobras.
Esta
intenção de criar empresas privadas no setor de petróleo se manteve
também no governo Lula da Silva. Segundo Ildo Sauer, professor da USP e
ex–diretor de Gás e Energia da Petrobrás no governo Lula, José Dirceu
ajudou a entregar o Pré–Sal para Eike Batista. Este processo teve início
em 2005–2006, quando Rodolfo Landim saiu da Petrobras porque o
consultor da OGX, que era José Dirceu, sugeriu a Eike Batista que
entrasse no ramo de Petróleo.
Desde
então, passou a contratar técnicos desta estatal, levando segredos
estratégicos. De acordo com ele a OGX foi criada em 2007 e em julho de
2008 estava valendo R$ 17 bilhões. O que a empresa tinha antes era um
patrimônio de US$ 200 milhões: “tudo que ele tinha era uma equipe
recrutada da Petrobrás e os blocos generosamente leiloados por Lula e
Dilma (...) Foi um dos processos de “acumulação primitiva” mais
extraordinários da história do capitalismo mundial. Alguém sai do nada e
em menos de três anos tem uma fortuna de bilhões de dólares”.
A
Petrobrás durante toda a sua existência conseguiu 20 bilhões de barris,
enquanto Eike Batista em pouco tempo passou a ter reservas de 10
bilhões de barris, que correspondem US$ 100 bilhões (4).
Todavia,
em meados de 2012 após a OGX, braço petroleiro do grupo, ter perdido
US$ 27 bilhões em valor de mercado no mesmo semestre, Eike Batista
demitiu Paulo Mendonça da presidência da empresa. Vale lembrar que ele
foi mais um dos executivos vindos da Petrobrás contratados a peso de
ouro por Batista, após mais de 30 anos na estatal. Rodolfo Landim,
também ex-Petrobras, saiu da empresa em 2010 após desentendimento com
Eike que acabou na Justiça.
As
empresas do grupo de Eike Batista ficaram conhecidas no mercado pelos
seus crescentes prejuízos e falências. A corrupção dentro da Petrobrás
resulta da evolução deste processo de privatização interna. As
empreiteiras envolvidas no escândalo da operação Lava Jato são
denunciadas por esta prática desde o governo JK. A expansão das antigas
empreiteiras no setor de Petróleo é a consequência direta desta política
de destruição interna da Petrobrás. Tal fato acabou por impulsionar a
corrupção dentro da Petrobrás.
A
formação de cartel para a obtenção de serviços virou prática regular.
Aliás, a ocorrência do cartel é parte essencial do capitalismo
monopolista que vai desde o preço de combustível ao valor das tarifas de
ônibus ou na compra de trens para o metrô de São Paulo. A crescente
terceirização praticada em todas as esferas de governo tende a facilitar
a corrupção.
Notas:
1) Indicado por Antônio Carlos Magalhães.
2) http://www1.folha.uol.com.br/fol/eco/ex038380.htm
3) http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u115304.shtml
4) Ver em http://www.adusp.org.br/files/revistas/51/r51a01.pdf
Um comentário:
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