O fim da picada
O grampo
contra a Presidente da República, com sua imediata divulgação, para uma
empresa de comunicação escolhida para escancarar seu conteúdo ao país,
operado por um juiz de primeira instância, depois da desnecessária e
arbitrária condução coercitiva e do pedido de prisão de um ex-presidente
da República, devido a uma acusação de falsidade ideológica – em um
país em que bandidos com dezenas de milhões de dólares em contas na
Suíça, procurados pela Interpol e condenados à prisão em outros países
circulam, soltos, tranquilamente - representa isso.
O
fim da picada de uma Nação em que as instituições se recusam a
funcionar, e estão, virtualmente, sob o sequestro de meia dúzia de
malucos concursados - apoiados corporativamente por toda uma geração de
funcionários de carreira de Estado comprometidos ideologicamente, com a
razoável exceção de organizações como a associação de Juízes para a
Democracia - que atuam como ponta de lança de uma plutocracia estatal,
que, embalada por uma imprensa parcial e irresponsável, pretende tutelar
a República, colocando-se acima dos poderes constituídos.
Perguntado
o que achava do pedido de prisão do Ministério Público de São Paulo, há
poucos dias, o líder do PSDB na Câmara Alta, o senador Cássio Cunha
Lima, disse que não via motivos para tanto e recomendou cautela neste
momento.
Agradece-se a
sua coragem e bom-senso – Cássio Cunha Lima foi violentamente atacado
por isso pela malta radical fascista nos portais e redes sociais – mas
agora é tarde.
A
oposição deveria ter pensado nisso quando ainda não ocupava – tão
hipócrita e injustamente quanto outros acusados - as manchetes da coluna
de delações “premiadas”, e abandonou o calendário político normal para
fazer política nos tribunais, por meio da criminalização da atividade,
entregando o país a um grupo de procuradores e a um juiz de primeira
instância que age - como se viu pelo vazamento imediato do grampo do
Palácio do Planalto - como um fio desencapado, não se importando – assim
como os procuradores que o cercam ou nele se inspiram - em incendiar o
país para dizer que é ele quem está no comando, independente da atitude
da Presidente da Republica de trocar o Ministro da Justiça, ou nomear
para a Casa Civil um ex-presidente da República, ou da preocupação de
alguns ministros e ministras do STF – pelo menos aqueles que parecem ter
conservado um mínimo de dignidade e de razão neste momento.
Iludem-se aqueles que acham que a Operação Lava-Jato vai livrar o país da corrupção.
Os
resultados políticos da Operação Mani Pulliti – a operação Mãos Limpas,
à qual o Juiz Sérgio Moro se refere a todo instante como seu farol e
fonte de “inspiração”, foram a condução de Berlusconi, um bufão pseudo
fascista ao poder na Itália, por 12 anos eivados de escândalos, seguida
da entrega do submundo do Estado a uma máfia comandada por
ex-terroristas de extrema-direita, responsáveis por mega-escândalos como
o da Máfia Capitale, que envolve desvios e comissões em obras públicas
em Roma, da ordem de bilhões de euros, cujo julgamento começou no último
mês de novembro.
Da
mesma forma, iludem-se, também, aqueles que acham que, com a queda do
governo, por meio de impeachment, ou de manobra no TSE ou no TCU, ou de
uma Guerra Civil, que se desenha como cada vez mais provável, o Brasil
irá voltar à normalidade.
A
verdadeira batalha, neste momento e a perder de vista – e há uma grande
proporção de parvos que ainda não entenderam isso – não é entre o
governo e a oposição, mas entre o poder político, alcançado por meio do
voto soberano da população, e a burocracia estatal, principalmente
aquela que tem a possibilidade – pela natureza de seu cargo - de
pressionar, coagir, chantagear, a seu bel-prazer, a Presidência da
República, o Congresso e o grande empresariado.
Em
palestra recente, para empresários – quando, com suas multas e sanções,
ele está arrebentando com metade do capitalismo brasileiro – o Juiz
Sérgio Moro afirmou que a operação Lava-Jato não tem consequências
econômicas.
Sua
Excelência poderia explicar isso ao BTG, cujas ações diminuíram pela
metade seu valor, quebrando milhares de acionistas, ou que perdeu quase
20 de reais em ativos desde a prisão de André Esteves.
Ou à Mendes Júnior que teve de demitir metade dos seus funcionários e está entrando em recuperação judicial esta semana.
Ou, ainda, aos 128.000 trabalhadores terceirizados da Petrobras que perderam o emprego no ano passado.
Ou
às famílias dos 60.000 trabalhadores da Odebrecht, que também foram
demitidos, ou aos funcionários restantes que aguardam o efeito da multa
de 7 bilhões de reais – mais de 15 vezes o lucro do Grupo em 2014 – que
se pretende impor “civilmente” à companhia.
Ou
aos funcionários da Odebrecht que estão envolvidos com projetos de
extrema importância para a defesa nacional, como a construção de nossos
submarinos convencionais e atômicos e nosso míssil ar-ar A-Darter,
concebido para armar nosso futuros caças Gripen NG-BR, que terão de ser
interrompidos caso essa multa venha a ser cobrada.
Ou,
ainda, aos “analistas” entre os quais é consenso que a Operação Lava
Jato foi responsável por 2%, ou mais de 50%, da queda do PIB - de 3,8% -
no ultimo ano.
Na
mesma ocasião, o Sr. Sérgio Moro - como se fôssemos ingênuos de
acreditar que juízes não têm suas próprias opiniões, ideologia e
idiossincrasias políticas – afirmou não ter “partido”.
Ora, ele tem, sim, o seu partido.
E ele se chama PSM, o Partido do Sérgio Moro.
Um
“partido” em que não cabem os interesses do país, nem os do governo,
nem os da oposição, a não ser que eles se coloquem sob a sua tutela.
Assim
como não dá para acreditar, com sua relativamente longa experiência,
depois dos episódios de Maringá e do Banestado, que ele esteja agindo
como age por ter sido picado pelo messianismo que distrai e embala a
alma de outros “salvadores da pátria” da Operação Lava-Jato.
O
que - seguindo a lógica do raciocínio - só pode nos levar a pensar que
ele está fazendo o que faz porque talvez pretenda meter-se a comandar o
país diretamente – achando, quem sabe, que as Forças Armadas vão
permitir que venha a adentrar o Palácio do Planalto carregado por
manifestantes convocados pelo Whats UP, em uma alegre noite de buzinaço,
como um moderno Salazar ou Mussolini – ou quando eventualmente se
cansar, lá pela milésima-primeira fase da Operação Lava-Jato - de
exercitar seu ego e – até agora - seu incontestável poder de manter o
país em suspense, paralisado política e economicamente,
independentemente do ocupante de turno – quem grampeia um presidente
grampeia qualquer presidente - que estiver sentado na principal poltrona
do Palácio do Planalto.
A
alternativa a essa República da “Destrói a Jato”, de um país mergulhado
permanentemente na chantagem, na manipulação, no caos e na paralisia, é
alguém ter coragem, nos órgãos de controle e fiscalização, de enfrentar
o falso “clamor”, pretensamente “popular”, de um senso comum ditado
pela ignorância e a mediocridade, e pendurar o guizo no pescoço do gato –
ou desse tigre (de papel) - impondo ao mito construído em torno dessa
operação, e aos seus “filhotes”, o império da Lei e o respeito ao Estado
de Direito e à Constituição Federal.
Mas para isso falta peito e consciência de História a quem pode fazê-lo.
E sobra – talvez pelo medo das tampas de panela dos vizinhos - hesitação e covardia.
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