Brasil chega a uma encruzilhada: para onde vamos?
Em apenas três minutos, estava tudo
acabado. Por aclamação, aos gritos de "Fora PT" e "Temer presidente", o
PMDB selava seu rompimento com o governo. A um canto da mesa diretora,
de braços erguidos e mãos dadas com outros dirigentes, com um sorriso de
vitória entre debochado e envergonhado, o presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, simbolizou o melhor retrato daquele momento emblemático da mais
grave crise política do período pós-redemocratização. O governo Dilma
entrou em colapso e o Brasil amanheceu numa encruzilhada nesta
quarta-feira.
Réu por corrupção no Supremo Tribunal Federal, Cunha saiu dali direto
para o plenário da Câmara, onde se dedicou a novas manobras para mudar a
comissão de ética que julga seu processo de cassação. Atônito, sem
saber o que dizer, o ministro Jaques Wagner anunciou para sexta-feira um
"novo governo", sem explicar o que isto significa, além da troca de
nomes nos ministérios devolvidos pelo PMDB, em busca de votos em outros
partidos para evitar o impeachment da presidente.Quem poderia imaginar que, apenas 15 meses após a posse solene da dupla Dilma-Temer para um segundo mandato, os dois entrariam em guerra aberta pelo poder central? Tudo se resume agora em saber se Dilma conseguirá os 171 votos necessários para se manter na presidência ou se Temer terá condições de reunir 342 deputados para derrubar o governo do qual ele ainda faz parte.
Para onde vamos? Ganhe quem ganhar esta disputa insana, só uma coisa é certa: vamos viver dias ainda mais difíceis, sem nenhuma perspectiva de mudanças no curto prazo capazes de reanimar a economia esfacelada e dar uma trégua na guerra política movida pelo ódio e por interesses pessoais, sem nenhum compromisso com os destinos nacionais.
Com este sistema político apodrecido e este Congresso Nacional sub-judice, onde estão empoleirados parlamentares de 27 partidos, que mais nada representam, qualquer que seja o nome do presidente vamos continuar sendo governados pelo loteamento de cargos e verbas, na base do quem dá mais, meu pirão primeiro.
Ou alguém consegue ver hoje alguma diferença de métodos entre o PT que quer ficar no governo e o PMDB que quer entrar, agora aliado à oposição derrotada em 2014, se até ontem os dois partidos foram cúmplices dos malfeitos e das lambanças em série que nos levaram à atual situação?
Basta lembrar que, se Michel Temer entrar no lugar de Dilma Rousseff, seu vice será Eduardo Cunha, que continua livre, leve e solto, e passa a ser o primeiro na linha sucessória.
Vida que segue.
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