sábado, 6 de março de 2021

A nossa falta de ar.

 

A nossa falta de ar não é a de um policial apertando de forma desordenada um pescoço, achando que está imobilizando...
A nossa falta de ar, não é um afogamento, numa bela praia, ou numa represa para se refrescar... A nossa falta de ar não é um desabamento, em que tudo cai e não sobra espaço pra respirar... A nossa falta de ar, não é emoção, de um amor, de um orgasmo... A nossa falta de ar é o abandono, é o desespero, é a desinformação... é a ausência de empatia, a ausência de responsabilidade... A nossa falta de ar é termos mais Pilatos do que Barrabás... Nenhum Jesus... Ninguém assume a culpa e pior ainda... quem pode fazer algo, pouco faz, e quem pode exercer poder, não se importa. A nossa falta de ar está em cilindros, em leitos, em contêiners frigoríficos, em covas rasas cavadas as pressas... A nossa falta de ar é feita de despedidas que não acontecem, de desesperos, de certezas de que se for internado, voltar vivo é uma benção, sem sequelas é um milagre... A nossa falta de ar é uma agonia em ver cada dia mais e mais gente morrendo e ainda assim, só escuto o silêncio do assombroso descaso de quem pode fazer algo. E o silencio doentio de quem justificou a escolha, sim, a escolha do que estamos passando como resultado de uma opção nas urnas... Num ato tosco, irresponsável e mesquinho... Enquanto sociedade todos carregamos a responsabilidade... Mas uns tem o dolo... Uns premeditaram... Uns se deliciam... O inferno é pouco, mas não há inferno... inferno é o que nós estamos passando... Ainda teremos tempos tristes pela frente... Ainda faltará ar para muitos... Não seremos os mesmos... Não seremos melhores... A última possibilidade de inocência nos foi arrancada por ventilador...
GLAUCO RIBEIRO DE SOUZA.

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