quinta-feira, 4 de março de 2021

As negociações do Deltan.

 

Deltan negociou com Renan e Jucá reduzir a Lava Jato após impeachment de Dilma. Por Vinícius Segalla

 
Romero Jucá: ele só queria estancar a sangria Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

No dia 15 de abril de 2016, o procurador da República Deltan Dallagnol, ex-chefe da extinta Operação Lava Jato, informou a Sergio Moro, então juiz federal da 13ª Criminal de Curitiba, que tinha iniciado uma negociação com os então senadores Romero Jucá (MDB-RR) e Renan Calheiros (MDB-AL) para alterar os rumos da Lava Jato depois que fosse consumado o impeachment da então presidenta Dilma Rousseff (PT).

É o que mostram os diálogos protocolados pela Defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva junto ao STF (Supremo Tribunal Federal). Todas as conversas a que os advogados do petista tiveram acesso advêm da Polícia Federal, trata-se de material periciado pela Operação Spoofing, ao qual os procuradores da Lava Jato tiveram acesso antes do que a Defesa do ex-presidente.

De acordo com este material, no dia 15 de abril de 2016, Dallagnol travou uma conversa com o juiz Sergio Moro por meio de um aplicativo de celular. No diálogo, o procurador informa ao juiz que viria a julgar o caso em que trabalhava sobre o andamento de suas investigações.

Dallagnol conta a Moro as informações que estava recebendo de um informante que viria a se tornar delator premiado da operação: Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, uma empresa subsidiária da Petrobras.

O procurador informa o juiz – e informa que se trata de assunto confidencial –  que seu futuro delator lhe contou que tinha gravada uma conversa com Jucá e Renan em que os dois parlamentares diziam que seria necessário “dar um jeito na lava jato (sic) depois do impeachment.”

Na sequência, Dallagnol revela a Moro que já havia estabelecido negociações “com BSB”, referindo-se aos dois membros do Senado Federal. Disse ainda que, em nome da “sobrevivência da operação no novo cenário político”, um acordo lhe “parecia inevitável”. A tudo isso, Moro – que foi quem iniciou o diálogo, perguntando sobre supostas contas na Suíça de Machado, responde apenas com: “Hmm”. Veja abaixo.

15 APR 16

• 09:04:09 Moro Nobre e aquela conta da suica Sergio Machado. Veio ou esta vindo?
• 12:30:15 Deltan Escrevo com calma explicando
• 13:27:35 Suíça prometeu uma série de transferências de casos na última reunião, em janeiro, mas não executou, possivelmente em razão do problema que houve com a odebrecht. Teremos reunião no começo de
maio, e trataremos disso. Mas Sergio Machado nos procurou para colaborar, e – confidencial – tem uma gravação com Renan e Jucá em que esses diriam – a confirmar – que tem que dar um jeito na lava jato depois do impeachment. Houve até agora apenas um primeiro contato com BSB, mas um acordo parece ser inevitável, por questão de sobrevivência nossa no novo cenário político.
• 14:35:50 Moro Hmm

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Fonte: STF

Desde que o ministro do STF Ricardo Lewandowisk tornou públicos os autos referentes à perícia da Polícia Federal nos diálogos apreendidos com um hacker – entre procuradores e policiais da Lava Jato e, em muitos casos, com a participação do ex-juiz Sergio Moro -, uma série de novas revelações sobre o modo de agir da Lava Jato têm vindo à tona.

Em uma delas, por exemplo, os procuradores comemoram o fato de o ex-juiz ter concedido mandados de busca e apreensão no processo do triplex antes mesmo que a Lava Jato tenha pedido. Em outra, Moro e Dallagnol conversam sobre manter um investigado preso por mais tempo para força-lo a assinar um acordo de delação premiada.

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