A aposta de Haddad em São Paulo
Alvo de uma campanha de mídia implacável, até algum tempo atrás as apostas maiores eram de que os projetos do prefeito Fernando Haddad, de São Paulo, não amadureceriam antes do término do mandato.
A persistência fez com que nas últimas semanas Haddad emplacasse os três pilares de uma provável revolução no futuro de São Paulo: a aprovação do Plano Diretor; a renegociação da dívida de São Paulo, prestes a ser aprovada no Senado; e o deslanche das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na cidade.
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Hoje em dia, os marcos da cidade são ainda dos anos 50: Praça da Sé, Faria Lima, Copan, MASP, Ibirapuera. De lá para cá, a cidade ficou presa a um padrão conduzido pelo setor imobiliário. Ia se esticando de bairro em bairro obedecendo à lógica imobiliária.
O Plano Diretor é um divisor de águas, um marco na história das cidades.
A partir do plano, especialmente nos chamados eixos de mobilidade, haverá abertura dos tetos com fachada ativa – em urbanês, térreos interagindo com as ruas. Hoje em dia, o andar térreo dos prédios é inteiramente fechado. No mundo civilizado é aberto, dialogando com as calçadas, com espaços.
Se o mercado imobiliário quiser adensar, somente poderá fazê-lo onde haja transporte público de massa e pouca garagem. No miolo dos bairros, o gabarito será de oito andares.
Com isso, acaba-se com a história do bairro da vez. O setor imobiliário terá que distribuir seus empreendimentos linearmente pelos eixos de mobilidade.
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Os eixos de mobilidade, por sua vez, mudam a lógica das vias que, hoje em dia, limitam-se a trazer as pessoas para o mesmo lugar. E quebra a dicotomia centro-periferia. Hoje em dia, 5 das 31 subprefeituras têm 75% dos empregos da cidade.
A mudança de lógica está sendo feita com o Plano Diretor e com incentivos fiscais. Obras na Zona Leste terão isenção de ISS e IPTU por vinte anos, por exemplo.
As linhas exclusivas de ônibus, além disso, mudaram o tempo de acesso. Do terminal Itaquera ao Parque Dom Pedro, as viagens caíram de 1h50 para 46 minutos.
A partir do mês que vem, Haddad prevê uma revoada de empresas para a Zona Leste.
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Importante foi a maneira como se fechou o pacto em torno do Plano Diretor.
Através de seu presidente, Cláudio Bernardes, o Secovi (Sindicato da Construção Civil de São Paulo) manteve um relacionamento construtivo e transparente, com as divergências sendo explicitadas e superadas.
Junto com a prefeitura, o Ministério Público Estadual (MPE) desenhou procedimentos garantindo a mobilização da população e a transparência. Todas as emendas tiveram impressões digitais: a assinatura de quem estava propondo e a garantia de que tivesse, no mínimo, roupagem republicana.
Todas as emendas foram publicadas no Diário Oficial do Município e discutidas com antecedência. Não passou nenhum submarino – apelido das emendas que surgem do nada, sem pai nem mãe.
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As negociações permearam todas as fases do Plano.
No caso de Nova Palestina, por exemplo, houve um conflito entre o MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto), querendo casas; e os ambientalistas, querendo um parque.
Em conjunto, conseguiram desenhar um projeto juntando as casas e o parque.
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Acusa-se Haddad de não ter jogo de cintura. Estaria queimado não apenas com políticos de outros partidos, mas também com os seus.
A aprovação do Plano Diretor mostra que há espaço para a boa política no país.
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