O novo cenário político com Marina
Por Luis Nassif, no Jornal
GGN:
Algumas considerações sobre o fenômeno Marina Silva.
Fato 1 - Marina cresceu por ela, não por Campos.
Dada a enorme rejeição aos dois favoritos, Dilma Rousseff e Aécio Neves, era previsível um crescimento da chamada terceira via, Eduardo Campos. Cantei essa bola aqui.Acontece que Marina sempre teve maior presença que Campos e, em todas as pesquisas, muito mais intenções de voto que ele.
Ela disparou por ter se tornado candidata à presidente, não pela comoção em torno da morte de Campos.
Fato 2 - Marina não é um Russomano.
Em toda eleição, em algum momento as ondas da opinião pública contemplam um outsider. Foi assim com Garotinho e Ciro Gomes, para presidente; ou com Celso Russomano para prefeito de São Paulo.
Marina é mais que isso. De um lado por ter plantado em 2010 as sementes do discurso do "novo". Enquanto o cético Serra rezava a Bíblia e clamava pelos céus (especialmente pelo inferno contra o aborto), a evangélica Marina discursava sobre o novo. Hoje, ambos colhem o que plantaram. E apenas o plantio de Marina floresceu.
Mas, em parte também, por ser politicamente um papel em branco. Ao acenar para os "homens de bem" de todos os partidos - e, com suas alianças iniciais, poder quebrar a resistência dos "homens de bens" - cria uma utopia formidável.
O PSB acredita que, através dela, conquistará o poder. É o chamado auto-engano. Os operadores de mercado tem certeza. Pois não convocaram o mais esperto e deletério dos operadores de mercado: André Lara Rezende? Os cansados da polarização PT x PSDB caem de cabeça.
Eleita, pelo que se conhece de sua personalidade, Marina será ela, apenas ela.
Fato 3 - Marina não é um Lula.
O voluntarismo faz com que parte da opinião pública acredite piamente que essa frente de homens de bem tornará o país governável. Como se, após a posse, não houvesse um Congresso que aprova as leis e uma terrível disputa pela ocupação do espaço político, tanto de partidos políticos como do Judiciário, do Ministério Público, dos grupos de mídia, do mercado, de setores sociais, empresariais.
É esse o pepino que o próximo presidente terá que administrar.
A ideia de que, como a opinião pública desconfiava de Lula em 2002, e ele deu certo, logo Marina dará, esbarra em uma questão fundamental: Marina não é Lula; e a Rede não é o PT.
Havia uma estrutura de comando no PT, a aproximação com as forças econômicas, o apoio dos movimentos sociais. E, acima de tudo, a intuição e o carisma de Lula e, no primeiro tempo, dois operadores de peso atuando de forma sincronizada: José Dirceu e Antonio Pallocci.
Mesmo assim, o primeiro governo Lula deu no que deu.
Imagine-se, agora, esse mar de interesses, de egos, de situações complexas sendo administrado por Marina.
Ontem ela foi certeira ao dizer que o papel do presidente é ser o planejador, o que aponta rumos e não o mero gerente. Faltou dizer que é papel do Estadista a administração de conflitos e das forças políticas. E ela não parece ter nenhuma das características que se exige desse presidente estadista.
Fato 4 - o fim do PSDB.
Seja qual for o resultado final das eleições, o PSDB desaparece definitivamente como força hegemônica da oposição. Paga, agora, a mediocrização a que se entregou desde 2006, quando indiciou Geraldo Alckmin como candidato a presidente; e, principalmente, em 2010, com a inacreditável campanha de José Serra. Morreu ao se afastar da academia, abrir mão de qualquer nova ideia ou conceito em nome de um oportunismo míope, e deixar-se conduzir por economistas de mercado, grupos de mídia e pela extrema-direita.
O partido perderá a presidência, o bandeira de maior partido de oposição, o governo de Minas e restará - se não acontecer nenhuma novidade - o controle de São Paulo por aquele que, provavelmente, é o mais despreparado governador da história do Estado.
Cumpre-se a sina de José Sarney que, em 2009, já prognosticava: o DEM acaba, o PSDB será o novo DEM e a nova oposição sairá das entranhas do governo.
Fato 5 - a nova correlação de forças.
Nem de longe Marina será uma líder de massas, uma representante dos desassistidos. Continuará com prestígio enquanto papel em branco. Quando começarem as definições, perderá parte da aura.
No plano social, seu discurso não avança além da ecologia. No plano econômico e fiscal, seus porta-vozes praticarão o liberalismo à la Eduardo Gianetti. Para ele, todos os desequilíbrios sociais, os abusos de preços, de juros, decorrem da falta de educação do povo brasileiro. Sendo assim, nenhuma política pública é eficaz para coibir abusos de mercado.
A esse liberalismo de proveta some-se o liberalismo ecológico de Marina, suas restrições ao crescimento, à ampliação das hidrelétricas, ao próprio agronegócios.
Na oposição, Marina exerce um papel único, de grilo falante dos abusos ecológicos e do centralismo administrativo. No governo, poderá ser enorme fator de risco.
Sua eleição colocará em risco o estoque de políticas sociais existentes. E, com o liberalismo econômico na Fazenda e no Banco Central, não se espere nenhuma estratégia de desenvolvimento amarrada ou não a políticas sociais.
A imagem do bom selvagem é mais forte do que essas complexidades. O grande desafio será Dilma mostrar que a folha em branco poderá acabar com o avanço do estado de bem estar.
Algumas considerações sobre o fenômeno Marina Silva.
Fato 1 - Marina cresceu por ela, não por Campos.
Dada a enorme rejeição aos dois favoritos, Dilma Rousseff e Aécio Neves, era previsível um crescimento da chamada terceira via, Eduardo Campos. Cantei essa bola aqui.Acontece que Marina sempre teve maior presença que Campos e, em todas as pesquisas, muito mais intenções de voto que ele.
Ela disparou por ter se tornado candidata à presidente, não pela comoção em torno da morte de Campos.
Fato 2 - Marina não é um Russomano.
Em toda eleição, em algum momento as ondas da opinião pública contemplam um outsider. Foi assim com Garotinho e Ciro Gomes, para presidente; ou com Celso Russomano para prefeito de São Paulo.
Marina é mais que isso. De um lado por ter plantado em 2010 as sementes do discurso do "novo". Enquanto o cético Serra rezava a Bíblia e clamava pelos céus (especialmente pelo inferno contra o aborto), a evangélica Marina discursava sobre o novo. Hoje, ambos colhem o que plantaram. E apenas o plantio de Marina floresceu.
Mas, em parte também, por ser politicamente um papel em branco. Ao acenar para os "homens de bem" de todos os partidos - e, com suas alianças iniciais, poder quebrar a resistência dos "homens de bens" - cria uma utopia formidável.
O PSB acredita que, através dela, conquistará o poder. É o chamado auto-engano. Os operadores de mercado tem certeza. Pois não convocaram o mais esperto e deletério dos operadores de mercado: André Lara Rezende? Os cansados da polarização PT x PSDB caem de cabeça.
Eleita, pelo que se conhece de sua personalidade, Marina será ela, apenas ela.
Fato 3 - Marina não é um Lula.
O voluntarismo faz com que parte da opinião pública acredite piamente que essa frente de homens de bem tornará o país governável. Como se, após a posse, não houvesse um Congresso que aprova as leis e uma terrível disputa pela ocupação do espaço político, tanto de partidos políticos como do Judiciário, do Ministério Público, dos grupos de mídia, do mercado, de setores sociais, empresariais.
É esse o pepino que o próximo presidente terá que administrar.
A ideia de que, como a opinião pública desconfiava de Lula em 2002, e ele deu certo, logo Marina dará, esbarra em uma questão fundamental: Marina não é Lula; e a Rede não é o PT.
Havia uma estrutura de comando no PT, a aproximação com as forças econômicas, o apoio dos movimentos sociais. E, acima de tudo, a intuição e o carisma de Lula e, no primeiro tempo, dois operadores de peso atuando de forma sincronizada: José Dirceu e Antonio Pallocci.
Mesmo assim, o primeiro governo Lula deu no que deu.
Imagine-se, agora, esse mar de interesses, de egos, de situações complexas sendo administrado por Marina.
Ontem ela foi certeira ao dizer que o papel do presidente é ser o planejador, o que aponta rumos e não o mero gerente. Faltou dizer que é papel do Estadista a administração de conflitos e das forças políticas. E ela não parece ter nenhuma das características que se exige desse presidente estadista.
Fato 4 - o fim do PSDB.
Seja qual for o resultado final das eleições, o PSDB desaparece definitivamente como força hegemônica da oposição. Paga, agora, a mediocrização a que se entregou desde 2006, quando indiciou Geraldo Alckmin como candidato a presidente; e, principalmente, em 2010, com a inacreditável campanha de José Serra. Morreu ao se afastar da academia, abrir mão de qualquer nova ideia ou conceito em nome de um oportunismo míope, e deixar-se conduzir por economistas de mercado, grupos de mídia e pela extrema-direita.
O partido perderá a presidência, o bandeira de maior partido de oposição, o governo de Minas e restará - se não acontecer nenhuma novidade - o controle de São Paulo por aquele que, provavelmente, é o mais despreparado governador da história do Estado.
Cumpre-se a sina de José Sarney que, em 2009, já prognosticava: o DEM acaba, o PSDB será o novo DEM e a nova oposição sairá das entranhas do governo.
Fato 5 - a nova correlação de forças.
Nem de longe Marina será uma líder de massas, uma representante dos desassistidos. Continuará com prestígio enquanto papel em branco. Quando começarem as definições, perderá parte da aura.
No plano social, seu discurso não avança além da ecologia. No plano econômico e fiscal, seus porta-vozes praticarão o liberalismo à la Eduardo Gianetti. Para ele, todos os desequilíbrios sociais, os abusos de preços, de juros, decorrem da falta de educação do povo brasileiro. Sendo assim, nenhuma política pública é eficaz para coibir abusos de mercado.
A esse liberalismo de proveta some-se o liberalismo ecológico de Marina, suas restrições ao crescimento, à ampliação das hidrelétricas, ao próprio agronegócios.
Na oposição, Marina exerce um papel único, de grilo falante dos abusos ecológicos e do centralismo administrativo. No governo, poderá ser enorme fator de risco.
Sua eleição colocará em risco o estoque de políticas sociais existentes. E, com o liberalismo econômico na Fazenda e no Banco Central, não se espere nenhuma estratégia de desenvolvimento amarrada ou não a políticas sociais.
A imagem do bom selvagem é mais forte do que essas complexidades. O grande desafio será Dilma mostrar que a folha em branco poderá acabar com o avanço do estado de bem estar.
Postado por Miro
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