Na Band, Dilma “brava” vai bem; Marina apresenta propostas vagas; Aécio diz que Brasil não pode viver “novas aventuras”
por Luiz Carlos Azenha
Diante de uma bancada de jornalistas de direita ou de extrema-direita, jornalistas de oposição que fizeram perguntas ao gosto dos patrões da TV Bandeirantes, ligados ao agronegócio — questões sobre suposto ‘exagero’ na extensão de terras indígenas ou regulamentação da mídia eletrônica, por exemplo –, a presidente Dilma Rousseff se saiu bem sempre que adotou o tom agressivo, apesar da posição desconfortável de ser a vitrine diante de seis adversários.
Sem considerar o conteúdo político das respostas, a candidata que melhor articulou sua participação foi Luciana Genro, do PSOL. “Quem diz que vai governar com paz e amor está mentindo”, afirmou em sua fala final, se apresentando como alternativa aos líderes das pesquisas, Dilma, Marina e Aécio.
Marina Silva, do PSB, que segundo a mais recente pesquisa do Ibope ultrapassou seu adversário do PSDB, Aécio Neves, foi vaga em suas propostas. Preferiu repetir que o grande problema do Brasil é a polarização entre PT e PSDB. Não disse absolutamente nada marcante sobre como pretende governar, a não ser generalidades: adotaria, por exemplo, um certo “estado mobilizador”, que não explicou detalhadamente. Na entrevista depois do debate, voltou a frisar sua “dor” pela perda de Eduardo Campos.
Aécio Neves, por sua vez, encerrou sua participação afirmando que o Brasil não pode viver “novas aventuras, improviso”, no que nos pareceu uma clara alfinetada na candidata Marina Silva. Aécio reafirmou que, em seu governo, a economia será comandada pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
Se houve algum beneficiado pelo debate, dentro das circunstâncias políticas do momento, foi Aécio: ele expôs com mais clareza suas propostas que sua competidora mais direta, Marina Silva.
Um dos pontos altos de Dilma foi o debate sobre a Petrobras com Aécio Neves. Ao fazer a pergunta sobre a presença da empresa nas páginas policiais, deu oportunidade a Dilma para que apresentasse uma defesa consistente do governo, fazendo comparações com episódios importantes do passado, como a tentativa de trocar o nome para Petrobrax e a plataforma P-36, que afundou sob os tucanos.
Outro ponto alto de Dilma foi quando discutiu o Mais Médicos com Marina Silva, que se referiu ao programa como “paliativo”. Dilma alfinetou de volta dizendo que não se deve falar nunca do tratamento da saúde alheia como algo “paliativo”. O número de 50 milhões de atendidos pelo programa foi enfatizado.
Sem entrar no mérito sobre se os números são ou não verdadeiros, tanto Dilma quanto Aécio foram eficazes ao apresentá-los como forma de enfatizar experiência administrativa. Luciana Genro costurou sua participação de forma bem articulada, apresentando propostas de forma clara e coerente.
Tudo indica que, a partir de agora, com a atenção dos eleitores voltada cada vez mais para detalhes das propostas dos candidatos, Marina Silva terá de ser mais específica do que foi na Band. Ela convocou à união nacional, falou em aproveitar “os melhores” e outras generalidades sem qualquer significado prático.
Durante o debate, a candidata do PSB pregou inclusive a redefinição do significado da palavra “elite”, colocando Chico Mendes lado a lado com banqueiros. Como notou com fineza Luciana Genro, usando outras palavras, a socialista Marina praticamente aboliu a luta de classes.
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