O Globo e as meias verdades que viram mentiras completas
Escrito por: Amauri Chamorro
Fonte: Carta Maior
Fonte: Carta Maior
Quem consome produtos como Época, G1, O Globo, Globo News, CBN e o Jornal da Globo, é contaminado por mentiras que beiram a irresponsabilidade
No dia 30 de agosto O Globo publicou uma reportagem de página inteira
com a manchete “Resistência Sufocada. Com reeleição sem limites de
Correa em jogo, Equador reforça repressão a manifestantes”. A matéria é,
na verdade, uma soma de mentiras, desinformação e demonstra a linha
editorial das Organizações Globo, habitualmente preconceituosa e sempre
contrária aos governos progressistas na América Latina.
A Globo nasceu como um projeto da ditadura militar. Não é à toa que tem
entre seus porta-vozes Alexandre Garcia, que foi empregado dos
ditadores, e Arnaldo Jabor, cuja economia privada se resolveu depois que
os Marinhos lhe deram um microfone giratório. Assim, quem consome
produtos globais como Época, G1, O Globo, Globo News, CBN e o Jornal da
Globo, não é contaminado apenas por parcialidade disfarçada de
“independência”, mas por mentiras que beiram a irresponsabilidade.
As marchas, no Equador, na realidade são resultado de uma lei que cria o
imposto da herança que castigaria principalmente as fortunas
administradas por falsas fundações sediadas em paraísos fiscais. A fúria
da direita foi imediata e a sua reação se deu poucos dias depois do
anúncio presidencial. Imagina se essa boa moda pega e Dilma propõe isso
no Brasil?
Para seguir a cartilha de acusação contra o governo do Equador, onde
uma bem sucedida revolução democrática serve de exemplo ao resto do
continente, O Globo se sustenta no fato de uma franco-brasileira ter
sido detida numa violenta marcha que tentava invadir o palácio
presidencial para justificar uma inexistente reação violenta do governo
equatoriano. O jornal afirma que manifestantes apenas querem impedir a
aprovação de uma emenda constitucional que permitiria ao Presidente
Correa ser novamente candidato em 2017, mas o faz a partir de três
fontes explicitamente contrárias o governo, o que faz com que o texto
não pare em pé.
Por fim, buscando esquentar seus argumentos, o jornal publicou uma
micro-entrevista totalmente mutilada do Ministro do Interior, dados
muito relevantes para a compreensão não só dos fatos, mas da conjuntura
que vive o país. Por isso, eu me sinto na obrigação de contrastar a
publicação.
Distorção jornalística
A franco-brasileira Manuela Picq, detida enquanto participava da
violenta marcha que buscava cercar e tomar o palácio presidencial, é uma
papagaia-de-pirata que procurava um lugar ao sol midiático.
Diferentemente do que afirma O Globo, ela nunca foi presa, e nem
obrigada a sair do país. Basta ler a entrevista da Ministra de Justiça,
Direitos Humanos e Cultos do Equador, na Folha,
para entender realmente o que aconteceu. No momento em que ela foi
abordada junto com outros manifestantes, ela se apresentou como
estrangeira, e por não estar em posse dos seus documentos, ela foi
retida. Depois de passar pelo atendimento médico, fora levada para um
hotel onde se encontram estrangeiros sem a posse de seus documentos.
Depois de uma decisão judicial,
ela foi colocada em liberdade e não foi deportada. Apesar de seu visto
não permitir atividades políticas no Equador, ela saiu do hotel em uma
nova marcha, iniciando uma sequência de entrevistas aos meios
opositores. Após alguns dias, se confirma a revogação o visto, já que
ela infringiu a lei equatoriana por participar de uma manifestação
violenta. Além disso ela se diz jornalista, o que é totalmente falso. A
outra fonte utilizada pelo O Globo é Carlos Peréz Guartambel, namorado
de Picq, que se autodenomina líder indígena e defensor do meio ambiente.
O Globo omite que este sujeito foi representante
de mineradoras e outras empresas autuadas por contaminação ao lençol
freático. Ele não diz que apoiava o governo e que quando seus clientes
foram prejudicados e afetaram sua situação financeira, ele passou a ser
de oposição. O Globo dá espaço para Guartambel afirmar que a polícia
reagiu de maneira violenta contra os manifestantes, mas não aponta que o
semi-indígena liderava a tentativa de cercar e tomar o Palácio (confira
neste link).
Vale lembrar que Correa tem 61% de aprovação da sua gestão, comprovando
assim que ampla maioria da população o apoia. Esta marcha apenas
buscava gerar factóides com violência para ter o que mostrar aos meios
internacionais.
A outra fonte do jornal é a ONG Fundamedios, que se apresenta como
defensora da livre expressão, mas que representa apenas as empresas de
comunicação é financiada pela Usaid,
Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, que
não passa do mecanismo de financiamento da desestabilização política em
diversos países. Em 2012, o embaixador dos EUA admitiu
que a Usaid pagava 25 mil dólares mensais para Fundamedios. Apesar de
indicar a suposta violência do Estado contra a oposição, nem O Globo,
nem Fundamedios falaram sobre as bombas que explodiram contra meios públicos de comunicação e a sede do partido do Presidente Correa durante as “legitimas” manifestações.
A intencionalidade de O Globo em enganar se mistura à de Fundamedios, e fica absolutamente evidente quando afirmam que a declaração do “Estado de exceção” seria para permitir a repressão contra os manifestantes e não, como de fato o é, devido à erupção
do Cotopaxi, maior vulcão ativo do mundo, que ocorreu dia 14 de agosto.
Vale saber que o vulcão fica a apenas 50 km de Quito e suas cinzas já
chegam em praticamente todo o país. Correa assinou este decreto com o
intuito de poder mobilizar todos os recursos necessários para a
assistência dos mais de 350 mil afetados. Ainda que absurdo, a oposição,
alinhada com a oposição equatoriana e com a narrativa do Globo, chegou a
afirmar que o Presidente teria dinamitado o vulcão.
O jornal carioca cumpriu seu papel como empresa de comunicação
responsável pela desinformação da imensa classe média do continente.
Como parte de um processo estritamente de inclusão ao mercado de
consumo, e sem uma formação educacional e cultural que permitissem uma
leitura crítica do seu novo papel na sociedade, esses milhões de
incluídos no mercado de consumo estão à mercê das análises de Jabores,
Leitões e Sarderbergs.
A matéria não traz à luz o fato de que a oposição dispõe de um
mecanismo constitucional chamada de “Revocatória de Mandato”, que após
recolher as assinaturas necessárias, imediatamente tem que ser
convocadas novas eleições. A questão é que eles sabem que não vencerão.
Correa arrasa nas urnas desde que se apresentou pela primeira vez. Pelas
vias democráticas e constitucionais a oposição não tem chance, então o
caminho é buscar eco nos meios de comunicação por meio de violência para
fazer crer de que o Estado é opressor. Para se ter dimensão da
realidade, há 133 policiais feridos e apenas 60 manifestantes foram
detidos, e todos já estão em liberdade. Se fosse um Estado opressor, os
números seriam totalmente distintos.
Revolução cidadã
Este pequenino país sul americano vive há 8 anos um processo de
mudanças estruturais tão profundas, que podemos considerar que o país
foi refundado. Algumas das metas atingidas pela Revolução Cidadã, são
parte dos anseios da sociedade brasileira, inclusive da conservadora
classe média e alta. No Equador, foi criada uma nova constituição que
permitiu a reforma política, judiciaria, tributária e do executivo.
Rafael Correa conseguiu, a partir dessa lógica, mudar os índices de
desenvolvimento equatorianos, que até então eram iguais aos dos piores
países africanos. Assim, o Equador se transformou num modelo de desenvolvimento sustentável, segundo a ONU.
Desde que Correa chegou à presidência, a direção do país saiu das mãos
das elites econômicas e políticas que desde a independência definiram o
futuro do país. Nunca fora perdoado por isso. Antes, a situação era tão
miserável, que até os indígenas que viviam nos grandes latifúndios eram
contabilizados como parte da propriedade: “vendo uma fazenda de 30
alqueires e com 14 indígenas”. Era muito comum que as empregadas
domésticas não ganhassem salários, num regime de escravidão tolerado
socialmente. Elas trabalhavam apenas por comida e moradia e seus filhos,
desde muito pequenos, também trabalhavam. Lavavam os carros, cortavam a
grama. Ambos apanhavam no caso de quebrar um prato ou não cumprir com
suas atividades. Ninguém me contou que era assim. Eu presenciei esses
fatos. Hoje essas mães têm carteira assinada, previdência, pelo menos
recebem um salario mínimo, e seus filhos estudam gratuitamente nas
melhores do mundo com bolsas do governo. Já são mais de 10 mil
estudantes.
Correa tem uma característica visceral em sua gestão, impensável para
quem espera um protocolar estadista. A dureza da defesa de suas posições
criou um estilo odiado por todos aqueles que não o admiram. Esse
temperamento difícil e muito carismático já deu ao presidente 79%
de aprovação do seu mandato. Por isso, nas manifestações de agosto
estavam lado a lado as forças de oposição, Guartambel e Manuela Picq.
Uma aliança pra lá de suspeita. Isso O Globo não comenta.
*Amauri Chamorro é Comunicador Social, formado pela Universidade de
Sorocaba, cursando Mestrado em Comunicação Política pela Universidade
Autónoma de Barcelona. Mais de 20 anos de experiência em estratégias
comunicacionais, trabalha com governos, partidos e organizações sociais
progressistas na América Latina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário