O estadista Renan e as pegadinhas de Sérgio Machado
O
grampo de Sérgio Machado em Renan Calheiros comprova algo que se
pressentia nas suas (de Renan) declarações públicas: dentre todas as
autoridades públicas, Renan é o que mais tem demonstrado respeito pela
chamada liturgia do cargo e mais preocupações com o julgamento da
história.
Apesar
da óbvia intenção de Machado de provocar declarações comprometedoras, a
conversa gravada passa em qualquer teste de republicanismo. O carnaval
dos jornais se deu em relação à sua proposta de mudar a lei da delação
premiada, para impedir que pessoas presas sejam pressionadas a delatar –
uma opinião legítima.
No
restante, mostra um líder político preocupado com a crise, buscando
saídas constitucionais, conversando com todas as pontas, procurando
amarrar a governabilidade. E sumamente indignado com a submissão de
Michel Temer a Eduardo Cunha.
Em
outros momentos, viu-se esse mesmo comportamento de Renan, quando, em
meio às pressões para facilitar o impeachment, apregoou sua preocupação
sobre como seria visto pela história.
Admito
não conhecer os meandros da vida política brasiliense, nem a de
Alagoas. Mas o episódio me remete a lembranças de outros ditos coronéis
nordestinos, como José Sarney.
Em
1987, através de seu Ministro da Justiça Saulo Ramos, Sarney conseguiu
negociar meu pescoço com a Folha. Portanto, não tenho nenhuma razão
objetiva para poupá-lo.
Em
2009 os jornais moveram uma campanha implacável contra ele, assim que
assumiu a presidência do Senado. A intenção óbvia era fragilizar a
governabilidade. Fiz uma defesa enfática do presidente do Senado, não da
pessoa física ou política de Sarney. Em todos os artigos em que
defendia o presidente do Senado, dava dicas para quem quisesse criticar a
pessoa física, dos amigos Edemar Cid Ferreira a Mathias Machline.
Um
assessor de imprensa de Sarney, meu conhecido, sugeriu uma entrevista
com ele, garantindo que era o melhor analista do momento político e do
advento dos novos atores políticos, as ONGs, os blogs e as redes
sociais.
Fui.
Fiquei aguardando-o em uma sala. Sarney chegou, andando lentamente, com
a voz fraca e me agradeceu a defesa dele, que eu tinha feito. E me
disse:
- Senhor jornalista, o senhor é testemunha da seriedade com que trato os temas políticos de interesse do país.
Passou
ao largo das críticas que lhe fazia nos mesmos posts em que defendia o
presidente do Senado. Mas, de fato, desde sempre cumpriu um papel de
fiador da estabilidade política, dentro dessa excrescência que é nosso
presidencialismo de coalizão.
Falta
um perfil melhor de Sarney, assim como de Renan. Algo à parte da
apologia dos áulicos e do profundo preconceito com que são retratados
pela imprensa do Sudeste.
Aliás,
essa preocupação em entender a história é característica de alguns
políticos do Nordeste – como Gustavo Krause, Aldo Rabello, entre outros –
dificilmente encontrável em políticos do centro-sul.
Renan
demonstra uma preocupação com o julgamento da história muito maior do
que o pensamento arrogante de lideranças paulistas, como FHC, que julga
que a história é ele.
O jabuti de Sérgio Machado
Foi
hilária a pequena vingança de Sérgio Machado contra a Procuradoria
Geral da República, com quem tratou do grampo. Na conversa gravada
desanca sem dó o Procurador Rodrigo Janot – podendo alegar
posteriormente que os ataques foram para disfarçar suas intenções, de
estar gravando a mando dele. E nos dois grampos colocou um jabuti na
árvore de Janot: Aécio Neves, apenas para dar trabalho mais tarde para
tirar o jabuti da árvore.
Não se pode negar um senso de humor apurado a Sérgio Machado.
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