Em gravação, Renan expõe influência de jornais na Lava Jato
Jornal GGN - Durante a conversa com o
ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, o senador Renan Calheiros
expôs o papel da imprensa na crise política do Brasil e no processo de
afastamento da presidente Dilma Rousseff. Renan e Machado citam Otavio
Frias Filho, diretor de Redação da Folha de S. Paulo, João Roberto
Marinho, das Organizações Globo, uma funcionária não identificada da
Folha, outro do Uol e o colunista Gerson Camarotti, da Globo.
Em determinado momento do diálogo, Sérgio Machado chama a atenção
do senador para a antecipação da imprensa sobre etapas da Operação Lava
Jato: "Renan, na semana passada, não sei se tu viu, um material que saiu
na quinta ou sexta-feira de um cara aqui do Uol, um jornalista aqui,
dizendo que quinta-feira tinha viajado às pressas... E que estava sendo
montada operação no Nordeste com Polícia Federal, o caralho, na
quinta-feira", disse, em referência à 24ª fase da Lava Jato, que mirou
no ex-presidente Lula, no dia 4 de março.
"Então, meu amigo, a gente tem que pensar como é que a gente
encontra uma saída para isso aí, porque a imprensa...", emendou Machado,
temendo as consequências da falta de controle político sobre o avanço
da Operação, sob o consentimento de meios de comunicação.
"Não vê essa matéria do Camarotti [Gerson Camarotti, comentarista
de política da Globo]?", recordou-se Renan Calheiros. Na trancrição
disponibilizada pela Folha, o nome do jornalista foi omitido, ao
contrário do que revela o áudio. O GGN apurou que faziam referência à reportagem "‘Sei que posso ser preso a qualquer momento’, diz Renan Calheiros",
publicada no dia 10 de março deste ano. Na matéria, o colunista afirma
que Renan "fez um desabafo que surpreendeu a todos os presentes",
durante jantar com senadores tucanos e peemedebistas. "Ao falar do
ambiente de imprevisibilidade da operação Lava Jato, Renan disparou: 'Eu
sei que posso ser preso a qualquer momento. Há dois anos estão tentando
isso'", publicou.
"Só se [você] fosse um imbecil", respondeu Machado, em ironia à
publicação de Camarotti. "Como é que tu vai sentar numa mesa para
negociar e diz que está ameaçado de preso, pô? Só quem não te conhece. É
um imbecil [o jornalista]", apontou. "É, tem que ter um fato contra
mim", completou Renan. "Mas mesmo que tivesse, você não ia dizer, porra,
não ia se fragilizar, tu não é imbecil", disse.
"Agora, a Globo passou de qualquer limite, Renan", ressaltou o ex-presidente da Transpetro.
Em seguida, o presidente do Senado contou que havia agendado "uma
conversa inicial com o governo", nos dias seguintes de março, e a
presidente Dilma lhe disse que uma "conversa dela com João Roberto
[Marinho] foi desastrosa". Durante o diálogo relatado por Dilma a Renan,
a presidente teria "reclamado" sobre o posicionamento e atuação dos
jornais da rede Globo na crise política. "Ele [Marinho] disse que não
tinha como influir. [Dilma] disse que tinha como influir, porque ele
influiu em situações semelhantes, o que é verdade", contou Renan.
"E ele [Marinho] disse que o que está acontecendo é um efeito
manada no Brasil contra o governo", contou o senador, expondo o
posicionamento admitido pela Rede Globo.
Em trecho seguinte, Renan disse que também havia conversado, ele
próprio, com alguma funcionária da Folha, sem especificar se era
jornalista, executiva, diretora, etc. "A conversa com a menina da Folha
foi muito ruim. Com Otavinho [Otavio Frias Filho, a conversa] foi muito
melhor", disse. "Otavinho reconheceu que tem exageros, eles próprios têm
cometido exageros", teria admitido o diretor do jornal paulista.
E seguiu: "com o João [Roberto Marinho], veio com aquela conversa
de sempre, diz que não manda, que não influencia, que hoje é muito
difícil", disse Renan, reforçando a fala da presidente Dilma, que
alertou a Marinho o tratamento "diferente" para "casos iguais". "[Dilma]
disse a ele: João, não é, é porque vocês tratam diferentemente de casos
iguais. Nós temos vários indicativos. E ele disse o seguinte: isso
virou uma manada, uma manada, está todo mundo contra o governo. Quer
dizer, uma maneira sutil de dizer 'acabou'", contou o senador à Machado.
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