Renan intermediou em nomeação de Lula para a Casa Civil como saída da crise
Jornal GGN - Na conversa gravada pelo
ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, o presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL) admite os efeitos da Operação Lava Jato no
cenário de crise política no Brasil, impactando nomes inclusive do PSDB e
oposição, e propõe soluções. Entre elas, o semi-parlamentarismo, uma
espécie de "perdão" do passado, modificações no acordo de leniência e
delação premiada, analisa o impacto negativo da presença de Eduardo
Cunha em futuro governo Temer e admite que, em caso de "radicalização
institucional", a única figura capaz de solucionar a crise seria o
ex-presidente Lula.
O GGN apurou que a conversa entre Machado e Renan
ocorreu entre os dias 10 e 13 de março, pouco mais de uma semana depois
que a equipe da Lava Jato realizou a sua 24ª fase da Operação, mirando
no ex-presidente Lula e seu filho Lulinha. A estratégia de Renan,
apontado naquele momento por Sérgio Machado como "o mais importante na
República hoje", era colocar em prática o projeto de mudança no sistema
político para o parlamentarismo, assumindo que não seria possível
influir na escolha de renúncia por parte da presidente Dilma e, caso
fosse necessário, pelo menos, convencendo Dilma a nomear Lula ministro
da Casa Civil.
"No PSDB não sobra ninguém"
O ex-presidente da Transpetro buscou o diálogo com Renan Calheiros
na tentativa de encontrar saídas para as consequências da Lava Jato,
temendo que seria ele o próximo alvo das Operações. Ao comentar que
todos os políticos estão "sentindo um aperto nos ombros", Renan
Calheiros confirmou que todos estão "com medo".
"Renan, não sobra ninguém, Renan!", exclamou Machado. "Aécio
[Neves] está com medo e perguntou se não dava para eu descobrir: 'Renan,
queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais
alguma coisa'", contou o senador, sobre o temor do candidato tucano
derrotado à presidência. "Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não
sobra ninguém, Renan", disse Machado, acusando os políticos do partido
de oposição por envolvimento em esquemas de corrupção.
Ainda sobre o PSDB, Machado reafirmou o sentimento de não aceitar a
derrota nas urnas, ao afirmar a Renan que tem "a informação" de que o
PSDB "se convenceu de que eles são o próximo da vez". Nesse sentido, o
peemedebista destacou o seu papel de mediador e com bom trânsito entre
todos os partidos, no cenário de crise política. "O Aécio disse isso,
que eu sou a esperança única que eles têm de alguém para fazer o...
[impeachment]", afirmou.
Em determinado momento da conversa, Renan Calheiros assumiu que,
além de petistas, estão do lado da luta contra o impeachment os
legalistas e defensores do direito. Com a volta da imagem do
ex-presidente Lula, comentaram que a militância petista reascendeu. Mas,
além deles, "entram todos os legalistas. "Não entra só mais o petista,
entra o legalista, todos", admitiu Renan.
Entre os temas tratados, Machado e Renan discutiram um cenário de
renúncia, que logo foi negado pelo senador. Em conversa que teve com a
presidente afastada, antes de março, contou que Dilma "avaliou esse
cenário todo" de renúncia, licença e impeachment. Mas disse que não
deixou "ela falar sobre a renúncia": "quando ela foi falar, eu disse,
'não fale, não, pelo que conheço, a senhora prefere morrer'", disse,
relatando estratégia para deixar a presidente bem e à vontade no
diálogo, mas reconhecendo que a opção não era aceita por Dilma.
Opção Temer-Cunha
Renan Calheiros disse que estava "apoiando" o nome de Michel Temer
para assumir a Presidência em cenário de impeachment "porque não é
interessante brigar". Mas criticou a influência e o papel de Eduardo
Cunha no governo que viria. "[Temer] errou muito, com o negócio de
Eduardo Cunha... O Jader [Barbalho] me reclamou, ele foi lá na casa dele
[de Michel Temer] e ele estava lá, o Eduardo Cunha. Aí o Jader disse,
'porra, também é demais, né'", desabafou.
Parlamentarismo
Nas propostas aventadas, o presidente do Senado defendeu que a
"melhor solução" seria um acordo dentro do parlamentarismo. "A melhor
solução para ela [Dilma] é um acordo que a turma topa. Não com ela. A
negociação é botar, é fazer o parlamentarismo e fazer o plebiscito, se o
Supremo permitir, daqui a três anos. Aí prepara a eleição, mantém a
eleição", defendeu.
Borracha no Brasil
E Machado foi além: propôs uma espécie de "borracha no Brasil",
incluindo um acordo com o agora afastado presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, e o Supremo Tribunal Federal. "Fazer um pacto de Caxias, vamos
passar uma borracha no Brasil e vamos daqui para a frente", sugeriu.
"Antes de passar a borracha, precisamos fazer três coisas, que
alguns do Supremo estão fazendo. Primeiro, não pode fazer delação
premiada preso, é a primeira coisa, porque aí você regulamenta a delação
e estabelece isso. A lei diz que não pode prender depois da segunda
instância, e ele aí dá uma decisão, interpreta isso e acaba isso. Em
segundo lugar, negocia a transição com eles [ministros do Supremo]", deu
sequência Renan, nas propostas de reformas.
"Lei da Anistia" atual
Nessa linha, Sérgio Machado acrescentou que seria necessário um
tipo de "perdão" do passado, da mesma forma como foi feito com a Lei da
Anistia, que perdoou torturados e torturadores. A sugestão foi uma
tática motivada pelo medo que o ex-presidente da Transpetro sentia de
estar na mira dos investigadores.
"Me disseram que dentro da leniência botaram outras pessoas,
executivos para falar. Agora, meu trato com essas empresas, Renan, é com
os donos. Quer dizer, se botarem, vai dar uma merda geral, eu nunca
falei com executivo. E tem que encontrar, Renan, como foi feito na
Anistia, com os militares, um processo que diz assim: 'Vamos passar o
Brasil a limpo, daqui para frente é assim, para trás...' Porque, senão,
esse pessoal vai ficar eternamente com uma espada na cabeça, não importa
o governo, tudo é igual", disse.
STF sem ação
Ao criticar a imobilização da presidente Dilma de reagir à crise
política e econômica, Machado alertou que os próprios ministros do STF
não dialogam com a presidente.
"Não negociam porque todos estão putos com ela", respondeu Renan,
acrescentando que Dilma lhe contou que recebeu o presidente do STF em
seu gabinete, o ministro Ricardo Lewandowski, e ela queria "conversar um
pouco sobre uma saída para o Brasil, sobre as dificuldades, sobre a
necessidade de conter o Supremo como guardião da Constituição". Mas que
"Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa inacreditável",
disse Dilma a Renan.
"Eu nunca vi um Supremo tão merda", completou Machado.
Lula como saída
O executivo ressaltou o papel de Renan Calheiros para as saídas da
crise política no Brasil: "A bola está no seu colo. Não tem um cara na
República mais importante que você hoje. Porque você tem trânsito com
todo mundo. Essa tua conversa com o PSDB, tu ganhou uma força que tu não
tinha", disse. "E esse negócio só salva se botar todo mundo. Porque
deixar esse [Sergio] Moro do jeito que ele está, disposto como ele está,
com 18% de popularidade de pesquisa, vai dar merda. Isso que você diz,
se for ruptura, vai ter conflito social. Vai morrer gente. Vai ser o
Brasil parado", alertando para consequências extremas do processo.
"Vai, vai", concordou Renan, acrescentando que, nessa hipótese, a
saída seria o ex-presidente Lula assumir a governabilidade. "E aí tem
que botar o Lula. Porque é a intuição dele". "Aí o Lula tem que assumir a
Casa Civil e ser o primeiro ministro, esse é o governo. Ela [Dilma] não
tem mais condição, Renan, não tem condição de nada. Agora, quem vai
botar esse guizo nela?", questionou Machado.
"Com ela eu converso, quem conversa com ela sou eu, rapaz",
assegurou Renan Calheiros. A nomeação de Lula para a Casa Civil por
Dilma Rousseff ocorreu após três a, no máximo, seis dias depois dessa
conversa de Renan.
Antes da afirmação do senador ao ex-presidente da Transpetro, Renan
revelou que defendeu a Lula o seu nome para assumir o governo em caso
de "radicalização institucional". "Eu defendi, ele me perguntou, me
chamou num canto. Eu acho que essa hipótese, eu disse a ele, tem que ser
guardada, não pode falar nisso. Porque se houver um quadro, que é o
pior que há, de radicalização institucional, e ela [Dilma] resolva
ficar, para guerra, aí, nesse caso, ela tem que se ancorar nele. Ela só
tem ele. Que é para ir para lá e montar um governo. Esse aí é o
parlamentarismo sem o Lula, é o branco, entendeu", concluiu o
peemedebista.
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