O "terrorismo" de Levy sobre o rating brasileiro
Em uma recente audiência pública no Senado, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, traçou um cenário desastroso para o caso de o Brasil ser rebaixado pelas agências de rating,
empresas que servem de bússola para especuladores estrangeiros. A perda
do chamado grau de investimento, selo equivalente a “porto-seguro”
conquistado pelo País em 2008, teria “consequências bastante fortes”. O
custo, disse Levy, seria “altíssimo” para o governo, empresas e
trabalhadores, pois uma eventual fuga de capitais bagunçaria a economia.
A reportagem é de André Barrocal, publicada pela Revista CartaCapital, 07-04-2015.
O hipotético futuro catastrófico tem sido usado pela Fazenda, com apoio do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, como uma das principais justificativas para levar adiante um duro ajuste fiscal, a prever restrição de alguns direitos trabalhistas e um elevado corte de gastos públicos. Dentro e fora do governo, porém, é possível captar sinais de que a perspectiva não parece tão dramática quanto à descrita por Levy.
Diretor de Macroeconomia da LCA Consultores, Fernando Sampaio diz que a perda do grau de investimento seria um “revés indiscutível”. Mas, afirma, o atual nível de preços dos ativos (juros, dólar etc) brasileiros no mundo já é compatível com tal queda. “Grande parte da perda do rating já foi precificada”, afirma. Segundo ele, o esforço do governo para salvar o rating, se exitoso, terá como efeito “melhorar a cotação dos ativos brasileiros”, como o recuo do dólar e dos juros.
É uma visão também encontrada fora do mercado financeiro. Especialista em política fiscal e crítico do arrocho de Levy, por ver no ajuste um mero plano contábil, o economista Francisco Lopreato, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), identifica um certo "terrorismo" na argumentação do ministro. “Não vejo uma brutal redução de investimentos, caso o Brasil perca o rating. Há um alarde maior do que o real”, diz.
As estatísticas oficiais mostram que o investimento estrangeiro direto teve um salto após a obtenção do grau de investimento em 2008. Nos seis anos anteriores, tais aportes somaram em média 19 bilhões de dólares por ano. Nos seis anos seguintes, pularam para 55 bilhões anuais, em média.
A atual “precificação” da perda do rating apontada por Sampaio já fazia parte de alguns cenários elaborados por setores da equipe econômica do governo em dezembro, quando o ajuste fiscal ainda estava em gestação. Nestes cenários, o rebaixamento brasileiro pelas agências levaria o dólar a R$ 3,30 e a taxa básica de juros do Banco Central a 13%. Na época, a moeda norte-americana valia de R$ 2,50 a R$ 2,60, e o juro estava em 11,75%. Neste início de abril, o dólar beira os R$ 3,20 e enquanto o juro está em 12,75%.
O pessimismo exacerbado de Levy já causa um certo desconforto em certos gabinetes em Brasília. Quanto pior o cenário for, mais o governo estará pressionado a não contrariar o “mercado” em suas decisões de política econômica. Com suas declarações, o ministro da Fazenda contribui para deixar o governo acuado. E aumenta a necessidade de um drástico corte de gastos públicos, cujo tamanho logo será definido por Dilma Rousseff.
A reportagem é de André Barrocal, publicada pela Revista CartaCapital, 07-04-2015.
O hipotético futuro catastrófico tem sido usado pela Fazenda, com apoio do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, como uma das principais justificativas para levar adiante um duro ajuste fiscal, a prever restrição de alguns direitos trabalhistas e um elevado corte de gastos públicos. Dentro e fora do governo, porém, é possível captar sinais de que a perspectiva não parece tão dramática quanto à descrita por Levy.
Diretor de Macroeconomia da LCA Consultores, Fernando Sampaio diz que a perda do grau de investimento seria um “revés indiscutível”. Mas, afirma, o atual nível de preços dos ativos (juros, dólar etc) brasileiros no mundo já é compatível com tal queda. “Grande parte da perda do rating já foi precificada”, afirma. Segundo ele, o esforço do governo para salvar o rating, se exitoso, terá como efeito “melhorar a cotação dos ativos brasileiros”, como o recuo do dólar e dos juros.
É uma visão também encontrada fora do mercado financeiro. Especialista em política fiscal e crítico do arrocho de Levy, por ver no ajuste um mero plano contábil, o economista Francisco Lopreato, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), identifica um certo "terrorismo" na argumentação do ministro. “Não vejo uma brutal redução de investimentos, caso o Brasil perca o rating. Há um alarde maior do que o real”, diz.
As estatísticas oficiais mostram que o investimento estrangeiro direto teve um salto após a obtenção do grau de investimento em 2008. Nos seis anos anteriores, tais aportes somaram em média 19 bilhões de dólares por ano. Nos seis anos seguintes, pularam para 55 bilhões anuais, em média.
A atual “precificação” da perda do rating apontada por Sampaio já fazia parte de alguns cenários elaborados por setores da equipe econômica do governo em dezembro, quando o ajuste fiscal ainda estava em gestação. Nestes cenários, o rebaixamento brasileiro pelas agências levaria o dólar a R$ 3,30 e a taxa básica de juros do Banco Central a 13%. Na época, a moeda norte-americana valia de R$ 2,50 a R$ 2,60, e o juro estava em 11,75%. Neste início de abril, o dólar beira os R$ 3,20 e enquanto o juro está em 12,75%.
O pessimismo exacerbado de Levy já causa um certo desconforto em certos gabinetes em Brasília. Quanto pior o cenário for, mais o governo estará pressionado a não contrariar o “mercado” em suas decisões de política econômica. Com suas declarações, o ministro da Fazenda contribui para deixar o governo acuado. E aumenta a necessidade de um drástico corte de gastos públicos, cujo tamanho logo será definido por Dilma Rousseff.
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