The Economist e o Tea Party nativo
Por Altamiro Borges
A mídia colonizada adora bajular os artigos da publicação britânica “The Economist” – principalmente quando eles bombardeiam as esquerdas e defendem as teses ortodoxas do neoliberalismo. Na última sexta-feira (17), porém, a famosa “bíblia do capital” fez um curioso diagnóstico sobre os protestos recentes contra o governo Dilma. Os colunistas de plantão, com seu complexo de vira-latas, evitaram repercutir a reportagem. Afinal, os jornalões, as revistonas e as emissoras de rádio e tevê têm feito um grande esforço para vender a imagem de que estas marchas pregam a democracia e são pacíficas. “The Economist” preferiu não ludibriar os seus leitores e deu o nome aos bois. “Tea Party tropical quer derrubar Dilma”, afirma já no título. Vale conferir alguns trechos:
*****
O movimento anti-Dilma se assemelha aos protestos ocorridos na Europa e Estados Unidos, mas com grandes diferenças. Ao contrário do Syriza, na Grécia, e do Podemos, na Espanha, os organizadores das manifestações brasileiras não são de esquerda e não pertencem a um partido político. Há quem os compare aos americanos do Tea Party, que, de dentro do Partido Republicano, luta por um governo mínimo. Essa última comparação é mais apropriada.
(...)
Os manifestantes brasileiros simpatizam com os partidos de oposição do País e esperam poder influenciá-los. Renan Hass, do Movimento Brasil Livre (MBL), um dos principais organizadores das manifestações, quer que o PSDB seja “mais macho”. Mas, diferentemente do Tea Party americano, o movimento ainda é muito recente e fragmentado para ter voz no Congresso.
Os protestos de rua foram convocados por dezenas de pequenas organizações. Aos olhos dos simpatizantes do governo Dilma, os manifestantes representam uma elite privilegiada, alguns dos quais se mostram inclusive dispostos a atingir seu objetivo por meio de um golpe militar. A primeira alegação é, em parte, verdadeira; a segunda só se aplica a uma minoria lunática.
Muitos dos que aderiram ao MBL se identificam claramente com o laissez-faire extremista do Tea Party e chamam o PT de “comunista”. E mesmo os grupos menos radicais, como o Vem Pra Rua, o maior dentre os organizadores das manifestações, argumentam que a carga tributária brasileira, que chega a 36% do PIB, é muito alta, e a burocracia do governo federal, com 39 ministérios, grande demais. Um congressista do PT acusa o movimento de ser financiado pela CIA.
O fato, porém, é que eles não precisam desse tipo de dinheiro. O serviço de mensagens WhatsApp serve de escritório para os 2,5 mil ativistas do Vem Pra Rua. Nas manifestações de março, o grupo diz ter gastado menos de R$ 20 mil com a impressão de cartazes e o aluguel de um caminhão de som. Alguns grupos juntam dinheiro vendendo itens com palavras de protesto. Uma camiseta ‘Fora PT!’ custa R$ 40 no site do MBL. Designers gráficos, publicitários e advogados contribuem com trabalho voluntário. Entre suas atividades, está a divulgação de mensagens no Facebook, atualmente usado por dois quintos da população brasileira.
*****
The Economist até alivia a imagem dos grupelhos fascistas. Evita apurar as denúncias sobre os seus vínculos com “fundações” estrangeiras – especialmente a ligação do MBL com institutos de extrema-direita dos EUA. Também difunde a ideia de que as contribuições são voluntárias, mas não explica os milionários gastos em logística das duas últimas marchas. Ao final, a publicação chega a aconselhar: "Sem perspectiva de atrair mais gente para as ruas, os grupos precisam encontrar outras maneiras de pressionar o governo”.
Apesar destas limitações, a reportagem é bem mais honesta do que a maioria já publicada pela mídia nativa – que também se comporta como os aparatos de comunicação do Tea Party dos EUA.
A mídia colonizada adora bajular os artigos da publicação britânica “The Economist” – principalmente quando eles bombardeiam as esquerdas e defendem as teses ortodoxas do neoliberalismo. Na última sexta-feira (17), porém, a famosa “bíblia do capital” fez um curioso diagnóstico sobre os protestos recentes contra o governo Dilma. Os colunistas de plantão, com seu complexo de vira-latas, evitaram repercutir a reportagem. Afinal, os jornalões, as revistonas e as emissoras de rádio e tevê têm feito um grande esforço para vender a imagem de que estas marchas pregam a democracia e são pacíficas. “The Economist” preferiu não ludibriar os seus leitores e deu o nome aos bois. “Tea Party tropical quer derrubar Dilma”, afirma já no título. Vale conferir alguns trechos:
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O movimento anti-Dilma se assemelha aos protestos ocorridos na Europa e Estados Unidos, mas com grandes diferenças. Ao contrário do Syriza, na Grécia, e do Podemos, na Espanha, os organizadores das manifestações brasileiras não são de esquerda e não pertencem a um partido político. Há quem os compare aos americanos do Tea Party, que, de dentro do Partido Republicano, luta por um governo mínimo. Essa última comparação é mais apropriada.
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Os manifestantes brasileiros simpatizam com os partidos de oposição do País e esperam poder influenciá-los. Renan Hass, do Movimento Brasil Livre (MBL), um dos principais organizadores das manifestações, quer que o PSDB seja “mais macho”. Mas, diferentemente do Tea Party americano, o movimento ainda é muito recente e fragmentado para ter voz no Congresso.
Os protestos de rua foram convocados por dezenas de pequenas organizações. Aos olhos dos simpatizantes do governo Dilma, os manifestantes representam uma elite privilegiada, alguns dos quais se mostram inclusive dispostos a atingir seu objetivo por meio de um golpe militar. A primeira alegação é, em parte, verdadeira; a segunda só se aplica a uma minoria lunática.
Muitos dos que aderiram ao MBL se identificam claramente com o laissez-faire extremista do Tea Party e chamam o PT de “comunista”. E mesmo os grupos menos radicais, como o Vem Pra Rua, o maior dentre os organizadores das manifestações, argumentam que a carga tributária brasileira, que chega a 36% do PIB, é muito alta, e a burocracia do governo federal, com 39 ministérios, grande demais. Um congressista do PT acusa o movimento de ser financiado pela CIA.
O fato, porém, é que eles não precisam desse tipo de dinheiro. O serviço de mensagens WhatsApp serve de escritório para os 2,5 mil ativistas do Vem Pra Rua. Nas manifestações de março, o grupo diz ter gastado menos de R$ 20 mil com a impressão de cartazes e o aluguel de um caminhão de som. Alguns grupos juntam dinheiro vendendo itens com palavras de protesto. Uma camiseta ‘Fora PT!’ custa R$ 40 no site do MBL. Designers gráficos, publicitários e advogados contribuem com trabalho voluntário. Entre suas atividades, está a divulgação de mensagens no Facebook, atualmente usado por dois quintos da população brasileira.
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The Economist até alivia a imagem dos grupelhos fascistas. Evita apurar as denúncias sobre os seus vínculos com “fundações” estrangeiras – especialmente a ligação do MBL com institutos de extrema-direita dos EUA. Também difunde a ideia de que as contribuições são voluntárias, mas não explica os milionários gastos em logística das duas últimas marchas. Ao final, a publicação chega a aconselhar: "Sem perspectiva de atrair mais gente para as ruas, os grupos precisam encontrar outras maneiras de pressionar o governo”.
Apesar destas limitações, a reportagem é bem mais honesta do que a maioria já publicada pela mídia nativa – que também se comporta como os aparatos de comunicação do Tea Party dos EUA.
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