sábado, 4 de abril de 2015

MÍDIA - O protesto contra a Globo.




O protesto contra a Globo no Rio

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Manifestante em frente à Globo, no Rio, 1 de abril de 2015. Crédito: Miguel do Rosário.

Em 2014, a ânsia da Globo em mostrar manifestações contra o governo federal fez o jornal dar meia página para o protesto de um casal em Brasília.
Ontem ocorreram protestos contra a Globo em todo país, totalizando centenas de pessoas, e a divulgação ficará restrita às redes sociais e a uma sequência de fotos do UOL.
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Crédito: UOL.

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Crédito: UOL.


Outro dia, 30 mil professores paulistas foram às ruas protestar por melhores condições de trabalho.
A mídia não deu nada.
Também ontem algumas centenas de manifestantes fizeram um “escracho” contra o ministro Gilmar Mendes, protestando contra um “pedido de vistas” que já dura um ano, impedindo a votação da Adin que proíbe o financiamento de campanhas políticas por empresas.
Nem preciso monitorar nossa grande imprensa para saber que ela também escondeu esse protesto.
A mídia brasileira escolhe qual manifestação merece cobertura, qual merece ser abafada. O filtro é o seu interesse político e partidário.
Se é a favor das suas pautas, ela dá cartaz. Se é contra seus interesses, ela abafa.
Aqui no Rio, cerca de duzentas pessoas se manifestaram nesta quarta, 1 de abril, em frente à sede da emissora, no Jardim Botânico.
Outras duzentas estiveram na Candelária no mesmo dia, também protestando contra a Globo.
Era um protesto contra a Globo e contra a sonegação, o crime que mais sangra os cofres públicos.
A operação Zelotes, da Polícia Federal, que investiga crimes de evasão fiscal cometidos por grandes empresas, estima que os desvios podem ter chegado a quase 20 bilhões de reais.
A sonegação brasileira em 2014 foi estimada pelo Sinprofaz (Sindicato dos Procuradores da Fazenda Nacional) em R$ 502 bilhões.
Ou seja, falamos de desvios centenas de vezes superior à Lava Jato.
Mas só a Lava Jato recebe prioridade na mídia.
Aliás, o Ministério Público não vai fazer um hotsite especial para a Operação Zelotes, como fez para a Lava Jato?
Não vai fazer uma cartilha especial para crianças, como fez com a Ação Penal 470?
(Na época em que a cartilha foi lançada, o PT, ao invés de fazer uma ofensiva política, entrou com ação na justiça, que não deu em nada. )
Os crimes apurados pela operação Zelotes não envolvem um tijolo, uma obra pública, uma plataforma, como são os desvios da Petrobrás, que correspondiam, segundo os delatores, a comissões clandestinas de 2% a 3% dos negócios, pagas a operadores dentro e fora da Petrobrás.
Os crimes da operação Zelotes são roubo puro e cristalino de dinheiro público, na medida em que grandes empresas, ligadas ao setor bancário, como o Safras, ou à mídia, como o grupo RBS, tinham suas dívidas tributárias zeradas, após pagarem a devida propina a conselheiros do Carf, um órgão obscuro, para-estatal, que discute as grandes dívidas tributárias no país.
A mídia não está cobrindo direito a operação Zelotes. Não há infográficos, não há repercussão, não aparece ninguém para dizer que é “o maior roubo da história do Brasil”, ou “o maior roubo do mundo”.
A mídia prefere fazer sensacionalismo com as novas declarações de um delator condenado várias vezes.
Quando o mesmo bandido delatou Aécio Neves, acusando-o de receber propina mensal de 120 mil dólares, durante quase todo o governo FHC, a mídia abafou.
Por isso nos manifestamos ontem em frente à Globo. Para protestar contra esse tipo de manipulação descarada, praticada por uma concessão pública de rádio e TV.
Os protestos coxinhas são feitos com ódio. Marcha-se ao lado de gente que pede a volta da ditadura. E novamente vemos o abuso de poder por parte de concessões públicas, usadas como órgãos de “agitação e propaganda”, convocando pessoas para um protesto político.
Os nossos protestos não são convocados por nenhuma concessão pública.
Não são feitos com ódio.
Na manifestação de ontem, houve esquetes teatrais, discursos, música, performances.
E, sobretudo, muita camaradagem.
Entre os presentes, Graça Lago, ativista política carioca, uma pessoa com senso de humor extraordinário.
Graça, por acaso, é filha do comunista Mario Lago, medalhão sagrado da cultura brasileira, e que tanto sofreu nas mãos da mesma ditadura que transformou os proprietários da Globo na família mais rica do país.
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Graça Lago, ao lado de dois manifestantes, pai e filha, que chegaram atrasado à manifestação do Jardim Botânico, após terem passado pela Calendária. Crédito: Facebook da Graça.


Graça me contou uma coisa que eu não sabia.
No Carnaval deste ano, eu publiquei no Tijolaço imagens de foliões com fantasias de “Chora, Merval”.
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O que eu não sabia é que não eram apenas alguns foliões.
Era um bloco de carnaval inteiro, com direito a marchinha e tudo!
Fez-se uma adaptação de uma marchinha de 1970, intitulada “Chora, Doutor”.
Basta trocar “doutor” por “merval”.
Chora merval
Chora
Eu sei que o medo
De ficar pobre
Lhe apavora.

Ao final do protesto, o carro de som tocou a música Abalando as estruturas globais, da banda MC Gas-pa.

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