O balanço da Petrobras foi o resgate da chantagem da Price

  Autor: Fernando Brito
BALAN
Afora os eventuais “sacolejos” diários, todos verão que o “mercado” não terá abalos permanentes com o balanço auditado da Petrobras, divulgado ontem.
Porque sabe que ele não é “verdadeiro”, considerados os métodos de cálculo usados por outras empresas.
É claro que o balanço teria de registrar perdas, porque não é possível deixar de falar em perdas quando as petroleiras tiveram de amargar uma redução do preço médio de seu produto de uma média de US$ 109 por barril no terceiro trimestre de 2014 para US$ 77 dólares/barril  no quarto trimestre, também na média.  Média, porque o ano terminou com 62 dólares por barril.
Mas as perdas por reavaliação de ativos – o tal impairment -pelas métricas usadas nos balanços das demais petroleiras, é muito menor e o mercado sabia disso, tanto que as estimava em, no máximo R$ 20 bilhões, em lugar dos mais de R$ 40 bilhões  divulgados. E as perdas de R$ 6 bilhões com corrupção, todos sabem, não vão além de uma “conta de chegar”.
Ambos são números que a Price, que audita os balanços da Petrobras, está determinando, com o pé no pescoço que a exigência de apresentação do balanço auditado lhe permite fazer, desde que a presidência da petroleira era exercida por Graça Foster.
Foi a Price quem forçou o cálculo dos tais R$ 88 bilhões de prejuízo com o impairment, que a acuada Graça Foster aceitou e que, afinal, foram reduzidos para R$ 44 bilhões , que é exatamente a metade de algo que não tinha pé nem cabeça.
Daí também a fórmula estapafúrdia de considerar 3% a perda por corrupção sobre o valor dos contratos sobre os quais a “Lava-Jato” levantou suspeitas. Nem sua Excelência, o Dr. Sérgio Moro, chega sequer perto disso, e pode-se ver isso até pela sentença que prolatou ontem sobre os prejuízos que a dupla Paulo Roberto Costa, onde estabelece que, em relação à “lavagem de dinheiro” operada por Youssef, o desvio foi de  R$ 18,6 milhões no caso da Refinaria Abreu e Lima.
Um baita assalto, mas que precisaria ser multiplicado por 330 vezes para chegar ao valor estimado em balanço.
Os dois valores foram o preço que a Price exigiu para assinar o balanço sem “ressalvas” e, portanto, assumir a responsabilidade solidária que tem no caso de eventuais ações judiciais e, claro, limpar sua fachada diante do mercado pelo “não tinha nem visto” que praticou sobre as contas da companhia até o terceiro trimestre passado.
Se não assinasse, a Petrobras teria de pagar antecipadamente suas dívidas, o que quebraria até mesmo uma gigante com caixa de R$ bilhões.
Se assinasse com ressalvas, manteria a empresa sob seu poder.
A opção foi a de ceder à chantagem da Price, mas exigindo que não houvesse ressalvas e, assim, desaparecesse o seu poder de pressão sobre a companhia.
Decisão, é claro, que teve o “de acordo” de Joaquim Levy e o diagnóstico de que “não há outro jeito” levado a Dilma.
É assim que funciona o “limpo” mercado. Empresas de auditoria, classificadora de riscos, certificadoras, tudo é parte de uma imensa máquina de ganhar dinheiro, longe de qualquer “santidade contábil”.
Como disse, pode haver um “chacoalhão” no mercado, hoje, sobretudo pela negativa de pagamento de dividendos.
Mas, depois dele, a tendência seguirá sendo a de lenta recuperação da empresa, que teve de aceitar encolher em investimentos e patrimônio.
Torçamos que não – e acho que não – este encolhimento não represente cessão de alguma parcela dos campos do pré-sal.
Mas a Price, desde ontem, deixou de ser uma faca de ponta para exigir isso.