Para entender o balanço contábil da Petrobrás
Fonte: Jornal GGN
Autor: Luís Nassif
O
57o Fórum de Debates Brasilianas, sobre as perspectivas do pré-sal,
permitiram elucidar um dos nós dos problemas da Petrobras com as
agências de rating.
Há dois modelos de exploração de petróleo: a concessão e a partilha.
Na
concessão, faz-se o leilão pelo maior lance. Quem vence dá um lance
pelas reservas e, depois, paga royalties sobre a produção. Como
“comprou” a concessão, a reserva medida entra como ativo da empresa. Na
partilha, em geral, paga-se em petróleo pela exploração do campo. Mas a
reserva não é considerada ativo. Ou seja, entra no fluxo de resultados
da companhia, na medida em que seja retirado, mas não como ativo.
Trata-se de uma mera questão contábil.***
Imagine
duas empresas do mesmo tamanho, aplicando a mesma quantidade de
recursos na exploração de dois campos, um pelo regime de partilha, outro
pelo regime de concessão.
O esforço exploratório é o mesmo, assim como o capital investido e a receita de exploração.
No
entanto, contabilmente no sistema de concessão a alavancagem – relação
endividamento / patrimônio líquido será mais favorável à empresa que
explora pelo regime de concessão.
Ora,
a análise de risco visa orientar o investidor sobre a maior ou menos
solidez das companhias. Não pode se prender a filigranas contábeis.
No
caso da concessão, o ativo é calculado multiplicando-se as reservas
medidas pela cotação do petróleo. No caso da partilha, teria que se
estimar o fluxo futuro de produção do campo a uma determinada taxa de
desconto.
De
qualquer modo, seria um caso típico de medir situações similares com
métricas diferentes. Se os campos da Petrobras fossem contabilizados
como ativo, o balanço passaria em qualquer teste de alavancagem com
louvor.
***
Houve outras discussões sobre os critérios utilizados na avaliação da empresa.
PhD
da área de petróleo e gás, assessor legislativo, ex-engenheiro da
Petrobras, Paulo César Ribeiro Lima questionou a metodologia de
reavaliação dos ativos da empresa – o chamado teste de impairment –
efetuado no final da gestão Graça Foster.
Esse
teste consiste em analisar o fluxo estimado de resultados de uma
empresa – quando existem mudanças fortes no cenário – e lançar os
resultados no balanço. Ou seja, se os ativos físicos da empresa estão
contabilizados por, digamos, 100 e o teste o impairment avalia o
resultado do fluxo em 40, a diferença tem que ser abatida no patrimônio
líquido registrado em balanço. Foi o que fez com que a Abreu de Lima
significasse uma baixa enorme no balanço da Petrobras.
O
que Ribeiro Lima questiona é que avaliou-se a refinaria isoladamente e
não na forma integrada com outras áreas da empresa. Com a Petrobras,
Abreu e Lima se beneficia da terminais, dutos, transporte marítimo e
toda a estrutura integrada. Em mãos de terceiros, não terá a mesma
sinergia.
Essa integração garante a produção de diesel a 60 centavos de dólar o litro, contra um preço internacional de 1,35.
***
O
pano de fundo do seminário, porém, foi a demora em se solucionar a
questão da Sete Brasil – a empresa formada para adquirir sondas.
Se não houver solução rápida, poderá levar de roldão toda a cadeia naval e seus fornecedores.
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