Editorial da Folha lembra ameaças da mídia a Goulart
Escrito por: Kátia Gerab Baggio*
Fonte: Viomundo
Fonte: Viomundo
O editorial intitulado ?Última chance?, da Folha de S. Paulo, e a necessidade de resistência ao golpe
O editorial intitulado “Última chance”, publicado na capa da Folha de
S. Paulo, com inusual destaque, no dia 13 de setembro de 2015, é um
“dileto produto” da mesma família Frias que já denominou, em outro
editorial, a ditadura militar inaugurada em 1964 como “ditabranda”.
São os Frias golpistas, como já vimos em outros momentos da história do Brasil.
O editorial defende a necessidade de revisar “desembolsos para parte
dos programas sociais”, além da “desobrigação parcial e temporária de
gastos compulsórios em saúde e educação, que se acompanharia de
criteriosa revisão desses dispêndios no futuro”.
Menciona a necessidade de “alguma elevação da já obscena carga
tributária”, mas não faz referência, em nenhum trecho do texto, à
urgente necessidade de combate mais efetivo à gigantesca sonegação de
impostos. Esta, sim, efetivamente obscena.
O editorial termina com as seguintes palavras: “não lhe restará [à
presidente Dilma Rousseff], caso se dobre sob o peso da crise, senão
abandonar suas responsabilidades presidenciais e, eventualmente, o cargo
que ocupa.”
O momento é grave.
O tom do editorial não é muito diferente das ameaças feitas a João
Goulart, em março de 1964, pela mídia liberal-conservadora da época
(incluindo o jornal dos Frias).
Mas as forças da resistência — organizadas na Frente Brasil Popular,
movimentos sociais e sindicais, PT, PCdoB e políticos de alguns outros
partidos que são contrários ao golpismo — não irão aceitar o golpe sem
reação.
E, aos que se alinham à esquerda, mas estão, com razões indiscutíveis,
profundamente insatisfeitos com o governo Dilma, no segundo mandato,
digo o seguinte:
Caso Dilma não resista às pressões brutais que vem sofrendo desde que
foi reeleita — pelos mercados, pelo grande capital, pela “grande” mídia e
pelas oposições — e eventualmente venhamos a ter um governo do PMDB em
aliança com os partidos de oposição (PSDB – DEM – PPS e outros partidos
menores de direita e centro-direita), avalio que todos os avanços
sociais dos governos Lula e Dilma estarão em risco.
Penso que propostas da pauta direitista do Congresso e de parte da
sociedade — aprovação da legalidade da terceirização de atividades-fim
pelas empresas; cortes drásticos em programas sociais como Bolsa Família
e encerramento de outros programas; cortes ainda mais severos nos
orçamentos da Educação e Saúde; revisão do Mais Médicos; fim do regime
de partilha e da política de conteúdo nacional da Petrobras; aprovação
de uma “reforma política” que só atenda aos interesses dos partidos
direitistas, com a manutenção da legalidade das doações de empresas às
campanhas eleitorais e aos partidos; diminuição da maioridade penal etc.
— terão enormes chances de serem aprovadas pelos parlamentares, sem o
anteparo de um governo eleito com o apoio da maior parte dos setores de
esquerda, centro-esquerda e movimentos sociais.
E que, apesar de cada vez mais acossado pelos setores de direita, sabe
que não pode virar as costas, completamente, aos seus eleitores.
Se a presidente Dilma Rousseff for derrubada — não acredito que ela renuncie —, avalio que o retrocesso será inevitável.
Como é mais do que evidente, é cristalino, não é o desejo de moralizar a
política brasileira que está em questão nas ameaças golpistas — a
defesa da manutenção das doações de empresas às campanhas e aos
partidos, por parte das oposições de direita a Dilma e ao PT, demonstra
isso claramente. O que está em pauta é, sim, uma ampla e profunda agenda
de retrocessos sociais.
Em razão disso, penso que a resistência ao golpe é necessária.
Além, é claro, da defesa fundamental e imprescindível dos princípios democráticos.
? Kátia Gerab Baggio é professora de História das Américas na UFMG.
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