É papel de um jornal dar ultimato a um governo?
Escrito por: Brasil 247
247 – Imagine o que aconteceria se Rupert Murdoch, dono do Wall Street
Journal, resolvesse dar um ultimato público ao presidente dos Estados
Unidos, Barack Obama? Ou você faz o que eu mando, Obama, ou pula fora da
Casa Branca – não, apesar de toda a fortuna e o poder de que dispõe,
nem Murdoch chegaria a tanto.
Porém, guardadas as proporções, foi isso o que fez o empresário Otávio
Frias Filho, um dos donos da Folha de S. Paulo, ao publicar, neste
domingo, um editorial que "concede" a Dilma aquela que seria sua "última
chance" de se manter no cargo para o qual foi eleita com 54 milhões de
votos.
No texto, Frias Filho, que não teve nenhum voto, dá diversas ordens a Dilma:
– Medidas extremas precisam ser tomadas...
– Cortes nos gastos terão que ser feitos com radicalidade sem precedentes...
– A contenção de despesas deve se concentrar em benefícios perdulários da Previdência...
– As circunstâncias dramáticas também demandam um desobrigação parcial e
temporária dos gastos compulsórios em saúde e educação...
Entre outras medidas, o dono da Folha exige ainda a contenção dos
salários dos servidores públicos, num pacote que prevê a redução
drástica do Estado brasileiro – em especial dos seus gastos sociais.
Sem entrar no mérito do diagnóstico da Folha, o que aconteceria com a
presidente Dilma se não seguisse as ordens ditadas da Avenida Barão de
Limeira, no centro de São Paulo, onde está a sede do jornal?
"Serão imensas, escusado dizer, as resistências da sociedade, a
iniciativas desse tipo. O país, contudo, não tem escolha. A presidente
Dilma Rousseff tampouco: não lhe restará, caso se dobre sob o peso da
crise, senão abandonar suas responsabilidades presidenciais e,
eventualmente, o cargo que ocupa", diz Frias Filho.
Ou seja: ou Dilma aceita ser sequestrada pela agenda econômica da Folha
de S. Paulo ou o jornal apoiará sua deposição – ainda que ela tenha
sido eleita, de forma legítima, há menos de um ano.
Nada mal para um jornal que ainda não curou as feridas de um passado
ainda recente, quando apoiou a ditadura militar não apenas em seus
editoriais, mas também emprestando veículos para a repressão.
Aparentemente, Dilma ainda não se rendeu. Na reunião ministerial de
ontem, determinou cortes entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões no
orçamento federal – muito pouco para saciar a fome da Folha. E pode até
ser que o editorial deste domingo tenha efeito inverso ao desejado por
quem o redigiu.
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