Nelson Barbosa é janela de oportunidade da retomada do crescimento e do fim do impeachment, por J. Carlos de Assis
Por J. Carlos de Assis*
As decepções com as decisões de política econômica no Governo Dilma tem
sido tão agudas nos últimos tempos que muitos de nós, que nos
identificamos com o pensamento desenvolvimentista, reagimos com grande
ceticismo à troca dos ministros Joaquim Levy por Nélson Barbosa. Eu
próprio, quando me perguntaram a respeito, disse que era trocar seis por
meia dúzia. A razão disso é que, na estrutura ministerial brasileira,
Planejamento e Fazenda formam uma equipe, ou deveriam formá-la, embora
com hegemonia inconteste da Fazenda.
Entretanto, um ministro quase subordinado, como Barbosa no Planejamento,
pode ser muito diferente de um ministro hegemônico, como Barbosa na
nova estrutura. Portanto, convoco meus colegas progressistas a dar um
voto de confiança a Nélson Barbosa. Ele pode, sim, iniciar um processo
de deslocamento de uma política econômica regressiva, responsável pelo
que virá a ser uma contração do PIB de quase 5% este ano, para uma
política de arrancada do crescimento, desde que mande ao diabo os
preconceitos neoliberais sobre a questão fiscal.
A saída que temos para a retomada do desenvolvimento passa por alguns
movimentos cruciais na política econômica, todos perfeitamente alinhados
com um projeto de governo efetivamente responsável perante a sociedade
no que diz respeito, sobretudo, à retomada e proteção do emprego e do
crescimento. É o tripé virtuoso, não o tripé da imbecilidade neoliberal.
Começa pela redução rápida e progressiva da taxa de juros, implicando
queda do déficit nominal. Com isso, abre-se espaço para o aumento do
déficit primário financiar o investimento, o que é fundamental para a
recuperação do PIB e do emprego.
Três movimentos, portanto: redução da taxa de juros, redução do déficit
nominal, aumento do superávit primário. Esse tripé da virtude, como
dito, possibilita a queda da dívida pública, o aumento do investimento e
dos gastos públicos reais (inclusive na recuperação da Petrobrás e da
cadeia produtiva do petróleo), os quais possibilitam, por sua vez,
aumento da demanda efetiva para o setor privado, que assim pode retomar
seus próprios investimentos. A política de Levy aumentou a taxa de
juros, aumentou o déficit nominal, aumentou a dívida pública… para nada.
Pior, com isso jogou a economia numa depressão sem precedentes.
Veremos o que Nélson Barbosa vai fazer. O que não se pode é achar de
antemão que vai manter a política fracassada de seu antecessor. Se
mantiver, seu reinado será curto. Empresários e trabalhadores, com o
compromisso assinado no início de dezembro em São Paulo, mais os autores
das manifestações do último dia 17 e nós, que estamos acompanhando o
senador Roberto Requião na Aliança pelo Brasil, deixamos muito claro que
somos contra o impeachment, porém somos também radicalmente contra a
política econômica que vinha sendo adotada.
A mudança ministerial criou uma oportunidade para o Governo liquidar com
a tosca estratégia ensaiada pelo PSDB e pelo DEM na busca do
impeachment. Seus planos era esgotar o Governo em sua capacidade de
tomar iniciativas. Com Levy na Fazenda, estava garantido que nada
aconteceria de bom nos próximos meses. Portanto, quanto mais longo fosse
se arrastando o processo de impeachment, mais fracassos o Governo
acumularia em sua gestão, e mais chances os oposicionistas radicais
teriam para ganhar o impeachment. Essa manobra anti-povo e anti-pátria,
essencialmente golpista, veio abaixo com a saída de Levy e o
deslocamento de Barbosa para a Fazenda.
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