quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

POLÍTICA - Fascismo presente.

Fascismo presente e sua dimensão psicossocial, por Arnóbio Rocha
O Jornal de todos Brasis
F

Do blog de Arnóbio Rocha
O Fascismo é, antes de tudo, um estado de espírito (ou de ânimo), ele é, primeiro, emocional, está no inconsciente, ali meio escondido, sempre ameaçando se revelar, nos denunciar, está presente nas nossas conversas privadas quando falamos de sexualidade, futebol ou religião, ou quando nos acerbamos nas relações conflituosos de uma sociedade cada vez mais paranoica, em especial nas redes sociais em que os baixos instintos prevalecem, em detrimento da lógica e da razão.
O Fascismo se instaura lentamente, ganhando corpo e almas, aos poucos, não é uma coisa imediata, é resultado de um estado de coisas. Mais precisamente ele explode e se torna força social viva e visível nas crises econômicas, pois essas elevam o nível de frustrações pessoais e as ambições (pessoais ou coletivas) deixam de ser satisfeitas ou ficam distantes de serem atendidas.
 
A luta pela sobrevivência ou a selvageria causada por ela, vai elevando aos pícaros as nossas mazelas humanas, coletivamente (na sociedade) não se enxerga qualquer saída, o passo natural seguinte é crescer nossa revolta e nosso sentimento beligerante se acentuar. Wilhelm Reich,  médico, psicanalista e cientista social, talvez tenha sido quem mais compreendeu a gênese e desenvolvimento da “mente fascista”.
 
Reich tem uma definição clássico do Fascismo que, segundo ele, é “a expressão da estrutura irracional do caráter do homem médio, cujas necessidades biológicas primárias e cujos impulsos têm sido reprimidos há milênios”. Enquanto nossas satisfações pessoais estão sendo atendidas, o “monstro” vai sendo relevado, escondido ou adormecido.
 
Leio constantemente nas redes sociais  algo como se o fascismo estivesse para ser instalado no Brasil, aqui entendido como regime político ditatorial de extrema-direita. Tenho uma discordância quanto à questão estrutural da instalação, mas, ao mesmo tempo, afirmo que nós já vivemos psicologicamente e socialmente o fascismo, que, por enquanto, não se instaurou como regime político de poder.
 
As relevantes manifestações de jundo de 2013 foram um ensaio coletivo, uma catarse do que estava por vir , aliás em julho de 2013, ainda no calor das “massas”, publiquei um artigo sobre o tema “A Psicologia de Massas do Fascimo – Ou, o Gigante Acordou”, ali já alertava que “o fenômeno do Fascismo, de como surge e suas principais características, em particular a catarse de massas, de movimento contra tudo e todos, que esconde um profundo reacionarismo político”.
 
O resultado eleitoral posterior foi desigual e incompleto em relação aos desejos do movimento de junho de 2013, se por um lado conseguiu eleger majoritariamente o pior congresso nacional em décadas. Em outra mão e, contraditoriamente, Dilma Rousseff se reelegeu, houve uma sobrevida do PT, o que parecia impossível diante do que se gestou e do que se colheu no parlamento.
 
A conta não bate, a leva reacionária não se fez ouvir por completo, então passa a questionar e não aceitar o que saiu das urnas, este é o embate. A contradição se deu na estrutura econômica, incerta, mas o avanço da crise 2.0 no Brasil passou a cobrar a fatura explicitamente, exigindo a ruptura irracional, através de qualquer golpe possível.
 
Quando o processo de fascistização psicológico e social se torna majoritário e bestial, a comoção fascista justifica e legaliza qualquer ação, ainda que racionalmente seja repudiável, que em sã consciência jamais se tentaria esse caminho, como, por exemplo, o rompimento com a democracia, ainda que ela se apresente como democracia formal.
 
Esse é o nosso drama, potencializado pelas redes sociais, o embrutecimento parece completo, não se consegue mais qualquer debate honesto e mesmo os mais simples, a radicalização em forma de adjetivos pejorativos, sem base ou consistência, venceu a argumentação substantiva. Avança escandalosamente pela sociedade a ignorância, o “baixo clero” e o desvalor humano, presa fácil nos momentos de crise e torpor.
 
Ainda segundo, Reich, “O fascismo só pode ser vencido se for enfrentado de modo objetivo e prático, com um conhecimento bem fundamentado dos problemas da vida.” Basta lembrar que a culta e racional sociedade alemã se deixou levar pelo fascismo, as razões de fundo são brilhantemente analisadas por Reich, o que demonstra que não há nada de novo ou inovador na revolta do “Gigante” dos “bem informados”, “plugados”, as questões são bem mais irracionais e perversas, mas é preciso ler o Todo e entender as Partes do problema.
 
Portanto não adianta vociferar de forma estéril contra queda de governo, fim da democracia, pois o gene do mal já deu cria, a sociedade está muito doente, sem remédio aparente para curá-la. Aqui não se trata de falar que escrevi antes, ou que avisei etc. Isso não vale nada, mas sim saber por qual razão não temos diálogo e repercussão diante da tragédia que ameaça a todos nós.
 
Ainda teremos tempo de deter o caos?

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