Ricardo Kotscho.
No meu primeiro dia de férias, já estou de volta para não deixar passar em branco o que aconteceu com Chico Buarque, na madrugada de segunda-feira, ao sair de um restaurante numa rua do Leblon, bairro carioca onde ele mora. Não poderia haver cena mais emblemática como fecho para o Fla-Flu insano que marcou este ano de 2015 do que o entrevero verbal entre um dos nossos maiores artistas e o patético grupo de manés, herdeiros daquilo que restou da elite da outrora Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil.
Basta ver quem se achou no direito de partir para cima de Chico no meio da rua com ofensas motivadas pelas suas opções políticas: o filho de um ex-playboy, filho de um ex-magnata da ex-elite que ainda não se conforma com o resultado das urnas, além do ex-namorado de uma atriz global e outros não identificados.
Junto com o nosso preclaro compositor, cantor e escritor, reconhecido no mundo inteiro, estavam os cineastas Cacá Diegues, Rui Solberg e Miguel Faria Jr., além do jornalista e escritor Eric Nepomuceno.
Do outro lado da rua, um desses ex-alguma coisa, já meio borracho, atirou primeiro: "Você é um merda! Quem apoia o PT o que é?". Sem se alterar, Chico respondeu-lhe sorrindo: "É um petista". E o cara insistiu: "É um merda!".
Fosse eu, dava-lhe logo um tabefe ou ia embora deixando o bebum falando sozinho, que é o que se deve fazer nessas horas, mas, como podemos ver no documentário "Chico _ Artista Brasileiro", o cidadão Chico Buarque de Holanda é um cavalheiro distinto, sempre na dele, de bem com a vida, um sujeito que gosta mesmo é de falar de futebol e tocar seu violão.
Conheci-o assim, nós dois ainda adolescentes, nos campinhos do Colégio Santa Cruz, em São Paulo, onde a gente passava mais tempo jogando bola do que estudando _ e ele não mudou depois de ficar famoso. Desde os tempos em que fazia canções censuradas pela ditadura militar, que ele combatia só no gogó, obrigando-o a dar um tempo no exílio, Chico sempre falou o que pensa sem pedir licença, mas nunca foi de entrar em bola dividida.
Veio outro mané e insistiu em tirá-lo do sério, o que sempre foi difícil. "O PT é bandido!". Chico não se deu por vencido: "Pois acho que o PSDB é bandido, e agora?" E ainda deu um conselho ao rapaz: "Procure se informar melhor porque com base na `Veja´você não vai chegar muito longe".
Num vídeo divulgado primeiro no site "Glamurama", da Joyce Pascovitch, que depois viralizou na internet, dá para ouvir mais um boyzinho tentando desafiar o artista: "Para você que mora em Paris, é fácil...". Desta vez, pelo menos, ninguém o mandou para Cuba, uma das "ofensas" mais comuns dos marchadeiros da avenida Paulista.
Pelo que conheço dele, Chico deve ter se divertido com tudo isso, mas é triste viver num País em que não se respeita a opinião alheia e os argumentos se limitam a agressões gratuitas. As baixarias que se multiplicam por toda parte não dão descanso nem na semana do Natal, bem no dia em que eu estava saindo de férias.
Agora é para valer: até janeiro, meus caros amigos do Balaio.
Vida que segue.
2015 acaba com Chico Buarque X Manés da
No meu primeiro dia de férias, já estou de volta para não deixar passar em branco o que aconteceu com Chico Buarque, na madrugada de segunda-feira, ao sair de um restaurante numa rua do Leblon, bairro carioca onde ele mora. Não poderia haver cena mais emblemática como fecho para o Fla-Flu insano que marcou este ano de 2015 do que o entrevero verbal entre um dos nossos maiores artistas e o patético grupo de manés, herdeiros daquilo que restou da elite da outrora Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil.
Basta ver quem se achou no direito de partir para cima de Chico no meio da rua com ofensas motivadas pelas suas opções políticas: o filho de um ex-playboy, filho de um ex-magnata da ex-elite que ainda não se conforma com o resultado das urnas, além do ex-namorado de uma atriz global e outros não identificados.
Junto com o nosso preclaro compositor, cantor e escritor, reconhecido no mundo inteiro, estavam os cineastas Cacá Diegues, Rui Solberg e Miguel Faria Jr., além do jornalista e escritor Eric Nepomuceno.
Do outro lado da rua, um desses ex-alguma coisa, já meio borracho, atirou primeiro: "Você é um merda! Quem apoia o PT o que é?". Sem se alterar, Chico respondeu-lhe sorrindo: "É um petista". E o cara insistiu: "É um merda!".
Fosse eu, dava-lhe logo um tabefe ou ia embora deixando o bebum falando sozinho, que é o que se deve fazer nessas horas, mas, como podemos ver no documentário "Chico _ Artista Brasileiro", o cidadão Chico Buarque de Holanda é um cavalheiro distinto, sempre na dele, de bem com a vida, um sujeito que gosta mesmo é de falar de futebol e tocar seu violão.
Conheci-o assim, nós dois ainda adolescentes, nos campinhos do Colégio Santa Cruz, em São Paulo, onde a gente passava mais tempo jogando bola do que estudando _ e ele não mudou depois de ficar famoso. Desde os tempos em que fazia canções censuradas pela ditadura militar, que ele combatia só no gogó, obrigando-o a dar um tempo no exílio, Chico sempre falou o que pensa sem pedir licença, mas nunca foi de entrar em bola dividida.
Veio outro mané e insistiu em tirá-lo do sério, o que sempre foi difícil. "O PT é bandido!". Chico não se deu por vencido: "Pois acho que o PSDB é bandido, e agora?" E ainda deu um conselho ao rapaz: "Procure se informar melhor porque com base na `Veja´você não vai chegar muito longe".
Num vídeo divulgado primeiro no site "Glamurama", da Joyce Pascovitch, que depois viralizou na internet, dá para ouvir mais um boyzinho tentando desafiar o artista: "Para você que mora em Paris, é fácil...". Desta vez, pelo menos, ninguém o mandou para Cuba, uma das "ofensas" mais comuns dos marchadeiros da avenida Paulista.
Pelo que conheço dele, Chico deve ter se divertido com tudo isso, mas é triste viver num País em que não se respeita a opinião alheia e os argumentos se limitam a agressões gratuitas. As baixarias que se multiplicam por toda parte não dão descanso nem na semana do Natal, bem no dia em que eu estava saindo de férias.
Agora é para valer: até janeiro, meus caros amigos do Balaio.
Vida que segue.
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