Ricardo Paes de Barros tornou-se o maior especialista brasileiro em políticas sociais bem antes do governo Lula. Economista do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) era o principal nome do “focalismo”, uma linha que pretende estudar estatisticamente a miséria, a fim de focalizar os esforços nos segmentos mais vulneráveis.
Não era poupado pelos chamados desenvolvimentistas que julgavam que os “focalistas” ou estigmatizariam grupos, ao segregar os pobres entre os pobres, ou impediriam as políticas sociais universalistas.
Com a falta de vontade do governo FHC em implementar políticas sociais abrangentes, coube a Paes de Barros exercitar seu conhecimento em consultoria para pequenos países da América Central.
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Quando assumiu o Bolsa Família, Patrus Ananias nem quis saber dessas quizílias acadêmicas. Convocou Paes de Barros para se juntar ao grupo. Nasceu dessa junção um programa que se tornou referência mundial.
Paes de Barros continuou sendo um ícone do liberalismo. A ponto do Insper tirá-lo do serviço público e contratá-lo para ser seu professor.
Ontem, Paes de Barros foi o entrevistado do Brasilianas, o programa que apresento na TV Brasil. Explicou o Bolsa Família, discorreu sobre questões sociais, enfatizou os princípios básicos de uma democracia social, de permitir a todos igualdade no começo da partida, acesso às mesmas escolas e universidades, os pobres não pagando e os ricos pagando.
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Até que a conversa transbordou para o governo Dilma Rousseff.
Indaguei do Brasil Sem Miséria, o programa destinado a se transformar na vitrine social de Dilma. Na opinião de Paes de Barros trata-se de um dos mais avançados programas sociais já implementados.
O programa visou alcançar os bolsões de miséria, localizados nos cafundós do país, da Amazônia aos pampas. Localizados esses grupos recebem o Bolsa Família como ponto de partida. Mais que isso, montou-se uma comissão interministerial destinada a prover os desassistidos do Brasil sem Miséria de todos os instrumentos de cidadania, dos documentos a cursos profissionalizantes.
Sobre esses grupos atua o Ministério da Educação com o Pronatec, o do Desenvolvimento Social com o financiamento à agricultura familiar, a Embrapa ajudando no treinamento agrícola, o Banco do Brasil entrando com o Pronaf (Programa de Financiamento da Agricultura Familiar), a Agricultura adquirindo a produção para merenda escolar, o de Minas e Energia garantindo Luz Para Todos..
É um desenho inédito que teve a inspiração e o comando de Dilma Rousseff, ancorada em políticas sociais desenvolvidas no período Lula.
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Seu depoimento é relevante para colocar alguns pingos nos iis.
O início do primeiro governo Dilma foi exemplar, passando a sensação de que Lula havia acertado na escolha. Houve programas bem desenhados e tocados, como o próprio Brasil sem Miséria, o Fies, de financiamento escolar, o Ciência Sem Fronteira, os programas de Ciências e Tecnologia, como a Embrapii.
Havia foco e ousadia.
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A perda de rumo ocorreu depois, quando a crise internacional passou a derrubar a atividade econômica e Dilma foi na conversa de Alexandre Tombini, o presidente do Banco Central, de que era imprescindível elevar os juros devido à iminente elevação dos juros norte-americanos, um cenário que até hoje não se concretizou.
Foi como uma onda que balança o navio e deixa o comandante atordoado. Quando sinalizou a elevação de juros, interrompeu abruptamente toda a reciclagem da poupança que começava a se direcionar para investimentos de longo prazo. Houve um refluxo da atividade interna levando a presidente à sucessão de medidas desastrosas que acabaram explodindo em 2015.
Que não se generalize, portanto. Os dois primeiros anos mostraram uma Dilma que poderia ter acontecido.
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