Diante de um mal maior, por Luiz Carlos Bresser-Pereira
Em novembro do
ano passado a nação descobriu, surpresa, que o senador Delcídio Amaral
estava diretamente envolvido na corrupção envolvendo a Petrobrás e
tentara impedir as investigações. Foi preso, e ficou desmoralizado.
Hoje, no quadro do sistema infame de "vazamentos" promovidos pela
operação Lava Jato, uma revista transcreve trechos de uma delação
premiada desse senhor com acusações pesadas contra Dilma e Lula. Desta
maneira, ele tenta reduzir a pena que certamente lhe será infligida pela
Justiça. Como a cidadania deve olhar esse vazamento e seu conteúdo? A
meu ver, com indignação.
Mas as elites brasileiras e, em particular, as elites rentistas e
financistas, estão confusas. Deram uma guinada para a direita e
colocaram como seu objetivo maior "salvar o Brasi" do PT, de Dilma e de
Lula. Um pouco, devido aos erros que cometeram; muito, porque eles não
se deixaram cooptar. Dado esse objetivo, que é transparente, essa elite é
receptiva a qualquer acusação, a qualquer suspeita, que, imediatamente,
faz a Bolsa de Valores cair, como caiu ontem. Delcídio sabe disto, e,
para ter sua delação aceita pelo Judiciário, resolveu jogar tudo contra a
presidente e o ex-presidente. Ele, hoje, desautorizou a revista, porque
"o combinado" era que a delação só se tornaria pública seis meses mais
tarde. Tornada pública agora, não vejo como o Congresso não cassará seu
mandato.
Vivemos um momento em que promotores e um juiz parecem querer não deixar
pedra sobre pedra no Brasil em nome de um moralismo radical. Contando
com o apoio de uma classe média que guinou para direita e trocou a
política pelo ódio. E com o apoio de políticos oportunistas e
irresponsáveis, como Aécio Neves e Eduardo Cunha. Neste quadro, o único
poder que está incólume é o do STF. Que provavelmente não homologará
essa delação. O Executivo e o Legislativo estão sendo violentamente
atacados. O Legislativo está especialmente vulnerável. Mas não devemos
subestimar a qualidade cívica dos brasileiros e de seus políticos, e sua
capacidade de reagir ao que está ocorrendo.
A operação Lava Jato está indo longe demais. Está violentando os
direitos civis dos cidadãos - de políticos e empresários - ao promover o
vazamentos de meras suspeitas que são transformadas em denúncias, e ao
realizar prisões preventivas sem que haja necessidade - apenas para
forçar delações. A Constituição brasileira afirma que "ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória". Este é um princípio fundamental que está sendo violentado
pela combinação de ódio, moralismo e oportunismo.
Toda essa violência, além de implicar grandes prejuízos cívicos, implica
prejuízos econômicos. Como é possível enfrentar os problemas econômicos
graves que o Brasil enfrenta neste quadro institucional e político?
Muitos querem derrubar o governo para "resolver" o problema. Mas não é
através da violência e do desrespeito ao sistema constitucional de
governo que existe no Brasil que se resolverá a violência que estamos
vivendo.
Diante da crise econômica e moral, é preciso que nos unamos. Que se leve
adiante o julgamento dos réus já definidos pela Operação Lava Jato, mas
que se encerrem os vazamentos e as denúncias irresponsáveis. Diante da
crise econômica, é preciso que os brasileiros deixem de lado o ódio e se
voltem para a política; é preciso que deixem de se tratar como inimigos
e se tratem como adversários, que, diante de um mal maior, provam serem
capazes de se somar para enfrentá-lo e resolvê-lo.
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