Dilma lembra ditadura ao criticar fim do MinC: “não foi uma coincidência”
"A presença da Cultura como Ministério é tão importante para a construção da nacionalidade brasileira que tem de estar refletida na hierarquia do Estado brasileiro. Isto não é apenas simbólico, mas deve refletir a prioridade que se atribui à cultura para o exercício da cidadania em nosso País. É bom lembrar que a criação do Minc foi uma das primeiras medidas depois da conquista das eleições diretas para a Presidência da República. Isso não foi uma coincidência. O fim da ditadura foi um período que permitiu ao País voltar a sonhar com mais liberdades, com a melhoria da qualidade de vida. O desenvolvimento cultural foi uma das grandes marcas desse período. Por isso, agora, não é coincidência que a primeira medida do governo provisório seja a extinção do Ministério da Cultura. É como se eles quisessem voltar ao passado autoritário", declarou a presidente afastada, ao lado do ex-ministro da Cultura, Juca Ferreira, em uma dura crítica à extinção da pasta pelo governo interino de Michel Temer; afirmação foi feita em evento ao vivo no Facebook, em que Dilma conversa com internautas
19 de Maio de 2016 às 11:56
"A presença da Cultura como Ministério é tão importante para a construção da nacionalidade brasileira que tem de estar refletida na hierarquia do Estado brasileiro. Isto não é apenas simbólico, mas deve refletir a prioridade que se atribui à cultura para o exercício da cidadania em nosso País. É bom lembrar que a criação do Minc foi uma das primeiras medidas depois da conquista das eleições diretas para a Presidência da República. Isso não foi uma coincidência. O fim da ditadura foi um período que permitiu ao País voltar a sonhar com mais liberdades, com a melhoria da qualidade de vida. O desenvolvimento cultural foi uma das grandes marcas desse período. Por isso, agora, não é coincidência que a primeira medida do governo provisório seja a extinção do Ministério da Cultura. É como se eles quisessem voltar ao passado autoritário", declarou Dilma.
"Uma secretaria nacional de Cultura não tem a capacidade de atender às demandas e necessidades culturais da população. Não tem a estrutura necessária para atuar, levando em conta a amplitude, a complexidade e a diversidade cultural brasileira. O MinC trabalha com a preservação do patrimônio, o fortalecimento da diversidade cultural das manifestações regionais, tradicionais e contemporâneas, o fomento e incentivo às artes e a regulação. Esta última questão implica na formulação de leis para criar o ambiente favorável ao desenvolvimento cultural. Por exemplo, a legislação de proteção ao direito autoral. A construção desse conjunto de políticas, programas e ações exige uma estrutura capaz de dialogar com o conjunto da sociedade, com o meio cultural, artistas, produtores, e assim formular as políticas necessárias e incrementá-las", concluiu a presidente.
Em outra afirmação, em resposta a uma pergunta sobre a recusa de cinco mulheres para assumir a Secretaria da Cultura no governo Temer, Dilma fez novas críticas: "Acredito que as mulheres não querem ser tratadas como um fetiche decorativo. Ao contrário do que alguns pensam, as mulheres têm apurado senso crítico e, por isso, são muito sensíveis a todas as tentativas de uso indevido da sua condição feminina. As mulheres brasileiras são trabalhadoras, profissionais dedicadas, lutam pelo seu espaço e têm plena consciência de seus direitos. Tenho certeza que a razão das recusas está na qualidade da consciência de gênero que nós adquirimos durante todos esses anos de luta contra o preconceito".
Confira outras respostas de Dilma e Juca Ferreira aos internautas:
Manoel Fernandes Filho Fernandes - continuar com este ministério comprometeria o orçamento da União?
Dilma Rousseff Manoel, de jeito nenhum! O orçamento do Ministério da Cultura é irrisório em termos absolutos e se a gente compara com o Orçamento Geral da União, menos de 1%. E o que esses investimentos trazem de benefícios: fortalecimento da coesão social, melhoria da qualidade de vida, redução da violência, capacitação da sociedade para resolver os grandes desafios do século XXI, satisfação da condição humana dos brasileiros e brasileiras, e o desenvolvimento de economias importantes. Um País das dimensões do Brasil não pode ter sua economia dependendo da exportação de commodities agrícolas e minerais. É preciso desenvolver economias de grande valor agregado, como é o caso das economias culturais, criativas ou simbólicas. Com o apoio do Estado brasileiro, através do governo federal, estamos transformando a economia do cinema e do audiovisual em superavitária. O golpe em marcha ameaça o próximo passo desse processo, que é transformar a economia da música do Brasil no próximo setor a se tornar superavitário. Portanto, essa propalada economia com o corte do Ministério da Cultura é pura demagogia. Um abraço!
Edyvan Fernando - Presidenta, muitas pessoas acreditam que o Ministério da Cultura serve apenas aos artistas. Deixando de lado todo o trabalho que envolve o patrimônio histórico e artístico nacional, como o belíssimo trabalho desenvolvido pelo IPHAN. Quais são os possíveis riscos que estão sujeitos estes trabalhos com este governo interino?
Dilma Rousseff Edyvan, é um equivoco achar que o MinC trabalha apenas com as artes e os artistas. Desde 2003, quando o presidente Lula foi eleito pela primeira vez e o ministro Gilberto Gil foi nomeado, o Ministério da Cultura passou a trabalhar com o conceito ampliado de cultura, incorporando a amplitude da dimensão simbólica do país. Passamos a nos responsabilizar por todas as manifestações e processos culturais em todo o território nacional, surgindo daí uma quantidade enorme de editais para fomentar e incentivar essas atividades. E criamos os pontos de cultura, hoje reconhecidos e louvados internacionalmente. Assumimos a importância da cultura dos povos indígenas e a responsabilidade do Estado brasileiro em apoiar a preservação das suas tradições culturais, incluindo suas línguas e empoderá-los para uma relação saudável com a sociedade como um todo. Assumimos uma agenda emergente do século XXI e possibilitamos que o Brasil cresça com o desenvolvimento tecnológico e a difusão da digitalização. Temos avançado na regulação do ambiente cultural, trabalhando conjuntamente com o Congresso. O primeiro risco é a perda de importância da área cultural com transformação do Ministério em Secretaria, já respondida acima. Segundo, é a perda de capacidade administrativa e, igualmente importante, a Cultura deixar de ser vista como um direito básico da população em geral. Abraço!
Murilo Alves Pereira - Senhora presidente, senhor ministro. Gostaria que os senhores comentassem sobre as acusações que os investimentos em cultura no País seguem projetos cuja linha tenha uma tendência mais de esquerda? Um abraço e obrigado.
Dilma Rousseff Murilo, não sei de onde vem essa informação. Talvez da manipulação feita pela grande imprensa quando trata das questões ligadas à cultura e ao governo eleito. Por exemplo, na política de patrimônio, lidamos com a memória artística material e imaterial, nossos museus preservam traços das artes e da cultura brasileira, sem distinção política e ideológica. As iniciativas culturais e artísticas da população, que são fomentadas pelo programa Cultura Viva, são manifestações tradicionais e contemporâneas, dando conta da diversidade cultural brasileira. Nada tem de partidarizado. As linhas de fomento e incentivo às artes, cinema, teatro, dança, são feitas sem nenhuma orientação ideológica ou política, baseada em critérios artísticos e culturais. Um abraço!
Aparecido Marden - Dilma, nós que moramos nas pequenas cidades não temos uma visão da realidade cultural no Brasil. Como seu governo viabilizou a inclusão das pequenas cidades no MinC? Uma vez que só os grandes centros são beneficiados. #VoltaDilma
Dilma Rousseff Aparecido, uma parte importante dos programas e projetos culturais do MinC é exatamente para disponibilizar meios e recursos para fortalecer a produção cultural em todo o território brasileiro. Visite o site do MinC, enquanto é tempo, e você constatara a quantidade de ações, projetos , programas e políticas voltadas para o desenvolvimento cultural fora dos grandes centros. Um abraço.
Francisco Rivero Plástico-Peintre - Sr. Ministro, como fica a politica voltada para os pontos de cultura, e atenção a cultura no interior do Brasil ?
Dilma Rousseff Francisco, os pontos de cultura certamente sofrerão algum tipo de ataque ou de redução da sua importância na política cultural do governo. Hoje, trabalhamos com projetos e ações ligadas à cultura tradicional, pontos de cultura indígenas, pontos de cultura urbanos, periféricos, das tribos contemporâneas nas grandes cidades, nas cidades de médio e pequeno porte, nos assentamentos rurais e nas aldeias indígenas. Não acredito que um governo conservador, regressivo e ilegítimo, como esse que está tentando se consolidar, tenha a grandeza para compreender a importância desse conjunto de iniciativas culturais da própria população. Um abraço!
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