A CPI do Cachoeira está apenas no início e já ganha o troféu
de a mais inusitada dos últimos anos. A cada dia, confirma a antiga sabedoria
mineira a respeito da política.
É como as nuvens: você olha e vê uma coisa;
olha de novo e tudo mudou.
Foi assim desde o começo.
Quem acompanhava o noticiário estava convencido
de que a CPI era uma invenção de Lula. Embora ninguém soubesse com certeza o que
ele queria, havia quase um consenso a respeito de suas intenções: usá-la contra
antigos - e novos - desafetos.
Não só, mas principalmente para atingir Marconi
Perillo. (Consta que ele nunca teria perdoado o governador de Goiás por tê-lo
acusado, em 2005, de nada ter feito quando o informou sobre o mensalão.)
Era, nessa altura, a CPI do Acerto de
Contas.
Os comentaristas de nossa imprensa estavam
perplexos. Não havia precedente de uma CPI - arma tradicionalmente usada pelas
oposições para atacar o governo - patrocinada pelo partido que está no poder.
Sem ter outra coisa para dizer, puseram-se a repetir a verdade acaciana: “Todos
sabem como começa, mas ninguém como termina uma CPI”.
Quando as lideranças da oposição perceberam que
ela seria mesmo realizada, correram para estar na foto de comemoração da
instalação. Isso tranquilizou os analistas, que logo formularam a hipótese de
que Lula, no afã de prejudicar os oponentes, havia cometido uma ingenuidade: o
feitiço ia se virar contra o feiticeiro.
A comissão mudou de nome. Passou a ser a CPI do
Juízo Final.
Daí, alguém achou que havia descoberto a
verdade. Lula tinha, de fato, segundas intenções e não temia perder o controle
da CPI. O que ele queria era servir-se dela para desviar a atenção do Supremo
Tribunal Federal. Atrapalhar o julgamento do mensalão.
A suposição é tosca, mas teve larga circulação.
Só poderia acreditar nela quem possui péssima imagem dos ministros do STF e
imagina que julgam ao sabor das circunstâncias, de acordo com o que leem no
jornal. Nem por isso, no entanto, deixou de ser reproduzida mil vezes, como se
fosse uma descoberta extraordinária.
Já então, a CPI recebeu o terceiro batismo: era
a CPI da Cortina de Fumaça.
Na semana que passou, a confusão aumentou. As
reviravoltas se sucederam diariamente.
Começou com o primeiro depoimento que colheu,
do delegado da Polícia Federal responsável pela investigação da Operação Vega –
o ponto de partida da história inteira.
A parte relevante foi quando ele disse que o
inquérito havia sido concluído e encaminhado à Procuradoria Geral da República
em 2009. Uma dúvida ficou no ar: por que só em 2012 ela o remeteu ao
Supremo?
Se a tese da “cortina de fumaça” fizesse
sentido, a questão seria ainda mais intrigante. E conduziria a outras
perguntas.
Será que o retardo - que fez com que as
denúncias viessem à tona justo na véspera do julgamento do mensalão -
significaria que o procurador-geral estava mancomunado com alguém? Será que
queria melar o mensalão? Afinal, não foi de sua ação - ou omissão - que resultou
que acontecessem ao mesmo tempo?
Logo que escutaram as declarações do delegado,
vários membros da Comissão entenderam que precisavam ouvir o procurador. Os que
primeiro se manifestaram foram parlamentares do PSOL e do DEM.
Isso não o perturbou. Afirmou que não iria e
que quem o criticava eram os “que estão morrendo de medo do julgamento do
mensalão”.
Como? Se foi ele quem criou as condições para
que o caso fosse utilizado como “cortina de fumaça”, o revelando agora? Como, se
quem saiu à frente para convocá-lo foram políticos que nada têm a ver com o
julgamento?
Será que a CPI precisa trocar, outra vez, o
nome (que tal CPI das Piruetas da Lógica)?
Ou é melhor ficar como CPI do Cachoeira, uma
oportunidade para que discutamos políticos, empresários, jornalistas,
magistrados e procuradores?
Marcos
Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox
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