sexta-feira, 18 de maio de 2012

POLÍTICA - O bacalhau com Dilma e Lula entre amigos.

Do blog do Ricardo Kotsho.



Hadad ExPres Lula Pres Dilma CAPA 1024x601 O bacalhau com Dilma e Lula entre amigos
Se não fosse pela presença de alguns homens vestidos de preto, em pé, no fundo do salão, seguranças da Presidência da República, e fotógrafos à porta, quem entrasse para almoçar nesta sexta-feira no restaurante Bacalhau, Vinho & Cia, na Barra Funda, em São Paulo, poderia pensar que se tratava apenas de uma confraternização entre amigos às vésperas do fim de semana.
E era isso mesmo, com o detalhe de que estavam à mesa grande, frente a frente, traçando um belo bacalhau a doré com alho e legumes, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, ao lado de ministros, prefeitos e velhos companheiros petistas, reunidos em torno do ex-ministro Fernando Haddad, o candidato do partido em São Paulo.
A iniciativa foi de Lula, que aproveitou uma vinda de Dilma a São Paulo, para ver a exposição de Candido Portinari no Memorial da América Latina, ali ao lado do restaurante, e depois fazer uma visita a D. Paulo Evaristo Arns, na semana em que foi instalada a Comissão da Verdade, para sinalizar a entrada dos dois na campanha de Haddad.
Pela primeira vez desde a posse de Dilma, presidente e ex-presidente se encontraram para almoçar juntos no restaurante que Lula frequentava durante a campanha presidencial de 1994, quando o seu comitê funcionava na mesma rua.
Lula tinha acordado bem cedo para fazer mais uma bateria de exames, a partir das 6 horas da manhã, no Hospital Sírio-Libanês, e os primeiros resultados o deixaram bem tranquilo. Embora ainda não esteja 100% em forma, queixando-se de algumas sequelas do tratamento contra o câncer na laringe, o ex-presidente está louco para entrar em campo na campanha eleitoral.
Dividido entre a necessidade de cuidar da saúde e a vontade de ajudar seu candidato a desencantar dos 3% nas pesquisas, Lula permaneceu um tempão em pé conversando com amigos ao lado de Haddad, e de sua mulher, Ana Estela. Na hora marcada, pouco depois da uma da tarde, foi com o casal Haddad e Marisa esperar Dilma à porta do restaurante.
Apesar da movimentação de assessores e seguranças quando Dilma e Lula caminharam até a mesa, a freguesia que lotava o restaurante continuou almoçando tranquilamente, como se fosse a coisa mais normal do mundo encontrar os dois por lá numa sexta-feira. Poucos se levantaram das mesas para pedir um autógrafo ou tirar foto ao lado deles, tudo muito civilizado.
A cena me deu uma sensação de normalidade da vida, do sentimento entre iguais numa democracia vitoriosa, conquistada a duras penas por gente como estes dois brasileiros que governam o país faz quase uma década.
Acompanhada de três ministros, Aloizio Mercadante, Gilberto Carvalho e Helena Chagas, a presidente mostrava-se bem à vontade e feliz naquele ambiente, cercada de amigos, e até aceitou uma taça do vinho verde Alvarinho. Lula só tomou água.
Difícil saber o que estava melhor, se o bolinho de bacalhau ou a alheira frita servidos de entrada, mas todos elogiaram bastante o bacalhau, que foi oferecido pela família dos proprietários deste antigo restaurante, orgulhosos de receber tão ilustres fregueses em sua casa.
A um canto da mesa, ao lado da ministra Helena Chagas, Maria Inês Nassif e Clara Ant, assessoras de Lula, não ouvi as conversas da presidente — e se as tivesse ouvido não poderia contar, porque também estava ali como amigo, e não repórter. Havia alguns colegas jornalistas na entrada do salão, mas todos respeitaram a hora do almoço da presidente, que chegou e saiu sem dar entrevistas.
Do restaurante, Lula e Dilma foram juntos ver as obras de Portinari no Memorial da América Latina. A presidente ainda faria uma visita a D. Paulo Evaristo Arns num convento em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, onde ele vive desde que foi aposentado como cardeal arcebispo de São Paulo.
Dilma fez questão de marcar esta visita a D. Paulo, mentor e editor responsável, junto com o pastor Jaime Whright, do livro Brasil Nunca Mais, o mais completo relato sobre vítimas de torturas e agentes torturadores durante o regime militar, um trabalho do qual participei, que certamente servirá de base para os trabalhos dos membros da Comissão da Verdade, empossados pela presidente esta semana.
Para quem gosta do Brasil e da vida, esta foi uma bela e intensa semana, destas que a gente não esquecerá tão cedo.

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