sexta-feira, 1 de agosto de 2014

GEOPOLÍTICA - O cerco a Rússia.

Para entender bloqueios e sanções dos EUA e Europa contra a Rússia




A ampliação das sanções públicas aplicadas pelos Estados Unidos e União Europeia (UE) contra a Rússia, anunciadas neste meio de semana pelo presidente Barack Obama, têm caráter e objetivo duplos. Visam pressionar o presidente russo, Vladimir Putin, a aceitar o status-quo imposto à Ucrânia pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e pelos países europeus e, com um segundo objetivo mais dissimulado, impedir o desenvolvimento independente da Rússia, que ela se consolide e se estabilize não apenas como uma potência nuclear e militar, mas também econômica e tecnológica.
Este é o real e duplo objetivo da ampliação das sanções anteriores, que já vinham sendo aplicadas contra Moscou. Articuladas, aliás, com a participação pública e direta dos governos e das embaixadas da Alemanha e da Polônia – as mais ativas nessa empreitada – e do próprio secretário de Estado americano, John Kerry, na insurreição em Kiev que derrubou em maio pp. o governo pró-Rússia, constitucional e legitimamente eleito na Ucrânia.
Querem, também, impedir a consolidação e estabilização do governo Putim e de sua visão do papel que ele e seu país têm na Europa e na Ásia, nos Balcãs e no Oriente Médio. Assim, o objetivo, ainda que dissimulado, é evitar que a Rússia se consolide e se estabilize não apenas como uma potência nuclear e militar, mas econômica e tecnológica.
Objetivo é estrangular financeiramente a Rússia
Daí mais essa tentativa de estrangular financeiramente a Rússia,  através sanções a seus bancos e do bloqueio de seu acesso a tecnologias. Dessa forma esperam atingir e inviabilizar ou enfraquecer sua indústria de petróleo (inclusive a nascente, de gás de folhelhos e de xisto), de armas e de alta tecnologia.
Nem sempre a UE segue a política externa norte-americana, mas no caso e situação de agora, os dois têm interesses comuns. Até pelas relações de dependência da primeira do gás russo, e dos interesses comerciais de ambos com Moscou.
Por isso querem impedir, em definitivo, que a Rússia exerça liderança e alcance de novo o status da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).  Da mesma forma se explicam as pressões de Washington sobre os países europeus (como a Bulgária, para impedir a construção de um gasoduto alternativo ao que atravessa a Ucrânia), e as desencadeadas contra outros países para diminuírem o comércio e as relações com a Rússia – como comprova a questão iraniana.
Moscou pode e deve evitar que prevaleça a hegemonia americana
Mas, a Rússia pode e deve jogar um papel que evite a hegemonia norte-americana e sua supremacia colocadas a serviço de seus interesses econômicos e diplomáticos. Um papel que evite as guerras localizadas e as intervenções sem aval e aprovação da ONU em diferentes países e nações, como fazem os EUA e como assistimos na última década, todas fracassadas – Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, todos hoje em estado  de guerra civil e desagregação.
Com matizes e formas diferentes, o que assistimos na Ucrânia ou na Líbia, no Iraque ou na  Síria – como no passado vimos no Chile e mesmo no Brasil – são intervenções políticas e militares dos EUA para, sob argumentos humanitários e o pretexto de defender a democracia e a civilização ocidental,  impor o império do capital.
É por tudo isso que os EUA, aliados e o governo que montaram e sustentam em Kiev se recusam a discutir e a aceitar a única saída para o impasse na Ucrânia: a criação de uma federação com regiões autônomas, como chegou a propor a chanceler alemã Ângela Merkel no início da crise.
É por isso que, depois de realizarem nova eleição presidencial neste meio de ano, os partidos de direita e extrema-direita que assumiram o poder na Ucrânia romperam a coalizão e o governo convocou eleições de novo para o Parlamento. Mas, sem os comunistas e seus partidos, representantes das regiões de maioria russa que, assim, correm o risco de serem excluídas das listas para as eleições.

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