Dilma e a superação da síndrome das medidas heroicas
Luis Nassif, GGN
"Há dois fantasmas assombrando o mercado: o risco de desequilíbrio fiscal e a impulsividade da presidente Dilma Rousseff.
O desequilíbrio fiscal resolve-se com um plano exequível e gradativo de recomposição das contas públicas. A impulsividade se controla com um plano exequível e gradativo. São dois coelhos com uma só cajadada de um plano exequível e gradativo
Os balões que vêm de Brasília, indicando a iminência de um choque fiscal, logo após o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) cometer a temeridade de aumentar a Selic com a economia patinando, transformarão os fantasmas em assombrações. Pode ser apenas um desses balões que precisam ser empinados para suprir a falta de emoções que se sucede ao final de cada eleição.
Mas o que menos o país necessita, agora, são planos heroicos.
No início de seu primeiro governo, Dilma adotou medidas heroicas contra a inflação, um conjunto das chamadas medidas prudenciais que derrubaram a economia, sem derrubar a inflação.
No meio do seu governo, adotou um conjunto de medidas heroicas para recuperar a economia. Não recuperou a economia e desarrumou as contas públicas.
Anunciar um choque fiscal em um quadro de quase recessão e apontar para um superávit irrealista seria o caminho mais curto para desmoralizar seu segundo mandato.
As agências de rating e o mercado não esperam (nem acreditam) em choques com resultados imediatos. O que reverte expectativas negativas são planos bem elaborados que indiquem uma trajetória realista para as contas públicas, ainda que demore dois anos para os objetivos serem alcançados; e, especialmente, que apontem para uma política econômica consistente, lógica, que não dê margem para improvisos e golpes heroicos.
Dilma recebeu, das urnas, a segunda e última grande oportunidade de fazer um grande governo.
Nessa hora, é preciso prudência, definir a próxima equipe econômica, mergulhar em um plano exequível, exaustivamente discutido – inclusive com outras áreas, para minimizar ao máximo os efeitos deletérios dos cortes. E planejar seu lançamento com pompa, circunstância e racionalidade.
O segundo governo dará a oportunidade para Dilma entrar para o quadro das grandes estadistas mulheres do milênio. Ou não."
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