POLÍTICA - Mais do que nunca dado o ódio anti PT, Dilma precisa da ajuda do Lula.
Seja ou não candidato do PT para 2018, convém que Lula esteja mais presente na retaguarda da presidenta reeleita
por Mino Carta
Ao entrevistar a presidenta Dilma
no domingo 19 de outubro, eu a percebi serena e firme, solitária,
contudo, como que perdida naquele imenso Alvorada. Confesso que Brasília
me assusta com seus cenários stalinistas-mussolinianos, fruto de uma
arquitetura que repele o ser humano, de sorte a isolar cada um em
perfeita solidão, mesmo sem dar-se conta deste triste destino.
Reencontrei a presidenta no vídeo,
na noite do domingo seguinte, 26, a celebrar a vitória
recém-conquistada. Desapareceu a impressão de uma semana antes. Firme,
serena, e algo mais, decisivo: a consciência da liderança. E ouvi um
discurso de estadista. Não pratico a retórica, apenas a sinceridade.
Muito me tocaram as duas
referências emocionadas que do palco Dilma fez a Lula, cujo desempenho
na fase final da campanha foi determinante. Creio que a estreita
parceria Dilma-Lula nos próximos quatro anos será garantia de êxito, a
despeito das dificuldades previsíveis, ao menos na primeira metade do
segundo mandato. Geradas tanto pela crise internacional quanto pela
situação interna.
Desde a eleição de 2010 até hoje, a
discrição do criador em relação à criatura ficou patente aos olhos de
todos. Como se o antecessor quisesse deixar a ribalta toda para a
sucessora. Não é por acaso que, a partir de 2011, Lula não comparece às
festas anuais de CartaCapital, bem como de muitos outros eventos nos
quais Dilma surge como personagem principal.
Neste segundo mandato da
presidenta, tendo a imaginar que as coisas mudem, a permitir que o
extraordinário talento político do ex-presidente aproveite ao previsível
empenho na recuperação dos esquecidos e ainda atuais ideais petistas e,
em geral, na prática do diálogo proposto por Dilma. Abertura em todas
as direções, em busca de um consenso o mais amplo possível.
Minhas dúvidas dizem respeito ao
fanatismo do Apocalipse que se estabeleceu nos mais diversos recantos
oposicionistas com o apoio frenético da mídia nativa, entregue, até o
último instante, à manobra golpista. Esta animosidade feroz conspirou
contra a razão, com o nítido resultado de precipitar um tsunami de
mentiras e sandices já bem antes do início da campanha eleitoral.
Nunca imaginei que lá pelas tantas
recordaria o professor Alexandre Correia. Da boca dele ouvi o ditame
intransponível do direito da sua especialidade, o romano: in dubio pro
reo. Não há acusação alguma de todas as formuladas pela oposição contra o
governo, amparada em provas, inclusive aquelas surgidas das delações
premiadas. Trata-se de um processo em andamento com desfecho previsível a
médio ou longo prazo. O professor Alexandre, bianco per antico pelo,
como diria Dante, ficaria pasmo. E este é apenas um dos exemplos da
delirante precipitação oposicionista, alimentada, sobretudo, pelo ódio
de classe.
Temo aqui um possível complicador
para a ação de um governo que propõe não somente o diálogo, mas também a
participação popular por vias diretas. Tudo quanto favorece a
democracia apavora a casa-grande. De todo modo, é também por sua
capacidade de mediação que Lula é importante na busca da aproximação aos
habitantes da área do privilégio. O ex-presidente tem uma tradição como
conciliador de interesses aparentemente díspares que vai desde a
presidência do sindicato até a Presidência da República.
Não sei se Lula, ao contrário do
que divulga impávido um jornalão, pretende ser candidato em 2018. Soa
hoje como solução natural e ideal para o PT. Resta ver se ele quer, e
como decorrerão os próximos quatro anos. Seria este, em todo caso, um
excelente motivo para que Lula estivesse mais presente na retaguarda da
presidenta reeleita.
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