Sem provas e sem delação para incriminar Lula, MP ameaça com prisão
Há muito tempo temos apontado que parte dos investigadores da Operação Lava Jato, que tem o juiz Sérgio Moro como responsável, usa da premissa de primeiro apontar o criminoso e depois definir o crime que ele cometeu. Outra denúncia feita por diversos juristas, inclusive do Supremo Tribunal Federal, diz respeito ao abuso das prisões preventivas como forma de promover delações.
Por Dayane Santos
Reprodução
No "Ctrl C e Ctrl V", jornais repetiram manchetes nesta quarta (1º)
Nesta quarta-feira (1º), os principais jornais da grande imprensa do país repetiram suas manchetes com o título: “Delação de sócio da OAS trava após ele inocentar Lula”. Isso porque a negociação de delação premiada de Léo Pinheiro, ex-presidente e sócio da OAS condenado a 16 anos de prisão, travou porque o empreiteiro não disse o que os investigadores queriam ouvir.
As declarações de Pinheiro desmontam a tese apresentada pelos investigadores e insuflada pela grande mídia durante meses de que as obras que a OAS fez no apartamento tríplex do Guarujá (SP) e no sítio de Atibaia (SP) foram fruto da corrupção e tráfico de influência.
De acordo com o empreiteiro, que está preso, as obras foram uma tentativa de agradar o ex-presidente Lula, e não contrapartidas a algum benefício que o grupo tenha recebido. Mas para os procuradores, como disse a Folha de S. Paulo, “a versão é considerada pouco crível” e o empreiteiro pretenderia “preservar Lula com a sua narrativa”.
No entanto, se as provas dissessem o contrário, tal afirmação poderia ser contestada. A verdade é que nem os procuradores nem os investigadores têm prova para contestar tal fato. Ao contrário. Em vários trechos dos grampos feitos contra o ex-presidente Lula, ele reafirma que não é dono do sítio e nem do tríplex.
Em uma conversa grampeada por Moro, Lula é enfático:
“Porque veja, eu quero, eu tô vivendo uma situação de anormalidade, ou seja, esses caras podem investigar minha conta na casa do caralho, que não vão encontrar um centavo. Esses caras sabem que eu não tenho apartamento, esses caras sabem que eu não tenho a chácara, esses caras sabem que não só eu fiz muita palestra, como eu fui o mais bem pago conferencista do começo século 21. Só eu e o Clinton... Eu não sei se o Stiglitz depois, sabe? Agora se o cidadão começa a levantar suspeita de tudo isso, eu quero ver como é que eles vão provar que eu tenho uma chácara, como é eles vão provar que eu tenho um apartamento. Porque alguém vai ter que pagar ‘pra mim ter’. Porque eu não posso ter, sem pagar...”
Segundo os jornais que tiveram acesso exclusivo à delação, Pinheiro contou que Lula não teve qualquer papel na reforma do apartamento e nas obras do sítio. Como Lula já havia afirmado em vários depoimentos prestados, Pinheiro declarou que a reforma do sítio foi solicitada em 2010, no último ano do governo Lula, por Paulo Okamotto, que preside o Instituto Lula. Okamotto confirmou à PF que foi ele quem pediu as obras no sítio.
Já a reforma no tríplex do Guarujá foi uma iniciativa da OAS para agradar o ex-presidente, mas Lula e sua família não se interessaram pelo imóvel.Léo Pinheiro começou a negociar acordo de delação em março, mas como o seu depoimento não agradou os investigadores, não há perspectivas de que a delação seja firmada, ou seja, vão deixar o empreiteiro mais tempo na prisão.
A Folha de S. Paulo, assim como outros jornais, afirma ainda que a OAS e Odebrecht “disputam uma corrida para selar o acordo de delação”. A frase solta abre espaço para várias interpretações, mas no final da matéria vem a explicação: “Os procuradores da Lava Jato em Curitiba e Brasília adotaram uma estratégia para buscar extrair o máximo de informação da Odebrecht e OAS: dizem que só vão fechar acordo com uma das empresas. E, neste momento, a Odebrecht está à frente, segundo procuradores”.
Percebe-se que a disputa não é para procurar a verdade, mas de quem diz o que eles querem que seja dito em troca da libertação ou redução de pena.
Vale lembrar que em trechos vazados há alguns meses – também com exclusividade da grande mídia – da pré-delação de Léo Pinheiro dava conta de propinas na construção da Cidade Administrativa de Minas Gerais, nos governos tucanos de Aécio Neves e Antonio Anastasia. Disso, nada mais vazou até agora.
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