domingo, 28 de novembro de 2021

O ovo da serpente brasileiro.

 

O ovo da serpente brasileiro. Por Rudá Ricci

 
Veja Moro e Bolsonaro
Sérgio Moro e Jair Bolsonaro. Foto: Carolina Antunes/PR

O cientista político Rudá Ricci publica no DCM as primeiras nove páginas de seu novo livro sobre a ascensão da extrema direita no Brasil e na Europa. É o início do capítulo referente ao Brasil. Leia.

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Das movimentações do empresariado à consolidação da extrema-direita como campo político nacional

1.     O espectro do nazismo ronda o Brasil

Numa manhã do dia 22 de novembro de 2021, durante conversa com apoiadores no que se convencionou denominar jocosamente de “cercadinho”, em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro comentou, aparentemente como sendo um tema pueril, que é difícil adotar modelo educacional de Hitler no Brasil[1].

O comentário se referia a uma pergunta de um apoiador que estava presente naquela manhã despretensiosa, aparentando ter sido uma combinação entre presidente e apoiador:

“A gente via que Hitler trabalhava muito com as crianças. Nosso Ministério da Educação já poderia estar fazendo também um trabalho com as crianças de conscientização?”

A conversa procurava entabular uma divagação sobre a doutrinação nazista que havia iniciado na década de 1920, na busca de recrutamento do Partido Nazista junto aos jovens alemães. Procurava, assim, transmitir a mensagem de que o partido era um espaço jovem, marcado pela energia de transformação e afirmação da juventude. Uma década depois, a Juventude Hitlerista contava com 50 mil membros, no final de 1933, passou a contar com 2 milhões de participantes e em 1937, saltou para 5,4 milhões. Em 1939 a associação de jovens à Juventude Hitlerista passou a ser obrigatória.

No Terceiro Reich, a educação serviu para doutrinar os alunos que enaltecia os povos nórdicos e as raças arianas, em contraposição às “raças bastardas”.

Em 1936, 97% dos professores das escolas públicas (300 mil educadores) já haviam se filiado à Liga de Professores Nacional-Socialistas.

Nas salas de aula, o currículo focalizava na formação racista e fanática à liderança nazista, o que incluía a disposição do sacrifício pelo Führer e pela nação alemã[2].

Era a este modelo de educação que a aparentemente ingênua troca de palavras entre Jair Bolsonaro e um apoiador se referia.

Bolsonaro reclamou da letargia do Ministério da Educação brasileiro, classificado por ele como “transatlântico” que não serviria “para dar um cavalo de pau”.

E, emendou:

“Eu gostaria de imediatamente botar educação moral e cívica, um montão de coisas lá, coisas que são boas. Eu ouvi outro dia, tive o saco de ouvir, uns 10 minutos, duas mulheres… podia ser dois homens… mas que não sabiam nada. Elas não sabiam nem o que era Poder Executivo… coisas absurdas que são comuns”[3].

Não foi, evidentemente, uma conversa sem qualquer intencionalidade ou uma prosa entre amigos que se encontram na sala de estar de suas residências. Ali estava uma das expressões mais nítidas do ideário do presidente da República que transita entre elementos nazistas (de exaltação da eliminação das forças oposicionistas e desqualificação das instituições de controle democrático do país ou até mesmo da divisão de poderes sugerida como estrutura de instituições independes que constituía em freios e contrapesos para evitar a instalação de tiranias), elementos fascistas (de intimidação de pensamentos e ideários distintos do bloco no poder que assume o controle político do Estado) e elementos de valorização da agenda de costumes tradicionais (em especial, valorização da família como elemento básico de ordem, respeito e dignidade humana)[4].

E não foi um ato isolado. O então secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, chegou a citar trechos de uma fala do ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, em pronunciamento realizado em 16 de janeiro de 2020. Nas palavras de Alvim:

“A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional, será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo – ou então não será nada”.

Esta passagem guarda semelhança com o discurso de Goebbels realizado em 8 de maio de 1933, no hotel Kaiserhof, em Berlim, para diretores de teatro[5].

O próprio presidente tem um histórico de relacionamentos com forças neonazistas espalhadas pelo mundo. Este é o caso do seu encontro com Beatrix von Storch, neta do ministro das Finanças de Adolf Hitler, Lutz Graf Schwerin von Krosigk. Betrix é líder do partido nacionalista-conservador Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) e chegou a propor, em 2016, que a polícia alemã abrisse fogo contra imigrantes, incluindo mulheres e crianças, que tentassem entrar ilegalmente na Alemanha. Na entrevista que se seguiu ao excêntrico convescote, Betrix sustentou: “Para enfrentar com êxito a esquerda, os conservadores também precisam se conectar melhor internacionalmente. O Brasil é uma potência emergente e, além dos Estados Unidos e da Rússia, pode ser um parceiro estratégico global que nos permita construir o futuro juntos”.

Às críticas que se multiplicaram após a reunião, Jair Bolsonaro comentou: “Ao contrário do que diz a imprensa, ele é humilde, amável e bem humorado no trato pessoal.”

A antropóloga da UNICAMP Adriana Dias localizou provas do envolvimento antigo de Jair Bolsonaro com forças neonazistas, desde quando era um desconhecido deputado federal pelo Rio de Janeiro. Três sites neonazistas estamparam a foto de Bolsonaro – com link que leva diretamente ao site que o político mantinha na época – e uma carta em que o então deputado federal afirmava: “Ao término de mais um ano de trabalho, dirijo-me aos prezados internautas com o propósito de desejar-lhes felicidades por ocasião das datas festivas que se aproximam, votos ostensivos aos familiares”. E, completava: “Todo retorno que tenho dos comunicados se transforma em estímulo ao meu trabalho. Vocês são a razão da existência do meu mandato.”[6]

Vários conteúdos deste ideário de extrema-direita povoaram governos brasileiros, mas nunca de maneira tão nítida. O inusitado, ainda, está na configuração da expressão de uma cultura de massas, envolvendo, segundo algumas pesquisas recentes, ao redor de 20 milhões de brasileiros.

A definição da gênese da extrema-direita brasileira é matéria controversa no debate político e é ainda uma nebulosa nos ensaios acadêmicos.

Não se trata de uma mera herança dos traços autoritários da cultura política nacional ou mesmo da cultura estamental que povoa as mentes das elites nacionais. Possivelmente caudatário dos traços desumanos dos 350 anos de escravagismo sádico revestido como base do sistema econômico pré-republicano que se expressou em vários momentos da história republicana, como em vários traços do Estado Novo e certamente na caça sanguinária à esquerda e lideranças populares progressistas durante o regime militar advindo do golpe militar de 1964.

Entretanto, a extrema-direita como força política organizada e pública, que se estabelece nas praças públicas e em todo território nacional, como movimento de massas cujos apelos histriônicos e fanáticos reverberaram até mesmo em segmentos sociais marginalizados e desprestigiados, somente aparece nitidamente neste século XXI no Brasil.

O debate político no campo progressista brasileiro – que envolve os campos de esquerda, centro-esquerda e forças democráticas e/ou humanistas – gravita ao redor de uma periodicidade que se inicia com as manifestações juvenis de junho de 2013. Este livro não se alinha a esta tese. Ao contrário, nas próximas páginas, sustenta-se a tese que a extrema-direita brasileira é fruto de três ondas que se sobrepõem. Tudo parece se articular a partir dos embates travados na Assembleia Nacional Constituinte de 1987, como reação empresarial e militar ao processo de redemocratização brasileira que poderia fugir dos parâmetros restritos formulados pelo pacto de elites forjado durante o governo Ernesto Geisel[7].

As três ondas foram:

  1. A articulação empresarial (tendo como eixo os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul) que vai se constituindo a partir de 1987 e que nos anos seguintes transitará da agenda neoliberal apoiada no Consenso de Washington – e o propalado Estado Mínimo – para uma agenda mais ofensiva de captura do Estado e dos fundos públicos. Nessa passagem, são criados vários think tanks e estruturas organizacionais de articulação política do alto empresariado brasileiro (como o Instituto Atlântico, Institutos Liberais e Instituto Millenium, dentre outros); financiamento de grupos juvenis (como o Movimento Brasil Livre), recrutamento de estudantes universitários e financiamento e promoção de mobilizações de rua com o claro objetivo de desestabilizar a ordem democrática. A captura do Estado envolveu a combinação de financiamento de candidaturas ao Congresso Nacional, definição de agenda de reformas estruturais a ser adotada pelas bancadas financiadas e eleitas por eles e uma obstinada militância na indicação de ministros (em especial, na área econômica) e secretários estaduais de governo (em especial, na área educacional);
  2. A articulação jurídico-midiática que se estruturou ao redor da Operação Lava Jato e que já se desenhava desde 2004 atingiu seu ápice em 2015. Um processo seletivo de atuação do judiciário e Ministério Público Federal à semelhança do macartismo norte-americano da década de 1950. A ofensiva institucional foi desarticulada a partir de 8 de março de 2021 por inciativas do Supremo Tribunal Federal[8], mas já havia deitado raízes sobre parte da opinião pública e criado uma motivação aos setores de extrema-esquerda ainda atomizados;
  3. A campanha eleitoral de Jair Bolsonaro à Presidência da República, em 2018, e suas articulações políticas com igrejas e setores das forças repressivas e militarizadas do país após sua posse, no período 2019-2021. Este foi o momento de constituição de uma força político-eleitoral de extrema-direita que vários institutos de pesquisa sugeriram envolver entre 8 e 12% da população adulta nacional (entre 12 milhões e 17 milhões de eleitores) declaradamente portadora de valores que rejeitam a ordem democrática.

As três ondas mudaram, ainda que lentamente, o ideário e a cultura política do Brasil, mudança que alcançou setores populares do país.

Relatório do Instituto internacional pela democracia e assistência eleitoral (Idea) –  The Global State of Democracy Report 2021 – revelou que o Brasil apresentou o maior número de “indicadores democráticos” em queda em 2020, entre as nações analisadas[9].

O relatório sustenta que no início do século XXI, o Brasil apresentou evolução nos indicadores democráticos, mas a partir de 2013, houve forte inflexão, quando começou “a tomar forma no país como resultado de uma queda constante e prolongada de quase todos os indicadores, que se exacerbou especialmente nos últimos dois anos”, contextualiza o relatório. Em 2016, o Brasil começou a “transitar por um processo de retrocesso democrático que ainda não foi concluído”.

O documento apresenta, ainda, uma perspectiva alarmante: a possível irreversibilidade desta inflexão: “os constantes ataques contra os meios de comunicação e a independência da Justiça mostram a recrudescência do retrocesso democrático”[10].

O Brasil apresentou recuo, em especial, nos indicadores relativos aos direitos fundamentais (acesso à justiça, liberdades civis – expressão, associação e reunião, religião, movimento, integridade e segurança pessoal -, igualdade social e igualdade de gênero) e administração imparcial (ausência de corrupção e aplicação de recursos).

O cenário de decadência democrática repercutiu sobre os valores políticos da sociedade como um todo.

Pesquisa realizada em agosto de 2021 pelo instituto Genial/Quaest indicava que o eleitorado brasileiro que apresentava inclinação à apoiar o presidente Jair Bolsonaro (oscilando entre 20% a 25% do eleitorado nacional) apresentava valores comportamentais mais conservadores (porte de arma individual, certa rejeição ao movimento feminista e ao aborto, rejeição ao currículo escolar que inclua debates sobre sexualidade, incômodo com demonstrações de afeto homoafetivo), embora valorize a intervenção estatal para garantir serviços básicos e condições sociais de vida.

Com efeito, estudos e pesquisas recentes indicam uma tendência da população média brasileira em valorizar a família e os círculos sociais mais próximos, no que Richard Sennett denominou de “ideologia da intimidade”[11].

Num livro publicado em 2010, os cientistas políticos Bolivar Lamounier e Amaury de Souza debruçaram sobre uma ampla pesquisa nacional encomendada ao Instituto IBOPE e, naquela altura, já se percebia um processo de quebra de confiança social – ou societal – e valorização dos agrupamentos mais íntimos. Com efeito, observam que 85% da população brasileira confia na sua família e apenas 43% nos amigos, sendo que a confiança nos amigos cai para 38% no caso dos brasileiros mais pobres (classificados como Classe E neste estudo)[12].

A série histórica de pesquisas realizadas pelo instituto Data Favela corrobora o estudo de Lamounier e Souza. Na primeira versão da série que resultou num livro de 2014[13], percebeu-se que 80% dos moradores das favelas brasileiras sustentavam que sua vida melhorou durante a última década – 2004-2014 – em função da graça divina, do esforço próprio e da ajuda de sua família. Apenas 4% citavam políticas públicas.

O antropólogo Juliano Spyer, em sua pesquisa realizada junto à população evangélica parece apresentar uma possível explicação a respeito da centralidade da família como elemento agregador e orientador da ação social das populações mais pobres do país[14].

Spyer sustenta que há um descompasso recente entre as lideranças políticas do país e as visões do povo brasileiro – não necessariamente do evangélico – e que se relaciona com o peso da família no seu ideário social e político[15]. Em suas palavras o valor familiar:

“(…) está muito associado à imensa quantidade de brasileiros de origem rural que transformaram o Brasil de um país 70% rural para 80% urbano, ao migrarem em massa para as cidades no século 20. A maior parte das pessoas vem desse fenômeno e traz consigo uma visão familiar com valores muito tradicionais de respeito e de obediência.”

Respeito e obediência se relacionam diretamente á segurança e apoio familiar, em especial, objetivado na figura da mãe. Aqui parece haver um caminho interpretativo para entendermos a redenção – ou atalho para a expiação de culpas ou erros cometidos ao longo da vida – que deságua na valorização da ordem e do comportamento social marcado pela não-transgressão. Não se trata exatamente da inexistência de transgressões na vida dessa população, mas da subjetividade marcada pela imagem da ordem-família que possibilita a expiação e o retorno ao caminho do reconhecimento e da estabilidade. Afinal, mesmo sob o pecado ou erro comportamental, a família se apresentou como esteio.

Os valores conservadores em termos comportamentais e a defesa dos serviços estatais que garantem direitos sociais se articulam nesta frase de Spyer:

“ (…) se eu pensar no mundo evangélico como uma plateia de mil pessoas e perguntar “quem aqui é a favor do aborto?”, três pessoas levantarão a mão. Se eu perguntar quem é a favor das drogas, umas quatro ou cinco. Mas se eu perguntar “quem é a favor de uma escola de melhor qualidade?”, deverei ter 60%. “Quem é a favor da proteção das florestas?”, umas 30% ou 40%. (…) Isso não tem a ver com evangélico. Isso tem a ver com o preconceito de classe que as camadas médias e altas têm em relação ao pobre.(…) Na conversão, ele ganha a oportunidade de começar do zero: ele pode ser quem ele quiser e entende que não é melhor nem pior do que ninguém. Não quer ser comandado nem aceita ser paternalizado. ”

A ascensão da extrema-direita brasileira soube navegar sobre essas águas turvas, sobre esse chão da cultura popular que se forjou nos últimos anos como um mosaico de influências e valores.

Vejamos a gênese dessa organização de extrema-direita e como ela se articulou, ao longo do século XXI, com tais valores populares.

2.     O marco inicial: a articulação dos empresários na Constituinte de 1987

2013 não significou o início desta vaga extremista e nem mesmo inflou um movimento que foi se constituindo ao longo de quatro décadas, sofrendo inflexões e reorientações a cada momento mais aguda, mais transgressora e agressiva, articulando setores empresariais e militares, a despeito de certa tentativa de periodização disseminada nas redes sociais brasileiras. Este tema, e sugestões de periodização da gênese do ideário contemporâneo de extrema-direita no Brasil, será objeto de análise mais adiante.

[1] Ver “Bolsonaro reclama da dificuldade em adotar modelo educacional de Hitler no Brasil”,  Catraca Livre, 22/11/2021. Disponível em https://catracalivre.com.br/cidadania/bolsonaro-reclama-dificil-adotar-modelo-educacional-hitler-brasil/ (visualizado em 27/11/2021).

[2] Ver “Doutrinando a Juventude” publicada no Dicionário do Holocausto. Disponível em   https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/indoctrinating-youth (visualizado em 21/11/2021). O culto à personalidade era um elemento central na doutrinação nazista junto aos jovens o que incluía comemorações no dia 20 de abril, aniversário de Hitler. Não se tratava apenas de doutrinação, mas de recrutamento e organização juvenil, tendo a “Juventude Hitlerista” (porta de entrada para a formação paramilitar) e a “Liga das Meninas Alemãs” como entidades de referência. Até 1939, 765.000 jovens ocuparam cargos de liderança nas organizações de jovens nazistas.

[3] Jair Bolsonaro se referia, possivelmente, à conversa pública entre a cantora Anitta e a advogada e comentarista Gabriela Prioli que, numa sequência de lives, discutiram a dinâmica política. Nessas lives, Anitta apresentava suas dúvidas de maneira aberta e franca, muitas vezes, demonstrando certa confusão entre os cargos públicos e estrutura federativa da organização política-administrativa do país. As lives ganharam o título de “aulas de política”. Para quem desejar assistir uma dessas “aulas de  política”, acesse  https://www.youtube.com/watch?v=V0rIr8Bdz3g .

[4] O tradicionalismo no ideário político conservador contemporâneo transita entre os conceitos formulados por Edmund Burke – para quem seria necessário preservar as normas já testadas pelo mundo – René Guénon – ex-católico, ex-maçom, convertido ao islamismo sufista e opunha à modernidade Ocidental e à ciência –  e o italiano Julius Evola – racista, misógino e ligado ao fascismo de Mussolini. Gerald Brant, executivo do mercado financeiro e diretor de uma empresa de investimentos nos Estados Unidos fez parte do staff informal do então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo e manteve fortes ligações com Trump e a linhagem tradicionalista. O tradicionalismo contemporâneo envolve, ainda, extremistas da AltRight, nacionalistas brancos (White Nationalists), membros da Ku Klux Klan e neonazistas, expoentes como Daniel Friberg (Suécia) e Richard Spencer (EUA); Michael Bagley, Jason Reza Jorjani e John B. Morgan (EUA); Tibor Baranyi e Gabor Vona (Hungria) e personalidades como o armênio George Gurdjieff (1866-1949), o filósofo esotérico sufista suíço Frithjof Schouon (1907-1998) e a francesa defensora do nazismo Savitri Devi (1905-1982). Há quem cite o russo Aleksandr Dugin e o brasileiro Olavo de Carvalho como membros desta vertente política (ambos protagonizaram um debate público em 2011 e que Carvalho valorizou os valores cristãos, Israel e nacionalistas conservadores americanos, em especial, algo da cultura country ou tradicionalismo rural dos EUA Profundo). Ver LIMA, Venício. “Tradicionalismo”, 16/6/2020. Disponível em https://aterraeredonda.com.br/tradicionalismo/ (visualizado em 27/11/2021).

[5] A passagem dita por Joseph Goebbels foi: “a arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante ou não será nada”.

[6] Ver “Pesquisadora encontra carta de Bolsonaro publicada em sites neonazista em 2004”, The Intercept, 28 de Julho de 2021. Disponível em https://theintercept.com/2021/07/28/carta-bolsonaro-neonazismo/ . Visualizado em 27/11/2021.

[7] A formulação da estratégia de redemocratização, que alguns autores, como Leonel Itaussu Almeida Mello, sugeriram ser mais “liberalização” que de fato redemocratização – dado o grau de controle e inúmeros salvaguardas à tutela militar de toda ordem política nacional -, foi creditada, entre outros, ao general Golbery do Couto e Silva e à consultoria do cientista político norte-americano Samuel Huntington. Com efeito, tal formulação teve início em 1974, envolvendo apenas a cúpula militar e as elites orgânicas do regime empresarial-militar. Sobre as incertezas no processo de redemocratização, ver MOISÉS, José Álvaro, Os Brasileiros e a Democracia: bases sociopolíticas da legitimidade democrática. São Paulo: Editora Ática, 2006. Sobre o papel de Samuel Huntington na formulação do processo de redemocratização brasileira, ver SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Castelo a Tancredo. 8ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988; KUSINSKI, Bernardo. Abertura, a história de uma crise. São Paulo: Brasil debates, 1982. Samuel Huntington formulou o documento “Abordagens da descompressão política”, em 1973, que está disponível no Arquivo do CPDOC, Arquivo Paulo Nogueira Batista, Fundo Hebert José de Souza.(http://cpdoc.fgv.br/ ).

[8] Nesta data, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, considerou a 13ª Vara Federal de Curitiba, comandada pelo então juiz Sérgio Moro, incompetente para julgar os processos envolvendo o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e, em seguida, o ministro do STF Gilmar Mendes declara o juiz Moro suspeito nos julgamentos desses casos. As decisões eram resultado das publicações do noticioso The Intercept Brasil, entre junho de 2019 e março de 2021, de parte da troca de mensagens, pelo Telegram, entre o juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato. O acesso às trocas de mensagem, realizadas por Walter Delgatti Neto, revelando conluio entre o juiz e uma das partes no processo, no caso, o Ministério Público Federal (MPF), afetando todo processo em curso, envolveu sete terabytes (sugerida por Fernando Morais como algo próximo de 45 milhões de páginas de documentos) e se tornou a base para a criação da Operação Spoofing, da Polícia Federal e tomada de decisões dos ministros do STF. Ver MORAIS, Fernando. Lula: biografia. Vol. 1, São Paulo: Companhia das Letras, 2021, pp. 156-159. Antes, em 8 de novembro de 2019, Lula já havia ganhado liberdade, após 580 dias preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. A libertação de Lula ocorreu um dia após o STF ter considerado a prisão em segunda instância inconstitucional.

[9] Ver The Global State of Democracy Report 2021, disponível em https://www.idea.int/gsod/ . O relatório sugere que mais da metade das democracias na América Latina e Caribe sofrem erosão democrática, sendo que o Brasil se encontra numa situação de retrocesso democrático. Ver IDEA Internacional. “El Estado de la democracia en las Américas (2021): Democracia en tiempos de crisis, Estocolmo: Suécia, 2021.

[10] O Idea adota cinco grandes blocos de indicadores no seu estudo, a saber: a) Governos Representativos (eleições limpas, sufrágio inclusivo, partidos políticos livres e governo eleito); b) Direitos Fundamentais (acesso à justiça, liberdades civis – expressão, associação e reunião, religião, movimento, integridade e segurança pessoal -, igualdade social e igualdade de gênero); c) Engajamento Participativo (participação da sociedade civil, participação eleitoral, democracia direta e democracia local); d) Administração Imparcial (ausência de corrupção e aplicação de recursos); e) Bases Institucionais (parlamento eficaz, independência do judiciário e integridade da mídia). Além do Brasil, a Índia, os Estados Unidos, a Hungria, a Polônia e Eslovênia estão na lista de democracias que observaram recuo desses indicadores nos últimos dois anos.

[11] Ver SENNETT, Richard. O Declínio do Homem Público: as tiranias da intimidade. São Paulo: Companha das Letras, 2014.

[12] Ver LAMOUNIER, Bolivar & SOUZA, Amaury. A classe média brasileira: ambições, valores e projetos de sociedade. Rio de Janeiro/Brasília: Elsevier/CNI, 2010, pp. 106-107.

[13] Ver MEIRELLES, Renato; ATHAYDE, Celso. Um país chamado favela: a maior pesquisa já feita sobre a favela brasileira. São Paulo: Gente, 2014.

[14] SPYER, Juliano. Povo de Deus: quem são os evangélicos e por que eles importam, São Paulo: Geração Editorial, 2020.

[15] Ver entrevista de Juliano Spyer no jornal Folha de S.Paulo, edição de 30 de outubro de 2021, “Bolsonaro envergonha evangélico, mas o atrai pela defesa da família, diz antropólogo”. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/10/bolsonaro-envergonha-evangelico-mas-o-atrai-pela-defesa-da-familia-diz-antropologo.shtml (visualizado em 28/11/2021).

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