Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
PSDB sabe que Doria é um fardo, mas Eduardo Leite seria um fardo ainda mais pesado
Moisés Mendes escreve sobre a vitória de João Doria nas prévias no PSDB neste sábado. O governador de São Paulo teve 53,99% dos votos e Eduardo Leite teve 44,66%
Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia
Os tucanos já estão carregando nas costas, desde o final das prévias, um candidato pesado. Mas podem desfrutar de um consolo. Não irão carregar um fardo com toneladas de substâncias políticas bem mais tóxicas.
Eduardo Leite seria a chance de testar a possibilidade de ressurreição do PSDB, por ser uma cara nova, mas pela direita da direita do partido. O gaúcho é o novo com mais jeito de velho da política brasileira.
Os tucanos devem se lembrar de que, ao se livrarem de Leite, estão se livrando de Aécio. E que é singela a conversa de que João Doria foi uma vitória paulista. Alguém imagina que o PSDB, caindo aos pedaços, possa ser outra coisa?
Tucanos devem pensar nos significados da derrota de Aécio e do tucano gaúcho. O partido arriscou-se nas prévias a ter um candidato que foi eleitor de Bolsonaro em 2018, que nunca se arrependeu da sua escolha (ao contrário de Doria) e que passou a carregar o estigma de guri de recados de Bolsonaro, desde a revelação de que tentou, em janeiro, forçar Doria a adiar o início da vacinação.
Os tucanos devem se consolar com as atenuantes pelo delito de terem escolhido um nome que não sai dos 4% nas pesquisas, não consegue tirar vantagem do título de pai da vacina e é rejeitado pelos caciques e por boa parte do partido fora do seu território.
O delito poderia ter sido maior, se a escolha tivesse sido outra. Leite é um jovem com aparência de sobrinho arejado e de centro, mas é um conservador neoliberal de fazer inveja a idosos terrivelmente conservadores.
Leite não seria a renovação. Tem no governo cinco secretários bolsonaristas ou ligados à extrema direita. E tem uma base parlamentar pró-Bolsonaro em Brasília e fortes vínculos com o senador negacionista Luis Carlos Heinze, o homem da cloroquina e de Rancho Queimado. É um jovem do século 21 com a cabeça de um direitista da era bolsonarista.
E agora as dúvidas práticas. A turma que não queria Doria, da base não-paulista, vai se empenhar ao lado de Leite para que o governador vitorioso siga em frente na faixa da terceira via?
Qual será o tamanho da grandeza de Leite no sentido de pelo menos não atrapalhar João Doria no esforço para buscar seu espaço entre Bolsonaro, Moro e Ciro Gomes e disputar o segundo turno com Lula?
Doria é o antibolsonarista que não sabe o que isso pode significar hoje, à direita, como virtude com alguma utilidade. Seu lugar no cenário pré-2022 é um ponto de interrogação desde muito antes das prévias.
Doria é um militante ativo da direita que também pretende ser visto como de centro. E é um bacana sem conexões com o resto do país, considerando-se que o resto é tudo, menos São Paulo.
O PSDB sabe que Doria é um fardo. Mas nem tudo está perdido. Poderia estar se, já a partir de segunda-feira, o partido tivesse que sair a campo dando explicações sobre um candidato a presidente que, sob as ordens de Bolsonaro, tentou sabotar a vacinação.
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